São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

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REPORTAGEM

De volta para o futuro

A nova e a velha geração de cosmonautas russos

RESUMO Em Moscou, confinados por 520 dias numa cápsula hermética do projeto Mars-500, que simula uma futura viagem a Marte, seis cosmonautas de diversas nacionalidades divulgam a experiência em blogs e tentam reviver os dias de glória da corrida espacial na Rússia, ainda nostálgica dos heróis do passado.

A. LEONOV E A. SOKOLOV
Selo feito em 1972 pelo ex-cosmonauta Alexey Leonov e o artista gráfico Andrei Sokolov

MARINA DARMAROS

NUMA FOTO DE NOVEMBRO DE 2009, Maksim Suraev, 38, aparece usando improváveis óculos escuros sem hastes, segurando uma moderna geringonça que poderia ser uma arma da série "Star Wars", não fosse a pompa com que é anunciada: "O mais novo dispositivo criado pelo Exército russo". Ao redor do sorridente cosmonauta vêem- se variadas bugigangas em alegre flutuação -canetas, calculadora, tesoura, um cinto etc.
Suraev explica que a engenhoca que ele tem em mãos -uma mangueira de ar- não é só uma arma contra "ataques alienígenas na porção russa da Estação Espacial Internacional", mas também um aparelho de "escuta contra os colegas no segmento americano", bem ao lado. Outras fotos que postou em seu blog mostram mais fanfarronadas cósmicas, como limões suspensos no ar, num fácil malabarismo sob gravidade zero, ou uma flutuante colherada de carne de porco sendo abocanhada no ar pelo cosmonauta.
Por essas e outras, o "Orbital Log" foi eleito pela revista "Wired" o mais divertido entre os blogs cósmicos de todo o espaço sideral. "Blog de cosmonauta russo é muito mais engraçado que o da Nasa", provocou a revista americana de tecnologia e cultura, censurando a chatice de Mike Massimino, astronauta que se restringe a postar informações científicas. "O site de Suraev soa realmente como o blog de uma pessoa", disse a revista.
O blog de Suraev não chamou apenas a atenção da "Wired": virou mania na Rússia e se desdobrou num programa de TV. Mais do que isso, mostrou que a internet é, aí sim, uma arma especialmente poderosa para apregoar aos quatro ventos as recentes investidas russas na conquista do espaço, bem no momento em que os americanos preparam a aposentadoria de seus balzaquianos ônibus espaciais, que voarão no máximo até o início de 2011. Para atingir o espaço sideral, eles dependerão das velhas cápsulas russas Soyuz, tecnologia em funcionamento há quase meio século.
As parcerias russo-americanas não significaram o fim da rivalidade histórica que já quase levou o planeta a uma "Guerra nas Estrelas" -como ficou conhecida a competição política e tecnológica pela conquista do espaço nos longínquos anos 1980. Mesmo tendo chegado ao século 21 compartilhando naves e estações espaciais, russos e americanos continuam se espionando mutuamente.
Na semana passada, 11 supostos agentes secretos russos foram presos em território americano, após uma longa investigação do FBI. Não portavam armas estrambóticas como a mangueira de ar de Suraev, mas, sinal dos tempos, lançavam mão de redes sociais como o Facebook para criar suas identidades falsas.
A internet -e mais particularmente a "blogosfera", neologismo criado para designar o zunzunzum de blogs mundo afora- de fato se tornou o mais novo campo de batalha na corrida espacial. Os russos têm se valido da rede como um instrumento estratégico para divulgar seus recentes investimentos intergalácticos, em especial o mais novo deles, o projeto Mars-500.
Isolamento Em 3 de junho, seis homens de diversas nacionalidades, vestindo macacões azuis, trancafiaram-se numa cápsula hermeticamente fechada, para lá ficarem até novembro de 2011. Calcula-se que a viagem de ida a Marte levará 250 dias, e a de volta, 240. Com a previsão de 30 dias de exploração da superfície marciana, serão 520 dias de "viagem" -sem sair do lugar, em um galpão no bairro industrial de Khoroshevskiy, a noroeste de Moscou. O objetivo é simular as condições de uma hipotética (e, por enquanto, impossível) expedição ao planeta vermelho.
Em tempo praticamente real, com o atraso de 20 minutos que uma mensagem de rádio leva para percorrer os cerca de 60 milhões km (distância mínima) entre a Terra e Marte, os tripulantes enviam textos e imagens que são publicados em blogs pelo pessoal de solo. Os leitores podem postar perguntas para os três cosmonautas trancafiados lá dentro, além de um chinês, um francês e um colombiano naturalizado italiano.
Estacionada num galpão do IMBP (sigla russa para Instituto de Problemas Médico- Biológicos), a falsa nave espacial ocupa 553 m3, volume equivalente ao de um ônibus articulado. São três compartimentos: o módulo habitável, o que abriga uma estufa artificial, uma pequena academia de ginástica e a despensa, e um terceiro, com equipamento médico.
Homens de farda camuflada protegem o acesso às instalações, que apesar da divulgação na internet, é tratada com sigilo militar. O experimento é conduzido pelo IMBP, em parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA) e o centro de treinamento espacial chinês.
Para mostrar que entraram na corrida espacial, os chineses têm até uma palavra que designa os seus enviados ao espaço. Assim como os "astronautas" são aqueles que chegaram lá pelas mãos dos EUA e os "cosmonautas" pela então União Soviética, os chineses que entrarem em órbita atenderão pelo nome de "taikonautas".
O objetivo oficial do projeto é observar como os seis escolhidos vão reagir às condições de isolamento extremo, sem luz natural, ingerindo comida enlatada e vigiados por câmeras durante quase um ano e meio. Enquanto o sonho de uma verdadeira missão humana de exploração de Marte ainda depende do desenvolvimento de tecnologias que protejam o homem da radiação espacial, cientistas europeus, russos e chineses investigam os impactos psicológicos e fisiológicos da reclusão.
No confinamento do projeto Mars-500 não existem as pílulas de "comida de astronauta" que entraram para o folclore das expedições cósmicas. Praticamente metade do módulo EU-250, que ocupa 250m3, tem prateleiras repletas de manteiga, mel, geleia, macarrão e outras guloseimas terrestres prontas para comer. "Eles não precisam nem misturar com água", explica Jennifer Ngo-Anh, gestora do programa Mars-500 e cientista do Centro Europeu de Tecnologia Espacial.
A alimentação varia de acordo com o gosto dos candidatos, que foram submetidos a uma degustação prolongada durante o treinamento e escolheram os pratos industrializados de sua predileção. "Não é que o chinês vá comer comida asiática e os europeus vão comer comida italiana", explica Ngo-Anh. Todos recebem comidas bem parecidas. Parte do fornecimento ficou por conta de patrocinadores, como os cereais matinais cedidos por uma empresa americana. Os aspirantes a exploradores de Marte têm cada ração diária detalhadamente descrita em brochuras que devem ser rigorosamente seguidas.
Ali, assaltar a geladeira - ou a prateleira - é uma missão impossível. Todos os produtos têm numeração e ficam armazenados nas prateleiras e geladeiras marcadas com códigos de barras. Antes de retirá-los é preciso dar baixa na base de dados, para controlar as provisões.
Um filme do tripulante russo Alexey Sitev no site do IMBP mostra a preparação dos cardápios no sexto dia de experimento: pão, mel, manteiga, geleia, müsli, leite e chá para o café da manhã; um indiscernível prato congelado e suco de laranja para o almoço; macarrão à bolonhesa e suco de laranja no jantar; e uma cota extra de castanhas, damascos e semente de linhaça. Quase tudo - exceto os pratos principais - vai embalado em porções de 20 g ou 25 g.
Sitev diz que é obrigatório comer tudo o que está estipulado nas brochuras, "exatamente na quantidade apontada, nem mais, nem menos". Trocar o lanche com os coleguinhas também está proibido. Para compensar a falta de vitaminas, devem ser tomados complementos alimentares, aminoácidos e ômega-3.
A ausência de luz solar preocupa: é ela a nossa maior fonte de vitamina D, sem a qual o organismo não absorve cálcio dos alimentos. "A privação de luz solar pode provocar a famosa depressão sazonal, característica de pessoas que vivem em regiões setentrionais ou no extremo sul", acrescenta o médico-psiquiatra Aleksey Bobrov, vice-presidente de assuntos acadêmicos do Instituto de Pesquisa Psiquiátrica de Moscou.
A falta de luz natural pode provocar alterações fisiológicas que afetam o sono, o humor e o metabolismo. Por isso, a cápsula terá uma iluminação azulada, para tentar neutralizar os efeitos da falta de sol. A porta da cápsula só será aberta em situações extremas, "principalmente defeitos no equipamento ou doença de algum dos tripulantes", segundo Ngo-Anh. Enquanto não houver necessidade absoluta, ninguém receberá nenhum tipo de medicamento para regular humor, níveis hormonais ou nervos.
Os encapsulados do projeto Mars-500 têm água à disposição, mas os banhos são controlados -somente um a cada dez dias. Até hoje, portanto, 31 dias desde o início do experimento, cada tripulante deve ter se lavado apenas três vezes. Urina-se em potes de coleta. A água potável, também racionada, de acordo com a Ngo-Anh é "mais do que suficiente".
Também entram na simulação da jornada a Marte falhas técnicas e emergências cujos detalhes são mantidos em segredo pelos organizadores. O foco dos experimentos são os de cunho psicológico, médico e de outras áreas biológicas diversas, como o plantio de alface, tomate, morangos e repolho numa estufa. Entre as obrigações do dia a dia, os cosmonautas devem recolher e identificar os insetos que possam se proliferar no ambiente, limpar as cabines individuais de 6 m2 e se revezar na faxina das outras dependências.
Os tripulantes têm o direito de pular fora quando bem entenderem. Segundo Jennifer Ngo-Ahn, a gestora do programa, quem completar o estudo, incluindo o estágio de restabelecimento, vai receber US$ 110 mil, hoje cerca de R$ 195 mil. O pagamento é considerável para o padrão russo, mas não basta para comprar uma quitinete, que não sai por menos de US$ 170 mil no mesmo bairro moscovita onde a cápsula está.

SÓ PARA HOMENS Apesar de terem sido aceitas inscrições femininas, nenhuma mulher foi selecionada para o experimento. Uma das razões da decisão pode ter sido a polêmica gerada durante um estudo similar, conduzido pelo mesmo Instituto de Problemas Médico-Biológicos, entre 1999 e 2000. Na ocasião, um russo teria tentado beijar uma canadense à força.
"Não acho que o incidente tenha acontecido porque a tripulante era mulher", desconversa Jennifer Ngo-Anh. Até hoje, já passaram pelo espaço 514 pessoas, das quais apenas 54 mulheres. Suraev explica que, "na cultura russa, a mulher deve ser, em primeiro lugar, mãe". Não haveria, portanto, espaço-tempo que bastasse para o advento da mãe-cosmonauta.
Não foi só o caso de assédio sexual que ficou famoso no tal experimento. Depois de receberem bebidas alcoólicas no Réveillon, dois russos embriagados teriam se engalfinhado. Mesmo com o histórico de problemas com bebida, a tripulação do projeto Mars-500 não será privada de álcool em ocasiões especiais. "Eles sabiam o que estavam assinando quando se candidataram, então isso não vai ser um problema", acredita Ngo-Anh.
O confinamento é um teste para os nervos. Até o uso de uma esteira elétrica teria sido objeto de discussão entre os participantes de um experimento do gênero, que durou 105 dias. No projeto Mars-500, um dos cosmonautas levou um violão para "aporrinhar os outros caras". O ítalo-colombiano Urbina pretende ler a obra completa de Gabriel García Márquez, o autor de "Cem Anos de Solidão".
"Viver 500 dias com as mesmíssimas pessoas é muito difícil!", comenta Suraev, que também passou um bom tempo isolado na Estação Espacial Internacional. Mas os cinco meses que passou lá foram movimentados, com o entra e sai de astronautas na estação, que não está previsto numa hipotética expedição marciana.
O psiquiatra Aleksey Bobrov menciona pesquisas que relatam "as mais diferentes consequências psicológicas do isolamento, como depressão, agressividade e a assim chamada 'privação sensorial'". Sem o devido acompanhamento, a reclusão poderia levar a alucinações e a um estado mental à beira da psicose.
Os confinados terão cinco dias de trabalho e dois de descanso por semana, exceto quando houver simulações de emergência. Os funcionários do Instituto de Problemas Médico-Biológicos não responderam ao internauta "carne moída 1936", que num comentário na internet perguntou sobre "vídeos ou produções impressas para aliviar o prazer carnal". Foi a deixa para que outro usuário, "Ghostrutalan", filosofasse gaiatamente sobre a sala de vídeos, as cabines individuais e as precauções com a fisiologia humana na ausência de gravidade.

CIBERESPAÇO "Os astronautas mantêm diários já faz tempo, mas é uma chatice científica e seca, não uma linguagem simples, que transmite o que a gente passa por lá", explicou Maksim Suraev num encontro com os jovens leitores de seu blog, no Museu Memorial da Cosmonáutica.
A ideia de criar um diário eletrônico sobre a rotina na Estação Espacial Internacional foi sugerida por Svetlana Gavrish, então relações-públicas da agência espacial russa Roscosmos. O sucesso foi tamanho que gerou uma parceria com a TV Tsentr, canal controlado pelo governo de Moscou, que passou a transmitir vídeos com as estripulias de Suraev na estação espacial.
"Conta para a gente o que você tá procurando", diz Suraev ao colega Oleg Kotov num dos vídeos, em que se vê um homem flutuar horizontalmente no ar, de barriga de fora e com os braços e a parte de cima do corpo enfiados num enorme tubo vertical. Filmadas pelo próprio Suraev, as cenas retratam situações banais do dia a dia no espaço: um colega que procura um objeto diminuto na ausência de gravidade; os estoques de alimentos para cinco meses; a miniplantação de trigo em estufa. E o mais bonito de tudo: a vista para a Terra, que é azul, como já nos informou outro cosmonauta russo, Yuri Gagárin.
Assim como os tripulantes da cápsula Mars-500, Suraev também não tinha acesso direto à internet. Seu contato com a Terra se dava através do centro de lançamento, que recebia suas mensagens e as repassava para a relações-públicas, que por sua vez postava na rede as aventuras do cosmonauta. A blogagem marciana também está sendo feita dessa forma.
Os posts dos cosmonautas europeus vêm sendo publicados no site da Agência Espacial Europeia. Já o IMBP divulga o dia a dia da ala russa em mais de um endereço, inclusive no próprio site do instituto (acesse os links em folha.com/ilustrissima). O francês Romain Charles e o ítalo-colombiano Diego Urbino escreveram juntos um primeiro post intitulado "Adeus Sol, Adeus Terra, Estamos Partindo para Marte".
Fotos e vídeos mostram as acomodações, a sala de recreações, a televisão (que só passa DVDs), o aparato para jogar o videogame Guitar Hero e a sala de ginástica - com um enorme cartaz da cadeia russa de equipamentos esportivos Sports Master ao fundo. "Aqui está o chuveiro, que ainda não usamos até agora porque só podemos tomar banho de 10 em 10 dias", diz Urbino. "Estamos esperando ansiosamente por isso".
Já os blogs alimentados pelos russos Alexey Sitev, Sukhrov Kamolov e Alexandr Smoleevskiy estão abertos a comentários e a perguntas. Pouco se sabe sobre os três, que ainda não assinaram nenhum post de próprio punho: as informações sobre eles e o "taikonauta" chinês vêm, sobretudo, dos perfis no site do IMBP. O mais famoso é Sitev, o líder da expedição que acaba de se casar e deixou a mulher esperando "em terra".
O público não se importa se os cosmonautas não estão blogando diretamente: são ferozes as discussões entre os leitores no blog hospedado na plataforma LiveJournal. "D.A. Sannikov", por exemplo, pergunta por que diabos as cápsulas são revestidas de madeira do chão ao teto. "Não me digam que vai ser assim no aparato cósmico também!"
"É ecológico, hipoalergênico, confortável", responde a equipe do projeto, no lado de fora da cápsula. Insatisfeito, o visitante retruca: "Tem todo o jeito de ser uma coisa que não vai durar 500 dias. Ou estou errado? Vocês não acham que estão pondo a higiene do experimento em risco?". Os blogs intergalácticos de Suarev e do projeto Mars-500 estão fazendo os russos reviverem a empolgação dos tempos áureos do programa espacial soviético.

GLÓRIAS DO PASSADO "Nos tempos soviéticos, nós, os cosmonautas, tínhamos uma importância social e material muito maior", diz o cosmoveterano Vladimir Aksyonov numa entrevista sobre o jubileu de 30 anos de lançamento da nave Soyuz T-2. Na entrevista "coletiva" que, com a reportagem da Folha, contava com apenas duas repórteres presentes. A uns 30 km dali, realizava-se um encontro solene com a equipagem da recém-aterrissada Soyuz TMA-17, para poucos interessados.
Aksyonov está rodeado pela equipe de engenheiros e projetistas da saudosa T-2, sentado a uma mesa farta com as melhores iguarias russas -panqueca recheada com salmão, salada de camarão com batata, peixe defumado, saladas russas com irreconhecíveis ingredientes picados em cubinhos e, é claro, vodca.
A todo momento, um deles se levanta e bate uma colher numa taça de vinho, brindando, perdendo-se em lembranças, rememorando um amigo perdido. Os remanescentes da missão, cerca de 20 pessoas, não passam de 25% da equipe original. Os discursos são interrompidos, as discussões proliferam, as brincadeiras também, até que vêm as admoestações de alguém que tenta brindar -à saúde dos vivos, à memória dos que se foram.
"Se fosse numa datcha, eu não queria nem ver", diz a outra jornalista presente, evocando as casas de veraneio onde os russos tradicionalmente se esbaldam. "Se aqui eles já estão assim..."
Então Yuri Solomko, diretor do Museu Memorial da Cosmonáutica, onde se realiza o evento, bate a colher numa taça e resume a situação dos cosmoaposentados: "Hoje existe em Moscou o Lar dos Atores, o Lar dos Jornalistas, o Lar dos Escritores, mas a gente não tem o Lar dos Cosmonautas".
Aksyonov trabalhou durante 32 anos na mesma empresa, em Korolyov, antiga Kaliningrado. Lá conheceu meio mundo que já esteve no espaço. E reencontrou um velho colega da escola de pilotagem, Aleksey Leonov, que viria a se tornar o primeiro cosmonauta a sair da nave para andar no espaço, em 18 de março de 1965.
Imortalizado por seus 12 minutos e nove segundos de marcha sideral, Leonov é também um famoso artista de "Space Art" com suas paisagens cósmicas. São dele e do artista Andrei Sokolov (1931-2007) as imagens reproduzidas nesta reportagem, extraídas de selos postais soviéticos. Para completar, Leonov deu seu nome a uma portentosa cratera lunar - onde russos ou soviéticos nunca pisaram, assim como Ernest Hemingway, René Descartes ou Pitágoras, que também têm seu lugar ao sol nas deformidades selenitas.
Embora confraternize anualmente com 100 a 150 cosmonautas nas reuniões da Associação Internacional de Participantes de Atividades Espaciais, Aksyonov sente falta de reuniões com o pessoal de Moscou. "Ficamos muito felizes ao nos encontrarmos, porque a cada rosto, a cada palavra dessa gente, existe uma total compreensão mútua dos anos incríveis do nosso trabalho", diz ele.
Para fundar o clube dos aposentados, Yuri Solomko diz que já tem o apoio de diversos amigos e até do prefeito de Moscou: "Eu mesmo falei com o Luzhkov sobre isso quando a reforma do museu foi aprovada", conta o diretor do Museu Memorial da Cosmonáutica. O plano é que os ex-cosmonautas possam visitar dependências que serão construídas especialmente para eles até mesmo quando o museu estiver fechado.
O Lar dos Cosmonautas ainda poderia, segundo Solomko, organizar palestras, encontros com jovens para discutir as invenções do setor e falar sobre as expedições, "sobre o que acontece nos bastidores, que ninguém fala, ninguém mostra". O clube também ajudaria o museu a complementar suas exposições com documentos, fotografias e objetos pessoais.
O alvo são os veteranos de toda a indústria soviética do cosmos: cosmonautas, construtores, engenheiros etc. "Vovô Marx estava certo quando disse que o que 'engrena' as pessoas é o interesse", diz Solomko.
Daqui a 30 anos, quem sabe se os seis encapsulados no norte de Moscou não engrenam e entram para o clube?

"As parcerias russo-americanas não significaram o fim da rivalidade histórica que já quase levou o planeta a uma "Guerra nas Estrelas" -como ficou conhecida a competição nos anos 80"

"Para mostrar que entrou na corrida espacial, a China têm até uma palavra que designa os seus enviados ao espaço. Os chineses que entrarem em órbita atenderão pelo nome de "taikonautas""

""Nos tempos soviéticos, nós, os cosmonautas, tínhamos uma importância social e material muito maior", diz o cosmoveterano Vladimir Aksyonov"


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