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Crítica/Drama
Filme é retrato original da negação causada pelo amor
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Certa ocasião, David Cronenberg explicou um de seus filmes dizendo que "nós canadenses somos mesmo um pouco estranhos".
Ao contrário de Cronenberg, Xavier Dolan é do Québec, mas também se pode dizer que é um pouco estranho.
"Os Amores Imaginários", em todo caso o é. Estranho, não tolo. Longe disso.
Temos ali três personagens. Nico (Niels Schneider) é a personificação da beleza, da inteligência e do encanto. Em suma, do desejo.
Não é de espantar que por esse jovem se apaixonem os amigos Francis e Marie.
Mas que espécie de amor será essa? Diante desse deus grego renascido, os demais personagens serão sempre invadidos por um sentimento de fragilidade que roça a negação de si mesmos.
Como qualquer amador já terá notado, o que se passa no filme não é tão diferente assim do que se experimenta na vida real durante a paixão: uma sensação de anular-se.
Talvez para acentuar esse aspecto o diretor Xavier Dolan (que interpreta Francis) tenha inserido entrevistas em que personagens apresentam diferentes formas de reagir ao estado de impotência em que o amor deixa. A sensação de não ser nada, diz uma jovem.
Não é inovador. Amar e ser rejeitado é antigo. Mas é sempre atual, e Dolan optou por construções originais.
Fez Nico tremendamente esquivo, a ponto de não se deixar observar como personagem, apenas como imagem.
Imagem da própria paixão. Nico não é senão aquilo que dizem dele: um produto da imaginação. Não serão assim todos os objetos de desejo?
Tudo o mais existe em torno dele: Marie (a notável Monia Chokri), seus vestidos e penteados. Ou Francis, sua maneira de ajeitar o cabelo, de se insinuar com leveza.
Marie, Francis e, por contraste, Nico constituem um trio de cores, e é ele que compõe o que existe de melhor em "Os Amores Imaginários". Dolan é um cineasta a seguir.
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