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DIÁRIO DE LONDRES
O mapa da cultura
Teatro de imersão
Um palco sobre o Tâmisa
WILL HODGKINSON
tradução CAETANO GALINDO
O DESTAQUE DO FESTIVAL Internacional de Teatro de Londres é "Hotel Medea",
versão ao ar livre da tragédia grega, encenada às margens do Tâmisa, da meia-
noite às 6h da manhã. Os espectadores são convidados a participar de um
espetáculo de cabaré, a visitar uma caótica feira de rua e a dançar numa festa
que conta com o brasileiro DJ Dolores enquanto a história de amor e vingança de
Eurípides se desenrola. E caso você esteja pensando em dar só uma passadinha...
não dá. Boa parte de "Hotel Medea" é encenada num barco que navega rio abaixo
sem que você possa escapar.
"Hotel Medea" é a mais recente montagem da tendência que vem dominando a vida
cultural de Londres: o teatro de imersão.
O teatro de imersão tem origens humildes. Em 2006, uma companhia chamada
Punchdrunk encenou o "Fausto" de Goethe num depósito abandonado em East London.
Na época, a Punchdrunk era conhecida, se tanto, como um grupo moderninho que
montava eventos em festivais de rock. Esperava-se que "Fausto" ficasse três
semanas em cartaz. As vendas de ingressos foram lentas.
Um amigo sugeriu que déssemos uma olhada nessa nova abordagem teatral, em que a
plateia participa ativamente do espetáculo. Sou um britânico reprimido. Fico
envergonhado quando o público começa a cantar junto em shows de rock. Aquilo
parecia ser a minha ideia de inferno.
"Fausto" foi uma revolução silenciosa. O público, que precisava usar máscaras,
caminhava por um labirinto de salas sem guia, explorando o vasto depósito para
topar com cenas em que as pessoas se viam participando involuntariamente. Os
atores falavam com você, confrontavam você. Foi um dos momentos teatrais mais
empolgantes que já vivi, fornecendo, em vez de uma narrativa da história de
Mefistófeles e Fausto, uma impressão dela. Foi um enorme sucesso. Lyn Gardner,
crítica do jornal "The Guardian", comparou assistir a peça a "perseguir um sonho
que fica se dissolvendo e escapando de sua visão". As três semanas tornaram-se
seis meses.
A Punchdrunk começou como uma companhia anárquica e marginal. Hoje, faz parte do
sistema. Seu próximo trabalho, uma versão da tragédia seiscentista de John
Webster "A Duquesa de Malfi", é uma coprodução com a English National Opera e
seu elenco de 20 cantores e uma orquestra sinfônica. Os ingressos se esgotaram
assim que começaram a ser vendidos. Ao contrário de "Fausto", que os londrinos
descobriram por conta própria, "A Duquesa de Malfi" é muito aguardada.
O teatro de imersão entrou na moda, o que trouxe um problema. Quando assisti ao
"Fausto", fiquei desorientado e empolgado, sem jamais ter passado por uma coisa
daquelas. Quando vi a peça seguinte da Punchdrunk, em 2008, uma montagem de "A
Máscara da Morte Vermelha", de Edgar Allan Poe, fiquei entediado depois de cerca
de uma hora.
Parece que as companhias de teatro de imersão estão levando as coisas ao
extremo, procurando novas maneiras de sacudir o público. Em 2009, o grupo Slung
Low montou uma peça sobre vampiros em que os espectadores eram trancados num
quartinho escuro e molestados pelos atores. Isso só conseguia deixar a plateia
desconfortável. "Hotel Medea" parece disposta a ser mais espetacular que
perturbadora, mas é muito exigir que alguém assista a uma peça da meia-noite às
6h da manhã sem pegar no sono. Pode ser o ponto alto do teatro de imersão -ou
sua sentença de morte.
Você está aqui Londres está repleta de pérolas escondidas. Mas como é possível
encontrá-las? "You Are Here" (disponível na Herb Lester Associates pelo site
herblester.com) é um mapinha elegante que tira você das ruas manjadas e
franquias de cafés e leva àquele tipo de lugar que os descolados adotaram. Ele
indica os melhores lugares para uma reunião de negócios (a galeria The Wallace
Collection), um encontro amoroso (o café francês Maison Bertaux) e até para uma
reunião de espionagem internacional (os botes do lago Serpentine, onde ninguém
conseguirá ouvir o que vocês disserem). "Em Londres, hoje, tanta gente trabalha
em casa que precisamos de lugares para encontrar as pessoas", diz Ben Olins.
"Esses são os lugares aonde os londrinos vão para sentir que estão realizando
alguma coisa, mesmo que não estejam."
CONTANDO UMA HISTÓRIA Uma das tendências mais encantadoras -e mais inesperadas-
que chegaram a Londres são as noites de contação de histórias em bares
(truestoriestoldlive.com). Ouvi falar pela primeira vez dessas noitadas quando o
editor da revista "The Word", David Hepworth, me ligou para perguntar se eu
podia ir contar uma história verdadeira por cinco minutos, sem consultar
anotações, diante de 40 pessoas num pub em North London. Mole, pensei -até
chegar lá. Falar a estranhos a respeito de um fato íntimo de sua vida é
absolutamente aterrador. "Você sente que faria de tudo para escapar daquilo
antes de começar, e depois sente um êxtase", disse David, com sabedoria. Terror
e alívio formam uma liga poderosa. Não é de estranhar que esses eventos estejam
se espalhando como um vírus por aqui.
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