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Passeio em preto e branco com o diretor

VAGUINALDO MARINHEIRO
ESPECIAL PARA A SERAFINA

Tim Burton é um cara normal ou um personagem amalucado como a maioria dos que aparecem em seus filmes? Faço minha aposta no final deste texto.

No ano passado, participei de uma visita guiada pelo diretor ao Three Mills Studio, no leste de Londres.

Na pitoresca construção de tijolos aparentes que fica numa ilhota de um dos afluentes do rio Tamisa aconteciam as filmagens de "Frankenweenie", história do próprio Burton sobre um menino que ressuscita seu cachorro após um acidente.

O primeiro "Frankenweenie", um curta-metragem, foi feito em 1984, quando ele trabalhava como animador da Disney. O tom sombrio causou sua demissão.

Éramos um grupo de jornalistas, e o cineasta parecia uma versão de Willy Wonka, que mostraria às crianças (nós) sua fantástica fábrica de chocolate (filmes).

Ele surge de calça e camisa pretas e um cachecol (branco e preto) enrolado no pescoço. O cabelo desgrenhado e a cavanhaque (meio branco, meio preto) reforçam a aparência de um velho rock star.

Burton mistura timidez (tem dificuldade de olhar nos olhos das pessoas), profissionalismo (sabe que precisa "perder tempo" e "tolerar" jornalistas para divulgar seu filme) e ansiedade (fala e anda rapidamente e pontua quase tudo com a expressão "you know?", "sabe?").

Passa de estúdio em estúdio e explica um pouco do que será seu filme mais autobiográfico. Muito de sua vida está lá: a escola onde estudou quando criança nos EUA; as ruas de subúrbio (iguais às de "Edward Mãos-de-Tesoura", de 1990); o estudante desajustado e incompreendido.

Um jornalista belga, baixo e gordo, questiona: "E esse cachorro, realmente existiu?" Ele sorri, sem graça.

Todo o processo de filmagens segue o que aparece em desenhos (em preto e branco) feitos por Burton.

Segundo um dos técnicos, o diretor é detalhista ao extremo e se preocupa até com os menores movimentos dos bonecos e com a textura dos cenários.

Tudo corre bem, mas com o passar da visita, Burton demonstra impaciência com outras perguntas do belga: "Você poderia fazer um filme assim, de animação, nos EUA?" "Claro, mas eu moro aqui", responde.

Até que chega a pergunta final, do mesmo jornalista. "Por que você quis fazer esse filme em preto e branco?"

Nosso Wonka parece pensar: Será que ele não entendeu nada? Não percebeu minhas roupas? Não conhece meu estilo? Nunca assistiu ao "Frankenstein" original?

Respira fundo e diz: "Porque tem a ver com a história".

Resposta à pergunta inicial: Burton é normal. Já o jornalista belga...

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