São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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LIÇÃO DE CASA

Meta é requalificação

Projeto da USP pode dar nova vida a cortiço

FREE-LANCE PARA A FOLHA

A lição de casa de um grupo de 22 alunos da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP (Universidade de São Paulo) pode mudar a vida de 325 pessoas que se amontoam nos 284 m2 do cortiço da rua Solon, 934, no Bom Retiro (centro de São Paulo).
Comandados pela diretora da faculdade, Maria Ruth Amaral Sampaio, 60, titular da disciplina de habitação popular, eles participam do projeto de requalificação do edifício de oito andares, 74 apartamentos (cerca de 170 cômodos), onde 72 famílias vivem até dentro do fosso do elevador.
Nos anos 80, a construção, abandonada na terceira laje por falência e morte do construtor, foi ocupada por sem-teto. Erguido precariamente pelos moradores, o prédio ganhou mais cinco andares. "Fiquei espantada quando prestei realmente atenção nele. É feio", resume a diretora da FAU.
Mas os problemas do cortiço da rua Solon vão além da aparência. As instalações elétrica e hidráulica até hoje não foram concluídas. A água só tem força para chegar até o quinto andar. Nos demais, só sobe até as 23h30. "A gente se programa e deixa os baldes reservados", diz Gisele Vaz da Silva Lima, 25, moradora do sétimo andar.
O que deveria ser o fosso do elevador foi adaptado e hoje abriga, no primeiro andar, oito pessoas. A dona-de-casa Cleuza Zerbitte, 55, é uma delas. "Como não havia mais cômodos vagos, viemos para cá, mas é bem seguro", conta a líder da Unificação de Lutas e Cortiço, que diz ter pago, há nove anos, R$ 2.000 pelo ""cômodo".
A principal preocupação dos moradores é em relação a incêndios, já que a fiação está exposta e toda emaranhada. "Fora isso, é só alegria. Aqui, todas as crianças estão estudando, e não há roubos ou tráfico", relata Lima. Eles também temem deixar o prédio durante uma possível reforma. "Queremos garantia de volta."
O projeto da FAU teve início em fevereiro deste ano. A etapa inicial já está concluída: um levantamento socioeconômico dos moradores, que serviu de base para entrar com um pedido de usucapião (posse do imóvel aos ocupantes após cinco anos de uso).
"Agora vamos dividir racionalmente o espaço do cortiço de acordo com a composição das famílias", relata André Lopes do Prado, 23, estudante do segundo ano da faculdade, descrente quanto à concretização do projeto, que será apresentado ao secretário municipal de Habitação.
Para Helena Menna Barreto, coordenadora do programa Morar no Centro, da Secretaria de Habitação, há boas chances de o projeto dos alunos entrar no orçamento da Prefeitura e o prédio ser requalificado. "Se for um estudo bem embasado, acredito na aprovação." (ANA PAULA DE OLIVEIRA)


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