UOL


São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Índice

"É comum meus filhos caírem no esgoto"

FREE-LANCER PARA A FOLHA

Há três meses Sidneia Cristina de Lima, 21, realizou um pequeno sonho: sair do barraco da mãe e montar o seu, no mesmo terreno da família, na favela Horizonte Azul, Jardim Ângela (zona sul).
Seu próximo passo, diz ela, é lutar pela canalização de um esgoto que corre a céu aberto. Por causa dele, seus filhos já tiveram complicações como infecções e doenças de pele. "É comum os meninos caírem lá dentro", afirma.
Apesar disso, não quer sair. "Nasci, cresci e vou morrer aqui."
Jesus Garcia Gonzales, 52, veio do Amazonas há 30 anos tentar a sorte em São Paulo. Desde 1999 não tem conseguido mais pagar aluguel e hoje mora em um "flat" no segundo piso do prédio abandonado do moinho Matarazzo, na Favela do Moinho (centro).
Trabalha hoje recolhendo papelão. Casado e com um filho de 11 anos, diz se considerar um "privilegiado" pela moradia: "Aqui não molha quando chove". Mas todo o saguão do andar fica alagado. Blocos do teto da construção de cinco andares já desabaram.
No térreo, vivem em um barraco o marceneiro desempregado, hoje catador de papelão, Valdir Luis de Jesus, 50, e a mulher, Célia Vilar, 30. Chegaram a entrar num programa de habitação popular, mas não conseguiram pagar. Perderam a casa, e logo depois Célia engravidou. A filha, hoje com quase dois anos, nasceu cega, surda e muda e está internada em um hospital da zona norte da cidade.
"Com o que recolho pelas ruas [o que rende R$ 200 por mês", mal consigo sobreviver. Quanto mais sustentar minha mulher, que tem problemas mentais", afirma ele.
Ele diz já ter perdido a esperança de um dia morar em uma casa própria. "O futuro para mim é a comida que terei amanhã."


Texto Anterior: Subsolo: Periferia e centro polarizam exclusão
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.