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Cinema

'Corações Sujos' busca ecos no presente

Filme que estreia hoje narra ação terrorista de imigrantes japoneses que rejeitavam derrota do país na 2ª Guerra

Para cativar público, adaptação de Vicente Amorim para livro de Fernando Morais prioriza trama de amor

MATHEUS MAGENTA
DE SÃO PAULO

O que leva um diretor brasileiro a realizar, nos dias de hoje, um filme sobre um conflito ocorrido no Brasil na década de 1940 que ficou quase que exclusivamente restrito a imigrantes japoneses divididos entre acreditar ou não na derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial?

Para Vicente Amorim, diretor de "Corações Sujos", adaptação do livro homônimo de Fernando Morais que estreia hoje nos cinemas, a resposta está na busca pelo paralelo com questões contemporâneas como identidade, fundamentalismo e até a manipulação da verdade.

"Fazer um filme de época que não tenha conexão absolutamente concreta com a realidade atual é fazer um museu ou um documentário", afirma Amorim, de "O Caminho das Nuvens" (2003) e "Um Homem Bom" (2008).

O cineasta vê semelhanças entre os conflitos derivados da atuação da Shindo Renmei (organização terrorista que perseguia aqueles que aceitavam a derrota -chamados de "corações sujos") e os terroristas islâmicos de hoje.

"O fundamentalismo islâmico, em que você não tem medo da morte, se aproxima demais do 'bushido', do caminho do samurai [evocado por membros da Shindo Renmei]", diz Amorim.

Mas o que levou parte da colônia japonesa a rejeitar a derrota na Segunda Guerra?

As notícias que chegavam ao país sobre a rendição anunciada pelo imperador japonês Hiroito (tido como uma divindade) eram consideradas parte de uma propaganda inimiga (Brasil incluído).

"Em meu livro, há inclusive um relato sobre o [cineasta Akira] Kurosawa [1910-98], que pensou em se matar após ouvir o anúncio do imperador. Eles eram o 'povo escolhido', achavam que não seriam derrotados", diz Morais.

O contexto envolvia também a perseguição política e racial feita aos "súditos do Eixo", como eram conhecidos os alemães, italianos e japoneses que viviam no Brasil naquela época. Parte de seus bens até foi confiscada.

AMOR

Em busca da empatia do público, Vicente Amorim e o roteirista David França Mendes transformaram o livro-

reportagem (vencedor do prêmio Jabuti em 2001) em uma história de amor que tem o conflito como pano de fundo.

O protagonista é Takahashi (Tsuyoshi Ihara), fotógrafo imigrante casado com a professora Miyuki (Takako Tokiwa), que se envolve no conflito entre "vitoristas" e "derrotistas" para vingar a bandeira japonesa, depois que um policial brasileiro a usa para limpar a bota.

"O que desperta simpatia é a vida privada das pessoas. Não são generais, batalhas ou revoluções. Como diz

Stálin, um morto é uma tragédia, cem mil mortos são estatística", diz Amorim.

O elenco é liderado por japoneses, e o filme é 70% falado em japonês. Entre os nomes nacionais está Du Moscovis, cujo personagem representa a perplexidade diante do conflito que levou à detenção de quase 30 mil pessoas, e à morte de outras 23.

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