São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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Cemitério, favela e feira livre depreciam o valor do imóvel em até 40%; áreas verdes e metrô trazem valorização

O preço da vizinhança

Fernando Moraes/Folha Imagem
DO "PARAÍSO"
Sacada com vista, de um lado, para o cemitério do Morumby. Em geral, existem controvérsias sobre a influência que esse tipo de "vizinho" tem no preço do imóvel: há quem confesse sentir medo e quem prefira a vizinhança "tranquila e fria'

Fernando Moraes/Folha Imagem
AO INFERNO
Do outro lado, na mesma sacada, vista para a favela de Paraisópolis, uma das maiores de São Paulo. Neste caso, não há dúvidas: esse vizinho chega a desvalorizar o imóvel em até 40% pela falta de segurança e infra-estrutura DA REPORTAGEM LOCAL

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"A culpa é sempre do vizinho." Se, na maioria da vezes, isso vale para a pessoa que mora ao lado, saiba que há um outro tipo de morador não só incômodo, mas que também pode depreciar o valor do imóvel em até 40%.
Casas noturnas, delegacias, favelas e presídios são apenas alguns dos casos de vizinhança que têm o seu preço. A maior desvantagem é a potencial perda de valor do bem, seguida de desconfortos como barulho e insegurança.
Imobiliárias consultadas pela Folha dizem que a desvalorização vai de 10% a 40% (veja quadro). "O prejuízo é ainda maior na hora da revenda, quando o comprador fica mais atento a esses detalhes", ressalta o diretor da imobiliária Triumpho, Roque Bono Filho, 45.
O maior risco é na compra do primeiro imóvel, afirma Carla Ponzio, 35, da Bolsa de Imóveis. "As chances de prejuízo crescem, pois, nesse caso, leva-se muito mais em conta o lado emocional."
Para Antonio Carlos Ferreira, 30, da Gafisa, numa mesma rua pode haver um quarteirão bom e outro péssimo de comprar. "Evitamos construir em trechos com feiras livres, pois ninguém quer ter a porta de casa bloqueada."
Tomás Salles, da imobiliária Lopes, acrescenta: "Prédio residencial numa zona comercial é outro exemplo de desvalorização".
Outras áreas que comprovam que a localização gera variação no valor do imóvel são os cemitérios. Enquanto imóveis próximos ao cemitério da Consolação (centro) têm os preços congelados, no Panamby (zona sul), destacam-se os prédios de alto padrão.
"Há quem não goste, mas também muitos não se importam", argumenta Salles, da Lopes. Já Marcos Magalhães, 29, da Lider, diz só ter lançado um residencial perto do cemitério do Morumby após "fortes discussões internas". "Mesmo assim, faremos o prédio de costas para o cemitério", conta.
Alexandre Gehling, 37, engenheiro da construtora Alfons Gehling, garante que o cemitério não inviabiliza as obras. Para ele, que está comercializando dois prédios com vista para o cemitério do Morumby, "muitas pessoas procuram a tranquilidade do local". "Há cliente para tudo."
É o caso da publicitária Maria Alessandra Calheira, 27, que mora ao lado do cemitério da Lapa (zona oeste). "Como o apartamento me agrada, pouco importa a vista." Mas ela confessa que não é o que pensa sua empregada: "Ela morre de medo e pede para sair antes de escurecer".
(CÁSSIO AOQUI E MIRELLA DOMENICH)

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