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VISTA
Cidade tem déficit de moradia popular
na periferia, mas setor imobiliário evita
riscos e prefere priorizar o alto padrão
Desequilíbrio distancia bairros de SP
AMARÍLIS LAGE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O efeito dos anos não parece ter
sido tão benéfico na área da habitação para o município de São
Paulo, prestes a completar seu
449º aniversário. Basta observar
nos mapas ao lado a acentuação
de um cenário que, em 1991, já
mostrava desequilíbrios.
Aumenta a pobreza. De acordo
com o Mapa da Exclusão/Inclusão Social, realizado pela PUC-SP
(Pontifícia Universidade Católica), a cidade ganhou 1,1 milhão de
pobres entre 1991 e 2000.
Aumenta a segregação econômica. Bairros nobres, como o Morumbi, onde a renda média de um
chefe de família é de R$ 6.498,
concentram cada vez mais as classes A e B. Bairros pobres, como
o Grajaú, onde a renda fica em
R$ 597, estão ainda mais pobres.
Rumo à periferia
Mudança mesmo, só a que vai
no alto de um caminhão. Móveis e
roupas de quem se vê obrigado,
por questões financeiras, a sair do
centro para a periferia, o que gera
uma "explosão" populacional nas
áreas mais pobres da cidade.
O Jardim Ângela, na zona sul, é
um exemplo. Em nove anos, a população residente no local aumentou 71,3%. É o distrito com
piores indicadores sociais, segundo o mapa elaborado pela PUC.
"São locais que tinham terras livres e baratas. A população empobrecida encontrou nessas áreas
uma alternativa compatível com
seu nível de renda decrescente",
afirma o urbanista Kazuo Nakano, 32, um dos pesquisadores.
Fruto da migração silenciosa,
surge um novo tipo de excluído
social. "Nos anos 90, ampliou-se o
contingente que identificamos
como de uma nova exclusão", diz
Márcio Pochmann, secretário do
Trabalho. "São pessoas brancas,
de famílias pequenas, nascidas
aqui e de maior escolaridade."
Atualmente, 589 mil famílias vivem abaixo da linha da pobreza
na cidade, conforme dados da Secretaria do Trabalho. Isso significa que 589 mil chefes de família
possuem uma renda inferior a 1,5
salário mínimo por mês (R$ 300).
Segundo a Secretaria da Habitação, São Paulo possui um déficit
habitacional de 380 mil unidades.
Um dos problemas para resolver a questão da moradia em São
Paulo está no fato de que, antes de
alcançar a parcela mais pobre da
população, as unidades disponibilizadas pelo governo são adquiridas pela classe média baixa.
"O desafio hoje é conseguir que
o setor privado atinja essa classe
média baixa, para que a produção
pública atenda os mais pobres",
afirma Maria Lúcia Reffinati Martins, pesquisadora do Laboratório
de Habitação, da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP.
Rumo ao Morumbi
No que depender do mercado,
porém, a solução não deve vir tão
cedo, afirma o engenheiro João
Freire d'Ávila Neto, 44, diretor
técnico da Amaral d'Ávila Engenharia de Avaliações.
"Para que sejam feitos investimentos nesse filão, é preciso haver expectativas promissoras para
a classe trabalhadora. Quando o
empresário vê o desemprego, tem
medo de trabalhar nessa área."
Enquanto isso, o setor imobiliário prefere investir nos empreendimentos para o público A e B. O
ano passado foi marcado pelo
lançamento de imóveis de alto padrão. A tendência deve se manter.
"Vai haver valorização imobiliária muito grande nas regiões de
operação urbana", afirma Fábio
Duarte, coordenador de projetos
da Urban Systems Brasil. "Mas
são áreas como Santana e Campo
Belo, que já são boas e vão ficar
mais ricas. Quanto à composição
socioeconômica da cidade, isso
não vai mudar muito", avalia.
O mapa ao lado e os rankings
que aparecem nas próximas páginas foram elaborados pela Urban
Systems Brasil. Os dados foram
obtidos a partir dos censos realizados pelo IBGE em 1991 e 2000 e
trabalhados pela consultoria para
pesquisas sobre o mercado imobiliário. Como o IBGE não classifica a população em classes sociais, a consultoria definiu a divisão conforme o rendimento declarado pelo chefe de família.
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