São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011

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DIÁRIO DE TÓQUIO
O MAPA DA CULTURA

Sismo Cultural

O mercado editorial surfa no tsunami

ANGELO ISHI

O TERREMOTO SEGUIDO de tsunami no nordeste do Japão demandou ajustes em todos os setores, e a indústria cultural não foi exceção. O impacto do "3/11" (alusão ao "11 de Setembro", já que a tragédia aconteceu em 11 de março) foi sentido especialmente no cinema.
Com a paralisação da usina nuclear de Fukushima e o racionamento de energia elétrica, os cinemas se viram obrigados a reduzir as sessões noturnas. O filme "Além da Vida", de Clint Eastwood, teve sua exibição interrompida por causa do retrato hiperrealista de um tsunami.
Outras fitas que abordam catástrofes foram igualmente para a geladeira. O Wowow, principal canal de filmes na TV a cabo, cancelou a exibição de uma novela e de um filme ("2012") sob a seguinte justificativa: "Não é apenas em respeito às vítimas, mas ao sentimento compartilhado por toda a população".
Cada qual a seu modo, atores e cantores procuram ajudar na reconstrução. Uns fizeram doações milionárias. Outros aderiram aos previsíveis shows beneficentes. Mas o que a mídia tem noticiado com alarde são as visitas de celebridades às regiões afetadas, onde suam a camisa cozinhando e para os desabrigados.
O mercado editorial, como de praxe, mostrou agilidade espantosa diante da nova realidade. Dezenas de livros relacionados a terremotos, tsunamis e ameaças nucleares, escritos a toque de caixa, têm destaque nas livrarias ""a rede Kinokuniya, uma das gigantes do setor, criou até uma prateleira específica para o assunto.
Tem de tudo. Um dos títulos mais procurados é o mapa do pedestre em dia de terremoto, para orientar quem tem de ir a pé para casa quando os trens param. "A Grande Ressurreição do Japão Começa Agora", tasca um economista, já no título de seu livro.
A lista de livros clamando pela desnuclearização do Japão e por novas alternativas de produção energética não para de crescer. Um dos que tiveram mais repercussão foi o do articulista Katsuto Uchihashi, "Como foi Construído o Mito de que a Energia Nuclear era Segura".

MUNDO FLUTUANTE
Termina hoje uma exposição que vem causando filas quilométricas no Tokyo National Museum, no parque Ueno. O título é minimalista, pois o artista dispensa apresentações: "Sharaku". Está na ala de exposições especiais do museu.
Grande parte das obras do misterioso gravurista de "ukiyo-e" (literalmente, "imagens do mundo flutuante"), que se projetou em maio de 1794 e desapareceu apenas dez meses depois, está espalhada mundo afora. É a primeira vez que o Japão consegue reuni-las.
Toshusai Sharaku retratava especialmente atores de kabuki. No "ukiyo-e" vê-se o mundo da diversão, com gueixas e cortesãs, às vezes em cenas de sexo explícito.
A mostra também teve seu período de visitação reduzido por causa do racionamento de energia.

CIBORGUES EM 3D
Está em cartaz ""com estrondoso sucesso"" o desenho animado "Ghost in the Shell S.A.C.: Solid State Society". O "Ghost in the Shell" original, de 1995, dirigido por Mamoru Oshii, é um dos mais cultuados do "anime" japonês.
Assinado pelo menos conhecido Kenji Kamiyama, o filme é a versão cinematográfica da série produzida para a TV e tem o irresistível apelo do 3D. Ambos são adaptações do mangá homônimo de Shiro Masamune (de 1989), que mistura suspense policial e ficção científica num mundo coabitado por humanos e ciborgues. Depois de inspirar a franquia "Matrix", dos irmãos Wachowski, "Ghost in the Shell" vai ganhar releitura de Steven Spielberg.

NOSTALGIA EM CENA
Acaba de estrear "Bedge Pardon", peça que une talentos diversos. Estrelada pelo ator do teatro nô Nomura Mansai e dirigida pelo especialista em comédias (Koki Mitani), conta a história do escritor Soseki Natsume, um dos mais importantes das letras japonesas.
Natsume foi estudar em Londres na primeira turma de bolsistas do governo japonês, no fim do século 19, quando viajar para o exterior era para poucos. A solidão, a saudade e os choques culturais deixaram marcas profundas em sua obra. A peça promete embalar com humor as agruras do escritor, que tem o romance "Eu Sou um Gato" publicado no Brasil, pela Estação Liberdade, em tradução de Jefferson José Teixeira.


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