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Crítica teoria literária Coletânea de ensaios traz ideias e cartas de Barthes Livro de Leyla Perrone-Moisés estuda peculiaridades de semiólogo francês MANUEL DA COSTA PINTOCOLUNISTA DA FOLHA Dois meses depois da morte de Roland Barthes, em 1980, a ensaísta Leyla Perrone-Moisés escreveu artigo em que, recusando as "autópsias acadêmicas", afirma que seu desaparecimento "não foi uma catástrofe para as letras francesas". E isso "porque Barthes, cujo traço fundamental era a discrição, nunca se inseriu no panorama literário como um escritor de impacto e de polêmica, mas, segundo uma maneira que era a sua, sutil, insinuante, mais subversiva do que revolucionária". O texto está em "Com Roland Barthes", reunião dos ensaios que a crítica literária escreveu sobre ele e das cartas que o autor de "Mitologias" lhe enviou, ao longo de uma convivência que se estabeleceu a partir de 1968. Relação que hoje perdura em seu trabalho como coordenadora da edição das obras do escritor no Brasil. As cartas, reproduzidas em fac-símile com transcrição em português, pontuam as três partes do livro. Inicialmente cerimonioso em mensagens datiloscritas, Barthes logo passa a escrevê-las a mão -gesto prenhe de significados para um autor atento às conotações de cada acontecimento de linguagem- e invariavelmente termina declarando sua "fidelidade" à interlocutora. Por ironia, o volume inclui um ensaio intitulado "Roland Barthes, o Infiel" (1970), que destaca o caráter pouco ortodoxo de sua semiologia. O ensaio trata de sua teoria dos signos, que vai se plasmando e anexando novos territórios não apenas do conceito, mas sobretudo de uma sensibilidade refratária às coagulações de sentido.
Por trás dessa volubilidade teórica, porém, há uma fidelidade a certas obsessões. A tradução em português permite aprofundar a distinção barthesiana entre o texto do escritor (escritura) e a linguagem instrumental, ordinária (escrita) -distinção, porém, inexistente no idioma original. O mesmo se dá com o termo "gozo", que aparece na célebre definição da escritura, em "O Prazer do Texto", como "ciência dos gozos da linguagem" -levando Leyla a afirmar, em outros momentos, que em Barthes "a fronteira entre a escritura arte e a escritura crítica desapareceu definitivamente".
COM ROLAND BARTHES |
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