Índice geral Ilustrissima
Ilustrissima
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Diário de Pequim

O MAPA DA CULTURA

A chinesa brasileira

E os cartuns em tempos digitais

FABIANO MAISONNAVE

Enquanto o comércio Brasil-China deve superar os US$ 100 bilhões neste ano, os projetos bilaterais na cultura podem ser contados nos dedos das mãos -e seriam muito menos sem as digitais da sino-brasileira Sarina Tang.

Desde 2008, Tang atua como mecenas e curadora entre os dois países. Atualmente, negocia com o MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo) uma grande exposição em Pequim com parte de seu acervo, para 2013. Deve incluir obras de quatro brasileiros que passaram por residências na cidade em outro projeto tocado por ela, "Diferenças Compartilhadas".

Para o ano que vem, quer trazer ainda "Guerra e Paz", os dois painéis de Cândido Portinari doados pelo governo brasileiro à ONU.

Tang chegou a São Paulo com cinco anos e deixou o Brasil ainda jovem para estudar arte em Paris. Em entrevista à Folha por telefone de Nova York, onde passa parte do ano e está a sede de sua fundação, diz considerar-se "um pouco brasileira, um pouco chinesa, um pouco americana e também europeia".

Para ela, a distância física e cultural entre Brasil e China oculta semelhanças. "Por décadas, quando Brasil e China eram chamados de países de Terceiro Mundo, seus artistas tiveram de se virar com poucos recursos. Isso contribuiu para a criatividade. Hoje, ambos têm até mais recursos que o resto do mundo, gerando uma cena bem própria nos dois casos."

CINEMA BRASILEIRO

Em busca de lugar no mercado de cinema mais dinâmico do mundo, o Brasil teve três filmes em sua maior vitrine, o 15º Festival Internacional de Cinema de Xanga, que reuniu cerca de 300 produções.

Nos últimos dias, foram exibidos na mostra não competitiva "Heleno", de José Henrique Fonseca, "O Palhaço", de Selton Mello, e "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", de Vinicius Coimbra. O custo da participação foi dividido entre o Consulado do Brasil e o festival.

A venda de ingressos na China cresceu 30% no ano passado, chegando a US$ 1,9 bilhão, mais da metade para Hollywood -a China acaba de ultrapassar o Japão como seu maior mercado fora dos EUA.

Só US$ 2 milhões foram arrecadados por "Tropa de Elite 2", o 101º filme mais visto na China em 2011, de um total de 178. Exibido com 24 minutos a menos após retirada de cenas mais violentas, "Tropa" é só o segundo filme brasileiro exibido comercialmente na China, diz Anamaria Boschi, que coordena a participação brasileira no festival.

A primeira vez ocorreu em 1985, com "Na Estrada da Vida", filme de Nelson Pereira dos Santos sobre a dupla Milionário e José Rico.

O REFÚGIO DOS CARTUNS

Neste mês, duas mulheres tiveram destaque no noticiário chinês. Enquanto Liu Yang se tornava a primeira astronauta chinesa a entrar em órbita, a camponesa Feng Jianmei era forçada pelas autoridades a abortar no sétimo mês devido à "política do filho único".

A contradição foi capturada de forma brilhante pelo cartunista Caranguejo Maluco (nome fictício): ele desenhou uma plataforma de lançamento com uma seringa ensanguentada no lugar do foguete especial -alusão à injeção usada para induzir o aborto.

Caranguejo Maluco faz parte do um crescente número de cartunistas chineses que encontraram na internet o meio para se expressar. Todos usam o anonimato e tentam burlar a censura, que sempre apaga as charges e cancela suas contas nos microblogs da China, onde o Twitter está bloqueado. A vantagem é que charges são mais difíceis de serem rastreadas que textos.

Outros cartunistas famosos são Pi San e Pimenta Rebelde. Os três criam sobre temas vetados na imprensa, como o massacre da praça da Paz Celestial e a repressão a movimentos pró-autonomia no Tibete.

O trabalho de Caranguejo Maluco está em em chinadigitaltimes.net/china/hexie-farm, cujo acesso está bloqueado na China.

PROVOCAÇÕES

Na primeira e talvez última apresentação da banda escocesa Jesus & Mary Chain na China, no mês passado, tudo parecia fora do lugar. O show foi realizado a duas horas de carro do centro, numa estação de esqui de neve artificial desativada nesta época de calor setentrional -empreendimento tipicamente novo-rico, guardado, no entanto, por uma estátua de Mao.

Para uma banda que viveu o auge nos anos 1980 e lançou o último álbum há 14 anos, o público-alvo seriam trintões e quarentões. Não na China, que então dava os primeiros passos para maior abertura.

O resultado foi um público de centenas de adolescentes num gramado onde caberiam dezenas de milhares. Para piorar, uma tempestade reduziu o show em 20 minutos. Ao menos houve tempo para "Happy When it Rains".

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.