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Crítica Drama

Reconstituição histórica fica em segundo plano em longa com produção admirável

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

As primeira imagens de "Corações Sujos" fazem esperar um retorno ao universo de "Gaijin - Os Caminhos da Liberdade", saga sobre a imigração japonesa no Brasil dirigida com sensibilidade por Tizuka Yamazaki em 1980.

Contudo, logo se percebe que a realização de Vicente Amorim tem menos interesse pela reconstituição histórica e mais vocação para tratar o passado como metáfora, símbolo de questões contemporâneas.

A manipulação coletiva, a idolatria política, o terror subjacente à hipótese de indivíduos se matarem em defesa de uma causa são alguns dos temas que transitam do remoto pós-Segunda Guerra no interior do Brasil para nosso presente.

Tal escolha afasta o filme daquele gênero em que a preocupação com a fidelidade histórica costuma se impor em detrimento de outros significados.

A admirável produção reconstitui o ambiente de época sem descuidar do elemento humano -a prioridade para temas como honra e culpa acompanha as minúcias do acabamento.

A opção fica evidente desde a abordagem do material original de Fernando Morais.

Em vez de tentar mimetizar o livro de Morais, o roteiro competente de David França Mendes se apropria da pesquisa de natureza jornalística e a reinventa como ficção, numa demonstração de que o filme se interessa menos pelos fatos do que por valores.

A transição ficcional, no entanto, parece uma aposta conduzida com excesso de cautela, particularmente quando se trata de obter a necessária empatia emocional para capturar o público.

Estrangeiros desde o idioma, a maioria dos personagens permanece estranha ao espectador, devido em parte à economia da narrativa que se detém pouco neles e prioriza o retrato de grupo.

Apenas o fotógrafo Takahashi, que cumpre a função de protagonista, ganha mais atenção, mas seu perfil de anti-herói bloqueia maiores simpatias.

Já as personagens femininas, das quais depende boa parte do impacto emocional da trama, desempenham funções subalternas, certamente em fidelidade às condições subservientes da mulher naquele grupo.

Mais que isso, no entanto, a natureza internacional do projeto, a ambição de fazer um cinema primeiro-mundista, em que um tema local seja admirado por uma plateia global transforma o resultado num filme de sucesso técnico.

O trabalho é respeitável, mas confunde-se com centenas de outros que entram e saem de cartaz sem que daqui a duas semanas alguém se lembre deles.

CORAÇÕES SUJOS

DIRETOR Vicente Amorim
PRODUÇÃO Brasil, 2011
ONDE Cinépolis Iguatemi Alphaville, Kinoplex Vila Olímpia e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular

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