São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

ALERTA
Secretaria de Meio Ambiente estima que 750 mil pessoas morem ilegalmente em áreas preservadas na Grande São Paulo
Ocupação irregular contamina mananciais

PAULA LAGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nada pior que abrir o chuveiro e não encontrar água. Em tempos de estiagem, com rodízio no abastecimento de água em São Paulo, a questão da ocupação urbana em áreas de mananciais preocupa.
O motivo é simples: essas regiões são as responsáveis pela produção e pelo armazenamento hídrico da cidade. Tudo que estiver em sua volta vai influenciar na qualidade da água produzida.
A estimativa da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, segundo levantamento de 1997, é a de que 750 mil pessoas estejam morando ilegalmente em áreas de mananciais na Grande São Paulo, que engloba os sistemas de abastecimento Alto Tietê, Cantareira, Guarapiranga, Cotia e Billings.
A situação mais crítica, segundo Dagoberto Meneghini, 43, diretor da divisão de fiscalização do DUSM (Departamento de Uso do Solo Metropolitano), é a da Guarapiranga, represa responsável pela produção de 20% da água utilizada em São Paulo.
"Nessa bacia, 7% da área está ocupada. Mas a situação está sob controle", afirma Meneghini.
Marta Grostein, urbanista e professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), e Carlos Bocuhy, coordenador da campanha "Billings, Eu Te Quero Viva!", discordam da afirmação de que tudo está sob controle, ao menos quanto à qualidade da água.
"Quando há ocupação, há contaminação. Não só provocada pelo lançamento de esgoto, mas por poluentes liberados pelos moradores", afirma Bocuhy.

Prevenindo o caos
Como a legislação estabelece que, nos locais onde já existem moradores, eles não devem ser retirados, o poder público e as ONGs (Organizações Não-Governamentais) que lidam com o assunto vêm tomando medidas preventivas. Mas tentar impedir que novas construções se firmem nos locais de proteção por meio de distribuição de folhetos e fiscalização nem sempre é suficiente.
"A sociedade permite assentamentos inadequados, e, como não há planejamento ambiental, caminhamos para um estado de calamidade", alerta Bocuhy.
Para Marta, a ocupação desordenada nas regiões de mananciais não se resolve apenas com legislação. "Tem de haver uma estratégia para ampliar a oferta de áreas legais de ocupação para a população", afirma a urbanista.
"Não há dúvidas de que preservar mananciais é fundamental, mas existe uma questão que precisa ser equacionada, a da moradia", completa a urbanista.
Importante também é a disseminação da informação. O Semasa (Serviço Municipal de Água e Saneamento) de Santo André está trabalhando com outdoors.
"Para não ter de ouvir que o interessado no terreno não sabia que a área era de proteção ambiental, identificamos esses locais com outdoors que trazem informações", diz João Ricardo Guimarães Caetano, 36, diretor de gestão ambiental do Semasa.

Camuflagem comercial
A abordagem para venda de terrenos nas áreas de proteção ambiental mudou. Segundo os especialistas, raramente há a figura do loteador. "Essas ofertas diminuíram, mas existem novas formas de ação em que se camufla a presença do loteador", conta Marta.
Um exemplo é a venda desses lotes em imobiliárias. "Recebemos denúncias de imobiliárias que negociam áreas ilegais", afirma Meneghini, do DUSM.
A reportagem da Folha entrou em contato, sem se identificar, com uma das empresas apontadas como vendedora de terrenos em mananciais, mais especificamente no Recanto Campo Belo (zona sul de São Paulo). A informação dada foi a de que a empresa nunca havia negociado terrenos no local.
"Eles já venderam todos os lotes. Só estão esperando o momento certo para construírem na área", afirma Meneghini.


Onde encontrar - "Billings, Eu Te Quero Viva!": tel. 0/xx/11/7280-8021; DUSM: tel. 0/xx/11/3030-6812; Semasa: tel. 0/ xx/11/411-9918.



Próximo Texto: Aberto para reforma: Água Rasa quer síndicos para praças
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.