São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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SÃO PAULO EM ZONAS - NORTE

Incorporadoras diminuíram metragem média dos "populares" nos últimos cinco anos, para caberem no bolso da classe média

Mais barato, apartamento encolhe 10%

EDSON VALENTE
ELENITA FOGAÇA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A zona norte caminha na direção contrária do restante da cidade. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, a área útil dos apartamentos diminuiu, em média, 10% nos 18 distritos da região, contra um aumento médio de 11% em São Paulo. O metro quadrado, por outro lado, ficou 14% mais barato, entre 1999 e 2003.
"É um reflexo da lei da oferta e da procura", avalia Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, 61, consultor da Adviser Consultores e há 30 anos no mercado imobiliário. Fazer apartamentos menores e com preço mais em conta, afirma, foi a forma encontrada pelas incorporadoras para atender à classe média, que, além de não ter acesso fácil a financiamentos, perdeu poder de compra nos últimos anos.
Essa mudança provoca até impacto cultural. "A zona norte tem, tradicionalmente, uma população de origem espanhola e portuguesa, acostumada a morar em casas e que terá de se adaptar aos espaços menores", afirma Alexandre Melão, 36, gerente comercial da Atlântica Residencial.
Antonio Claudio Fonseca, 51, vice-presidente do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), pondera que a diminuição da área dos imóveis não é exclusividade da zona norte. "Tem acontecido na cidade toda, há 20 anos", diz.
Entre 1999 e 2003, de acordo com as incorporadoras que mais investiram na região, predominaram na zona norte os lançamentos de apartamentos compactos de dois e de três dormitórios, os chamados "populares". Esse é o perfil, por exemplo, das 525 unidades empreendidas pela Kallas de 2000 até o ano passado.
"Houve mesmo redução das metragens", confirma Adriana Falleiros, 34, gerente de incorporação. "Vendemos dois-dormitórios de 48 m2 e três-dormitórios de 56 m2 para alcançar o poder aquisitivo do comprador da zona norte, que não é muito grande."
"A velocidade de venda dos dois-quartos é maior pelos perfis de renda e de classe social", corrobora João Marcos Ceglauskis, 27, gerente de marketing da incorporadora Tenda. "Quem os compra são sobretudo os jovens casais que, em geral, já têm um filho e dificilmente buscam um só dormitório", especifica.

Duas faces
Mas mesmo os apartamentos com mais quartos têm vez na região. "Há aumento da procura pelos de três e de quatro dormitórios", afirma Antonio Fernando Guedes, 42, gerente de incorporação da Gafisa. "Em Santana e na Nova Cantareira, onde o poder aquisitivo é maior, há até condomínios de casas de alto padrão."
Para Celso Amaral, 44, da consultoria Amaral d'Avila Engenharia de Avaliações, a zona norte se constitui em uma moeda de duas faces. "No alto de Santana, mais elitizado, existem mesmo apartamentos grandes de quatro dormitórios, com até 300 m2", diz. "Já a parte de baixo da região é mais empobrecida, e os apartamentos de padrão mais baixo diminuíram de tamanho para se adequarem ao bolso da classe média."
Silvia Vitale, 36, coordenadora do curso de arquitetura do centro universitário Uninove, que tem campus na zona norte, diz que "o fato de a região não pertencer à área de rodízio dos carros e de ser bem servida de transportes representa para o mercado imobiliário uma boa demanda de compradores". Outro incentivo, completa, é o fácil acesso à região central.


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