CLEIDE FLORESTA
da Reportagem Local

Nem só estratégias políticas ou questões financeiras. Na hora de escolher um imóvel para abrigar o comitê paulista da campanha do candidato petista à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, os "bons fluidos" também foram levados em conta.
A casa de dois andares, na avenida Pacaembu, bairro nobre da zona sudoeste de São Paulo, foi "avaliada" pela taróloga Maria da Conceição Lira Soares, 57.
O meio utilizado por Conceição não foram as cartas, mas um aura- meter. Esse instrumento é usado, segundo os adeptos dessa prática, para detectar a presença de "focos energéticos" em imóveis.
A técnica, batizada de radiestesia (sensibilidade às radiações, segundo o "Aurélio"), está atraindo a atenção de pessoas interessadas em saber como anda o "astral" de suas casas ou escritórios.
Para isso, não hesitam em pagar a partir de R$ 100 por uma "avaliação" do imóvel, que vai indicar a presença ou não de energias positivas ou nocivas.
Além do PT, até o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) foi seduzido pela novidade e acrescentou ao seu currículo um curso de radiestesia.

Sem esoterismo
Segundo profissionais e estudiosos do assunto ouvidos pela Folha, a radiestesia não é uma ciência esotérica (ligada ao ocultismo), mas um método para detectar a presença de radiações que são invisíveis aos olhos humanos, mas capazes de influenciar as pessoas que circulam pelo local.
"As pessoas têm a tendência de chamar de esotérico aquilo que não vêem. Mas a radiestesia consegue indicar onde existem focos de energia que podem vir do subsolo ou do próprio cosmo", afirma o geólogo Marcos Alves de Almeida, 53.
O físico Adriano Natale, do Instituto de Física Teórica da Unesp (Universidade Estadual Paulista), é categórico: "Não é um método aceito cientificamente".
O engenheiro e físico Vitor Baranauskas, 44, da Unicamp (Universidade de Campinas), faz o meio de campo. Ele diz que a única coisa que vê com racionalidade na radiestesia é a afirmação de que os campos de energia não são homogêneos nos ambientes.
"Mas não consigo entender a forma como eles conseguem detectar isso e mesmo reverter com objetos simples como gráficos etc."
E completa: "Mas, na verdade, existe a fronteira das ciências. E a própria física tradicional é cheia de interrogações".



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