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Galinhada de Atala termina em confusão e empurra-empurra

Na manhã seguinte, barracas de outros chefs tinham filas, cambistas e falta de comida

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
EDITOR DO “COMIDA”

Não deu. Era gente demais para os 22 chefs. Foi uma confusão só. O empurra-empurra na galinhada de Alex Atala parecia distribuição de comida em missão de ajuda humanitária durante a guerra ou depois de uma catástrofe.

Juntou a fome com a vontade de comer. Não a galinhada, aliás. Era fome de Atala.

Muita gente ali aglomerada queria é tirar fotos com o chef premiado. Sem saber nem o nome nem onde ficam os seus dois restaurantes (D.O.M. e Dalva & Dito), queriam o Atala pop star.

"Nem gosto de galinhada. Vim para vê-lo. Estou desde cedo e ele não aparece", disse a professora Ana Rodrigues.

E já comeu o que ele faz? "É uma delícia, fui naquele da rua Avanhandava [Centro]", diz o vendedor Fernando Matos. Os restaurantes do chef, no entanto, ficam nos Jardins.

Em meio à confusão, Alex Atala tentou subir o Minhocão pela alça de acesso da rua Helvétia dirigindo um Audi branco. Sem conseguir passar pela multidão, baixou o vidro, deu a volta e foi embora.

Saiu vaiado na semana em que o seu restaurante D.O.M. ganhou o prêmio de quarto melhor do mundo.

"Fiquei triste. Foi uma sequência de erros. Não tinha gás, panela, água nem energia elétrica", disse. Nas redes sociais, um protesto dos "sem galinhada" em frente ao D.O.M. estava sendo organizado ontem.

TROFÉU

Frio, o prato desagradou a quem comeu, como o pedreiro Jorge Luiz de Almeida Fernandes, ex-presidiário.

"Furei fila, mas todos fizeram o mesmo", disse, já com a embalagem branca na mão, que exibia como um troféu.

Invejosa, a turma em volta pediu para ver o que tinha dentro. Choveram fotos. "É pouca comida", reclamou ele. "Parece rango de cadeia. Sei do que estou falando", desdenhou. Ofereceu o garfo branco de plástico para outras pessoas provarem.

Na manhã seguinte, quando outros 20 chefs, como Renato Carioni, serviram quitutes a R$ 10, a confusão continuou.

Filas de uma hora e meia para tomar sopa ou comer baião de dois, fichas vendidas com ágio pelo dobro do preço por cambistas ou por quem desistia da espera, porções módicas que não matavam a fome, falta de comida. Às 13h, várias barracas já não tinham nada.

"Não aguento mais", dizia Raphael Despirite, chef do Marcel, que preparou 2.000 cachorros-quentes com queijo gruyère e mostarda Dijon.

"Tinham de aumentar o número de barracas. Cheguei às 6h15 e havia gente esperando para comer [abria às 8h]. Faltou torneira e pia. O espaço é bom, mas não dá conta", disse Carlos Ribeiro, que vendeu 2.000 pães com picadinho.

Numa cidade que baniu a comida de rua, a cozinha de grife virou desespero. Ao final, saíram todos com fome -e sem vontade de voltar.

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