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"É comum meus filhos caírem no esgoto"
FREE-LANCER PARA A FOLHA
Há três meses Sidneia Cristina
de Lima, 21, realizou um pequeno
sonho: sair do barraco da mãe e
montar o seu, no mesmo terreno
da família, na favela Horizonte
Azul, Jardim Ângela (zona sul).
Seu próximo passo, diz ela, é lutar pela canalização de um esgoto
que corre a céu aberto. Por causa
dele, seus filhos já tiveram complicações como infecções e doenças de pele. "É comum os meninos caírem lá dentro", afirma.
Apesar disso, não quer sair.
"Nasci, cresci e vou morrer aqui."
Jesus Garcia Gonzales, 52, veio
do Amazonas há 30 anos tentar a
sorte em São Paulo. Desde 1999
não tem conseguido mais pagar
aluguel e hoje mora em um "flat"
no segundo piso do prédio abandonado do moinho Matarazzo,
na Favela do Moinho (centro).
Trabalha hoje recolhendo papelão. Casado e com um filho de 11
anos, diz se considerar um "privilegiado" pela moradia: "Aqui não
molha quando chove". Mas todo
o saguão do andar fica alagado.
Blocos do teto da construção de
cinco andares já desabaram.
No térreo, vivem em um barraco o marceneiro desempregado,
hoje catador de papelão, Valdir
Luis de Jesus, 50, e a mulher, Célia
Vilar, 30. Chegaram a entrar num
programa de habitação popular,
mas não conseguiram pagar. Perderam a casa, e logo depois Célia
engravidou. A filha, hoje com
quase dois anos, nasceu cega, surda e muda e está internada em um
hospital da zona norte da cidade.
"Com o que recolho pelas ruas
[o que rende R$ 200 por mês", mal
consigo sobreviver. Quanto mais
sustentar minha mulher, que tem
problemas mentais", afirma ele.
Ele diz já ter perdido a esperança de um dia morar em uma casa
própria. "O futuro para mim é a
comida que terei amanhã."
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