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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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Estudo da USP, em 550 plantas de apartamentos da cidade de São Paulo, revela que, ao longo do século 20, o quarto está 50,26% menor, e a sala, 37,80%

O APARTAMENTO ENCOLHEU

RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma sensação de aperto se apodera, cada vez mais, dos moradores de apartamentos na cidade de São Paulo. E essa inquietude já pode ser comprovada em números: ao longo do século 20, o quarto teve sua área reduzida em 50,26%, a sala, em 37,80%, e a cozinha, em 13,46% (veja quadro).
As conclusões são de uma pesquisa do Nomads (Núcleo de Estudos sobre Habitação e Modos de Vida) da USP (Universidade de São Paulo), que analisou 550 plantas de apartamentos oferecidos pelo mercado imobiliário. Os dados foram agrupados por década e abrangem de 1900 a 2002.
Nos anos 50, os três-dormitórios tinham 140 m2: quartos com 18,80 m2, cozinhas com 10,44 m2 e salas com 36,78 m2. As medidas mudaram, nos anos 70, para 12,78 m2, 9,55 m2 e 19,68 m2, respectivamente, e a área caiu para 110 m2.
Do ano 2000 para cá, comparativamente, o tamanho das unidades caiu 22,70%-para 85 m2. Os quartos encolheram pela metade -têm 9,35 m2. As cozinhas, agora com 8,10 m2, agrupam equipamentos de lavanderia. As salas estão com 22,86 m2, mas acumulam as funções de estar e de refeições.
"Os apartamentos se compartimentaram. Alguns cômodos sumiram, e outros surgiram. Antes, havia um banheiro para toda a família. Nos anos 60 e 70, a suíte começou a se popularizar", analisa o arquiteto Marcelo Tramontano, 45, coordenador do Nomads.
O apartamento paulistano sofreu sua primeira modificação na década de 30, para se enquadrar no perfil francês da belle époque (século 19). "O modelo atual, com divisão em zonas de serviço, social e íntima, veio para o Brasil na esteira da industrialização."
Foi só nos anos 70, quando o mercado imobiliário deu início ao seu processo de profissionalização, que entrou em cena a visão do lucro, o que homogeneizou as plantas. "O custo dos terrenos e dos materiais começou a subir."
No Japão e na França, a área das habitações aumentou após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Com o desenvolvimento econômico, elas foram ampliadas, mas ainda são pequenas, comparando-se às do Brasil: em Tóquio, o tamanho médio das moradias saltou de 25,41 m2, em 1963, para 36,28 m2, em 1993.



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