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Crítica / Romance

Montagem atualiza texto consagrado e explora novas possibilidades narrativas

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Tensões entre gêneros. "Júlia", adaptação de Christiane Jatahy de peça de August Strindberg (1849-1912), coloca em pauta não só a guerra dos sexos ou as diferenças entre cinema e teatro. Ali, torna-se explícito também a tensão entre sistemas distintos de representação.

O texto original, "Senhorita Júlia", de 1888, filia-se ao naturalismo e à ideia do ambiente e da aptidão à sobrevivência definindo a seleção natural.

Na trama, uma adolescente nobre não consegue resistir aos encantos de um servo e é vitimada pelo seu caráter predador.

Na montagem de Jatahy prevalece um jogo entre imagens projetadas, mediadas por câmera instalada no centro da ação dramática, e a presença dos atores ao vivo. Essa oscilação leva o espectador a dividir seus olhares entre as telas e a cena.

Soma-se a isso o embate entre um drama pleno, que quer iludir sobre sua veracidade, e um drama esburacado, que acena para o público buscando diálogo e assumindo-se como fingimento.

Ainda assim, a ambição da companhia Vértice de embaralhar as identidades de atores e personagens não se efetiva de fato. Curiosamente, a malha ficcional, mesmo com a tensão entre métodos expositivos, permanece coesa, enriquecida pelos rasgos que sofre em sua apresentação.

A opção por abrasileirar o conflito de classes do original, acrescentando a negritude do empregado como fator de atração e repulsa no transporte amoroso, confere ao espetáculo uma força excedente.

Ela remete à dialética erótica entre sinhazinhas e escravos no Brasil colonial, descrita por Gilberto Freyre (1900-1987) em "Casa Grande e Senzala".

O desempenho dos atuantes é fator crucial para o êxito do projeto. Júlia Bernat, como a menina-moça perdida, é uma revelação. Rodrigo dos Santos, como o serviçal astucioso e voraz, mostra-se convincente nos vários registros em que opera.

"Júlia" atualiza um texto já clássico com singularidade e contundência, além de explorar novas possibilidades de narrativa espetacular.

JÚLIA
QUANDO qui. a sáb., às 21h30, dom., às 18h30; até 14/10
ONDE Sesc Belenzinho (r. Padre. Adelino, 1.000; tel. 0/xx/11/2076-9700)
QUANTO R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo

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