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São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

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RESGATE DA IMAGEM

Número de processos administrativos e disciplinares contra a categoria aumenta 20% em oito anos

Corretor terá de provar proficiência

Fernando Moraes/Folha Imagem
No mercado há anos, Paulo Roberto Figueira, 46, e Carolina Shimbata, 37, tiraram o registro só neste ano


NATHALIA BARBOZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Emitida pelo Cofeci (Conselho Federal de Corretores de Imóveis) em 2002, a Resolução nš 800, que entrou em vigor no mês passado, tem uma missão ousada: resgatar a imagem da profissão.
A receita é amarga e vem sob a forma de um exame obrigatório de proficiência, que será aplicado a todos os formandos de cursos técnicos ou superiores em transações imobiliárias em todo o país.
O bode expiatório são os cursos de técnico em transações imobiliárias (TTI). Segundo o Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) de São Paulo, existem 62 mil corretores no Estado.
João Teodoro da Silva, 51, presidente do Cofeci, afirma que "o objetivo do exame é forçar o aprimoramento dos cursos". "Ninguém sabe como estão as escolas", justifica José Augusto Viana Neto, 52, presidente do Creci-SP.

Processos
Segundo o Cofeci, desde 1996, após a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da educação, cresceu a demanda por esses cursos na mesma proporção em que caiu a qualidade dos corretores.
"O número de processos administrativos e disciplinares -os casos mais graves são de retenção de valores indevidos- aumentou 20% nos últimos oito anos", jus- tifica o presidente do Cofeci.
"Lamento que todas as instituições sejam postas em um mesmo balaio, mas é verdade que algumas colocaram no mercado gente sem preparo", pondera Elaine Guarisi, 38, diretora-executiva do Instituto Monitor.
"As más escolas jogaram o nome dos cursos à distância na lama", afirma Guarisi, do Monitor, uma das três escolas que têm autorização para promover cursos de TTI à distância em São Paulo.
O presidente do Sciesp (sindicato de corretores de São Paulo), Orlando de Almeida Filho, 52, reconhece que, "infelizmente, ainda há 200 cassações de carteiras por ano de corretores que não trabalham de forma séria e honesta".

Rejeição
"Quanto mais exigências forem postas, mais o corretor rejeitará a regularização", alega Valentina Caran, 49, diretora da imobiliária paulista que leva o seu nome.
"E ele vai reclamar de ter mais uma taxa para pagar", afirma Roberto Avante, 52, diretor de recursos humanos e de treinamento da imobiliária Fernandez Mera.
"No começo diminuirá o número de pedidos de regularização", reconhece Viana Neto, do Creci-SP. "Mas a meta é colocar melhores profissionais no mercado."
Hoje, as imobiliárias alegam que desconfiam da qualidade dos cursos e por isso não exigem o registro profissional, embora as grandes recomendem a regularização do profissional no Creci.

Socialites
Na semana passada, o Sciesp ingressou, no Ministério Público, com uma denúncia de exercício ilegal da profissão contra cinco socialites que trabalham na imobiliária Coelho da Fonseca.
Maria Elisa Cortez Salgado, 47, corretora indicada para falar em nome da Coelho da Fonseca, afirma que as socialites trabalham apenas como captadoras de clientes. "Elas não são corretoras e não assinam os contratos", justifica.
Ex-administradora de empresa e no mercado imobiliário há dez anos, ela afirma que "é a vivên- cia que faz o corretor e não o curso de TTI, que é muito fraco".
O engenheiro Paulo Roberto Figueira, 46, da Fernandez Mera, que atua há cinco anos na área imobiliária "após sua microempresa perder participação no mercado", tirou o Creci neste ano.
"Fiz o curso apenas para regularizar minha situação. Não tinha a esperança de acrescentar nenhum conhecimento técnico."
Carolina Shimbata, 37, ex-contadora, está desde 96 na área, mas só fez a prova final do TTI na última terça-feira. Seu objetivo é jamais repetir a atuação de um corretor que a atendeu no passado.
"Senti-me iludida ao saber que ele omitiu a informação de que a área verde que via à frente do apartamento que visitara era, na verdade, um cemitério."



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