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Diário de Paris

O MAPA DA CULTURA

Descompasso temporal

A França ganha o seu "De Volta para o Futuro"

SERGE KAGANSKI

Ela estreou faz uns 20 anos, sob os auspícios do cinema de autor mais exigente, primeiro como figurante, depois como roteirista de Arnaud Desplechin. Desde então, Noémie Lvovsky dirigiu quatro filmes ("Les Sentiments" é a mais conhecida dessas quatro comédias sérias), e paralelamente tornou-se uma das mais requisitadas atrizes coadjuvantes do cinema francês ("Reis e Rainha", "L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância", Les Adieux à la Reine").

Em seu quinto filme, "Camille Redouble" (literalmente, Camille repete de ano), ela reúne seus dois talentos, dirigindo e interpretando o papel principal dessa melancomédia autobiográfica inspirada em "Peggy Sue - Seu Passado a Espera" (1986), de Francis Ford Coppola: uma mulher deprimida de 40 anos, abandonada pelo companheiro, se vê projetada no ano em que tinha 16 anos.

O descompasso temporal provoca situações desopilantes, mas Camille vive sobretudo o sonho impossível de muitos: refazer sua vida, não cometer os mesmos "erros", não beijar o rapaz que vai se tornar seu namorado e lhe dar um fora, não deixar a mãe morrer brutalmente de um aneurisma Engraçado e profundo, Camille Redouble é o sucesso francês (de crítica e de público) do momento.

Veja o trailer em folha.com/ilustrissima.

O CAÇULA DE HOUELLEBECQ

Houellebecquiano: esse é o adjetivo mais usado para qualificar "La Théorie de l'Information", primeiro romance de Aurélien Bellanger, publicado pela prestigiosa editora Gallimard, um dos acontecimentos da temporada literária. Vagamente inspirado numa pessoa real (Xavier Niel, dono da companhia de telefonia celular Free e acionista do jornal "Le Monde"), o livro descreve a trajetória balzaquiana de um provinciano que enriquece no comércio do sexo antes de fazer fortuna nas novas tecnologias.

Autor de um ensaio sobre o consagrado romancista Michel Houellebecq, Bellanger se aproxima do irmão mais velho pelo estilo frio, pelo gosto pela mistura de literatura e ciência (e até ficção científica), pelas descrições grandiosas e, para uns, antecipadoras da evolução da sociedade francesa.

HOLLYWOOD EM SENA

Assim como o herói de Bellanger, ou como Xavier Niel, Luc Besson é um empresário francês que teve um formidável sucesso como diretor, produtor e distribuidor. O último dia 21 foi uma data importante em sua vida e para o cinema francês: foi o dia da inauguração da Cité du Cinéma, em Saint-Denis, periferia no norte parisiense, símbolo da fratura social.

Luc Besson viveu mais de dez anos de batalhas jurídicas e financeiras para concretizar o projeto faraônico: o equivalente francês de um estúdio hollywoodiano, contendo escritórios, galpões de filmagem, escolas de cinema (a famosa escola Louis Lumière, bem como uma nova escola mais social, para ensinar os ofícios do audiovisual ao jovens que não foram para a faculdade e vêm de camadas desfavorecidas).

Se esse projeto permite sonhar, também suscita perguntas: que tipo de filmes serão feitos ali? Será rentável? Vamos acompanhar.

O ROMANCE DE RENOIR

No começo de outubro, sai uma biografia de Jean Renoir (1894-1979) por Pascal Mérigeau. Um trabalho colossal, de mais de mil páginas, dedicado a um dos maiores cineastas franceses, senão o maior. Mérigeau entrevistou o filho do cineasta e coletou um enorme volume de informações nos arquivos de Renoir, em Los Angeles.

O resultado é o mergulho mais detalhado possível na vida e na obra do autor de "A Regra do Jogo". Com uma visão complexa, longe da hagiografia, Mérigeau mostra as inúmeras contradições de Renoir, o modo como o cineasta construiu sua lenda, tomando liberdades com a realidade.

É particularmente proveitoso no período da Ocupação alemã, pouco antes de sua partida para Hollywood: nem tão resistente quanto fingiu ser, Renoir tentou estabelecer relações amistosas com o regime de Vichy, pró-Hitler, e com o ocupante nazista, não por convicção ideológica, mas para garantir seu futuro profissional.

Renoiriano, o livro de Mérigeau tenta demonstrar que Jean Renoir não era um deus nem um herói acima da crítica, mas um homem, com suas forças e fraquezas, e um imenso cineasta.

tradução Paulo Werneck

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