Documentário resgata curta vetado por criticar Brasília

Em 1967, o diretor Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) ainda não tinha filmado sua obra-prima, "Macunaíma", que chegaria às telas dois anos depois.

Mesmo naquele momento, porém, ele pareceu à direção da empresa italiana Olivetti a escolha perfeita para comandar um curta-metragem sobre Brasília, fundada havia somente sete anos.

O resultado da encomenda foi "Contradições de uma Cidade Nova", visão pouco entusiasmada sobre a capital federal idealizada por Lucio Costa e Oscar Niemeyer.

O problema é que, no processo, a direção da Olivetti mudou, e a nova chefia quis evitar atritos com o governo militar. Vetado, o curta só foi exibido no Festival de Brasília. Em 2006, foi restaurado e incluído entre os extras da versão em DVD de "Macunaíma".

A história é resgatada pelos diretores Gestsemane Silva e Santiago Dellape, que atualizam as críticas a Brasília no documentário "Plano B", previsto para 2013.

"O filme é uma desculpa para falar sobre a Brasília de hoje", explica Silva. "Nesses 30 anos de intervalo, criou-se um mito de que a cidade é perfeita -mas ela não é."

O arquiteto Niemeyer também não apreciou a visão crítica apresentada por Joaquim Pedro de Andrade em 1967.

"O sentimento foi de frustração, e Joaquim teve a ideia de ir sozinho ao Rio atrás de Niemeyer", lembra o estudioso Jean-Claude Bernardet, roteirista do curta."Mas ele rejeitou o filme."

Além de contar as histórias de bastidores do veto a "Contradições de uma Cidade Nova", "Plano B" vai atrás de parentes de entrevistados por Andrade e Bernardet e percorre a Brasília de hoje.

Os cineastas usam dois corretores de imóveis, uma arquiteta e uma secretária do Palácio do Planalto que mora a uma hora e meia do trabalho para mostrar os pecados urbanísticos da cidade.

"Hoje nem a classe média alta consegue morar no Plano Piloto. Virou uma espécie de Manhattan de Brasília", compara Silva. (RS)