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São Paulo, domingo, 06 de abril de 2003

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CONDOMÍNIO

Moradores dizem que pagam a conta dos inadimplentes, mas lei não tira deles "mordomias"

Bom pagador é "punido"

Fernando Moraes/Folha Imagem
Leandro Bosnich fica irritado por bancar várias mordomias dos inadimplentes, como a TV paga


DA REPORTAGEM LOCAL

O que está por trás dos números de inadimplência é o cotidiano dos condomínios. São casos como o de um edifício em Campos Elíseos (zona central de São Paulo). "Reajustamos a taxa do mês de março em 12% por conta dos maus pagadores", explica a síndica Clarice Godói Lima, 64.
No prédio, 13 dos 49 moradores estão em atraso. A luta, agora, é receber, na Justiça, os 16 meses de atraso de um inadimplente. "O fundo de caixa se esgotou, e não dá nem para pensar em pintar o prédio. Ficará tudo para depois."
"O pior é que pagamos a mais, e o inadimplente mantém todos os privilégios", reclama a promotora de vendas Cristina Camerim, 40, que desembolsou R$ 330 no rateio de março do prédio onde mora, no Pacaembu (zona oeste).
A síndica, Fernanda Castilho Rodrigues, 30, confirma que, se não fossem os que não pagam, a taxa seria menor, cerca de R$ 200. "A administradora emprestou dinheiro para o condomínio, que chegou a ter dois apartamentos com débitos de anos e outros com até 18 meses de atraso", explica.
No ano passado, o prédio, de 35 apartamentos, conseguiu receber judicialmente R$ 28 mil dos R$ 40 mil devidos por um proprietário desde 1996. Mas, contrariando as expectativas, três condôminos fizeram acordo no primeiro trimestre. "Acredito que foi fruto do saneamento das contas de cada um deles, individualmente."
Um terço dos 180 apartamentos do condomínio onde mora o analista de sistemas Leandro Bosnich, 28, na zona leste, está inadimplente. O fundo de reserva já foi usado duas vezes, mas o prejuízo mensal é de R$ 30 mil.
Bosnich reclama da lei, que garante ao inadimplente o direito ao usufruto do salão de festas, da piscina ou da quadra do prédio até a sentença final. "É um absurdo ter de pagar pelos inadimplentes. Eles têm direito a tudo no prédio, como a TV por assinatura, coisa que eu, que pago o condomínio em dia, optei por não ter", diz. "O condomínio, hoje em R$ 170, era de R$ 89 em 2000 e cobria tudo."
Para os especialistas ouvidos pela Folha, a sentença judicial é sempre contra o condômino, mas, até lá, os juízes permitem apenas a aplicação da multa sobre o débito e a proibição de voto em assembléias. (NATHALIA BARBOZA)


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