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Ney Matogrosso é Bandido da Luz Vermelha

Diretora de "Luz nas Trevas" filma roteiro inacabado de Rogério Sganzerla e cria desfecho mais pacifista

Na produção que estreia hoje, Helena Ignez faz protagonista renegar história contada na produção de 1968

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DE SÃO PAULO

Um bandido foi ao cinema. Passou-se quase meio século, e ele voltou.

Quando Rogério Sganzerla (1946-2004) filmou "O Bandido da Luz Vermelha", em 1968, ele não tinha em mente uma sequência.

Era sua estreia na direção de longas e foi um sucesso, totalizando mais de 3 milhões de espectadores até hoje, em suas inúmeras exibições.

O filme já definia a estética de "cinema de invenção", com uma linguagem inovadora, terceiro-mundista e entrecortada pela realidade.

Foi só mais tarde que resolveu voltar àquela história e fazer uma adaptação.

A partir desse roteiro, estreia hoje em São Paulo "Luz nas Trevas", dirigido por sua viúva, Helena Ignez. "Só faltava o final", explica ela, que deu um tom feminino e pacifista ao desfecho.

Na nova produção, Luz (Ney Matogrosso) recusa sua história contada no longa anterior. "Não foi assim que eu ensaiei para morrer", diz ao ver na cadeia o filme protagonizado por Paulo Villaça.

É lá também que ele conhece seu filho, Jorge, que vai enveredar pelo crime e se tornar o ladrão Tudo ou Nada.

Após anos esquecido em uma prisão, Luz entende seu papel na engrenagem carcerária, percebe a podridão da sociedade e resolve fugir.

"Luz nas Trevas", diz Ignez, funciona como uma homenagem ao ícone do cinema marginal, mas "é mais para cima". "O primeiro 'Bandido' era mais pesado porque era outra época, estávamos na ditadura. Agora, busquei uma leveza, mas que mantém os diálogos contundentes."

A diretora afirma que tudo estava predeterminado no roteiro de Sganzerla. "Ele definiu, por exemplo, que o vermelho ia dominar o filme e escolheu os objetos em cena."

As coincidências foram aparecendo. "Estava no roteiro que Luz ia vestir um casaco bordado no final. O Ney [Matogrosso] chegou com aquele figurino, que era dele mesmo. Até nisso [Sganzerla] acertou no futuro", diz.

Ney conta que mergulhou no personagem e gravou sua participação em um mês.

As roupas foram importantes para definir quem era aquele novo Bandido: "Um cara que teve de fazer um exercício de introspecção e leu e estudou muito, de Baudelaire a Kant e Nietzsche".

"É impressionante como o roteiro é muito coeso e atual. Todas as maracutaias e sem-vergonhices dos políticos estão aí", diz o ator-cantor.

EM FAMÍLIA

Com orçamento de R$ 2,6 milhões, conseguidos com cinco editais públicos, o filme foi feito todo em família.

Sganzerla criou o argumento, que sua viúva dirige. Djin, sua filha, é casada com André Guerreiro Lopes e vive Jane, o amor de Tudo ou Nada.

"Mas é um papel diferente de Janete Jane, que minha mãe fez no primeiro 'Bandido'", afirma Djin. "Busquei uma forma moderna. É minha criação. O cinema está na veia, no DNA. Mas procurei fazer da minha forma pessoal. É o meu suor que está aí."

Lopes também inventou um novo anti-herói. "Tudo ou Nada é um bandido romântico. Não quer a violência. É vaidoso e está em busca só da adrenalina dos crimes."

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