São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lei permite a deficiente visual levar o cachorro a hotéis, escritórios, aviões e restaurantes
Cão-guia tem acesso irrestrito

Ciete Silvério/Folha Imagem
O economista Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva, com seu cão-guia, Nina, que tem acesso irrestrito a prédios e meios de transporte


free-lance para a Folha

Existe um tipo de cachorro que tem passe livre em todos os prédios da cidade, tanto comerciais quanto residenciais: o cão-guia.
Segundo a lei federal 92.343, esse tipo de cachorro, conduzindo um deficiente visual, tem acesso irrestrito a todo tipo de ambiente ou meio de transporte, independentemente das convenções de condomínio ou da vontade dos vizinhos.
Mas como o cão-guia é pouco utilizado no Brasil, muitas pessoas acabam se surpreendendo ao encontrar um animal em lojas, restaurantes e bares.
Prevenido, o economista Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva, 42, carrega sempre uma cópia da lei, que saca toda vez que alguém tenta impedir a entrada de Nina, sua labrador de oito anos, seu terceiro cão-guia nos últimos 23 anos.
"Depois de 23 anos utilizando cão-guia, já tenho resposta para tudo e todos", diz.
Silva é consultor em agribusiness, com uma clientela que vai de Tocantins a Paraná. Em suas viagens, ele se hospeda em hotéis com seu cão.
Silva conta que em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, já ouviu reclamações na hora de entrar no mar guiado por Nina. "Já os cachorros vadios, cheios de doenças, e os ratos não são impedidos de entrar na praia", afirma Silva.
Outro lugar em que o cão-guia para cegos costuma ser barrado com frequência é em restaurantes, segundo Silva. Ele conta que já teve de chamar a polícia para entrar em um restaurante para almoçar. "O gerente ficava me cercando com os braços", diz.
Segundo ele, quanto mais caro o restaurante mais fácil é entrar com cachorro. Os restaurantes internacionais em geral não fazem restrição. "Lá fora eles estão mais acostumados com cachorros em restaurantes."
Em sua casa em Campo Limpo, Silva diz que não tem problemas com os vizinhos. "Lugar de cão é com o dono. Se deixar o cachorro sozinho, ele late para reclamar", afirma Silva.
O segredo para o cachorro se acostumar com o dono, segundo Silva, é deixá-lo dormir dentro de casa.
Em seu escritório de trabalho, na avenida Angélica (centro), o economista mantém Nina sempre ao seu lado. "Quando eu não trago a Nina, o pessoal reclama."
Silva vê vantagens no cão-guia em relação à bengala: "Com o cão-guia, eu posso andar na velocidade normal das outras pessoas, desviar de obstáculos altos como orelhões e não pisar em poças de água".



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.