São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2011

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DIÁRIO DE NOVA YORK

O MAPA DA CULTURA

Tudo acontece ao vivo

Cinema, artes plásticas, música e debates

VINCENT KATZ
TRADUÇÃO PAULO MIGLIACCI

Os nova-iorquinos adoram histórias sobre Nova York -seja "Manhattan", a canção de Rodgers e Hart cantada inesquecivelmente por Ella Fitzgerald; o filme "Manhattan", de Woody Allen, rodado em 1979; ou os "Lunch Poems", poemas escritos por Frank O'Hara em seu horário de almoço, quando ele trabalhava na região central da ilha.
Agora temos um novo filme sobre a cidade que vem não do mundo do cinema, mas do mundo das artes plásticas. Chegou a hora de conhecermos Lena Dunham, 24, roteirista, diretora e estrela de "Tiny Furniture".
Filha da fotógrafa Laurie Simmons e do artista plástico Carroll Dunham, Lena quis contar a história (parcialmente autobiográfica) de Aura, uma jovem que, depois de se formar na faculdade, volta a Nova York e descobre que não consegue mais se encaixar em sua terra natal -nem junto à mãe e à irmã (interpretadas pela mãe e irmã da própria cineasta)-, nem conviver com as suas duas melhores amigas. E, principalmente, não se ajusta ao novo emprego.
O êxito do filme se deve à direção de câmera sutil (de Jody Lee Lipes) e ao roteiro, que oferece um retrato da juventude que é ambíguo sem ser bonitinho nem lúgubre, mas, principalmente, ao desempenho magistral de Lena Dunham. Sua linguagem corporal, expressão facial, senso de tempo e interação com os colegas de elenco são irretocáveis. A HBO a contratou para escrever, dirigir e estrelar uma nova série, "Girls". Aposto que Woody não vai demorar a procurá-la.

Exposição interativa
O New Museum foi reinaugurado com muito alarde três anos atrás, em um novo local, com um novo e elogiado edifício que serve como marco inconfundível no bairro de Bowery. Desde então, o museu, agora instalado em um bairro mais conhecido por suas casas que abrigam a cena da música alternativa, pequenas galerias de arte e restaurantes em ascensão, vem promovendo mostras que fazem barulho.
Atualmente, o New Museum é considerado a mais bem-sucedida das instituições dedicadas a exibir trabalhos de vanguarda. "Free", a exposição em cartaz no momento, serve como exemplo. Ela envolve obras de artistas que tratam de questões como as respostas geradas quando alguém faz uma pergunta em algum fórum na internet ou realiza buscas por obras de arte no site eBay. Para experimentar a exposição em todas as suas possibilidades, o visitante precisa ter paciência para ler os extensos painéis informativos afixados às paredes, mas vale a pena.

Onde ouvir "new music"
Quando os nova-iorquinos desejam ouvir música ao vivo, as escolhas parecem quase infinitas. Da salsa à música eletrônica, tudo está disponível instantaneamente. Por incrível que pareça, para aqueles que desejam ouvir música erudita contemporânea ("new music"), a busca demora um pouco mais, mas o resultado é compensador. Uma das boas possibilidades é o Miller Theater, na Universidade Columbia, que há anos vem apresentando concertos com peças de compositores vivos, muitos deles na faixa dos 30 ou 40 anos. Executadas por especialistas como Jennifer Koh, essas apresentações já se tornaram célebres pela qualidade.
A New York City Opera, sob a direção de George Steele, ex-diretor do Miller, também ganhou projeção com produções ousadas. Em 30 de março, a NYC Opera apresenta "Masada Marathon", de John Zorn, que incluirá a participação de convidados como Cyro Baptista e sua banda Banquet of the Spirits. Outro local onde se pode ouvir "new music" de qualidade é o Merkin Concert Hall. O Ecstatic Music Festival que o teatro promove iniciou sua temporada de três meses em 17/1, e oferece acesso a alguns dos mais recentes destaques dessa produção, trazendo novas misturas inspiradoras de gêneros e instrumentos.

Palco para o debate
Existem muitos lugares em Nova York em que se pode assistir a debates, a maioria dos quais em instituições acadêmicas. Um deles vem atraindo grande público e interesse: o Intelligence Squared U. S., promovido pela Universidade de Nova York.
Inspirada nos debates promovidos na Universidade de Oxford, a série já promoveu 39 debates desde que foi iniciada, em 2006.
Os tópicos incluem "é preciso ou não tolerar as armas nucleares do Irã", "o mercado de arte é ou não menos ético que o mercado de ações", "os Estados Unidos deveriam ou não abandonar seu relacionamento especial com Israel" e, o mais recente, em 11/1, sobre revogar ou não o pacote de saúde de Obama.
Os organizadores das discussões trazem ao palco figuras como Michael Crichton, Katrina vanden Heuvel, Paul Krugman e Karl Rove. Não admira que os eventos estejam sempre lotados.


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