São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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HISTÓRIA NO SUBSOLO

Para não ter a obra embargada, dono de terreno paga estudo

Morumbi tem sítio lítico com mais de 2.000 anos

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O caso mais expressivo de estudo de sítio arqueológico na cidade ocorreu no final de 2001 e início deste ano, no Morumbi, onde foram encontrados vestígios de utensílios da época da pedra lascada (veja quadro abaixo). Os objetos retirados do subsolo ainda estão em análise, mas é provável que tenham mais de 2.000 anos.
"Foi encontrado um importante sítio de pedra lascada, que já estava cadastrado na prefeitura desde a década de 60. Porém o proprietário não sabia de sua existência quando adquiriu o terreno", explica a professora da USP e arqueóloga que trabalhou no estudo, Erika Marion Gonzalez.
O proprietário Gigio Martinez, 32, confirma. Disse que ficou sabendo, por comentário de vizinhos, que seu terreno ficava sobre um sítio arqueológico. Pouco antes de construir, ele procurou a orientação de um amigo arqueólogo, que lhe recomendou procurar a prefeitura e o Instituto de Patrimônio Histórico Nacional.
"Tinha medo de que a obra enfrentasse problemas depois de iniciada." Mas o arquiteto ficou "espantado" com a falta de informação e estrutura do poder público a respeito de um patrimônio de grande importância arqueológica. E reclamou do custo (cerca de R$ 30 mil) que teve de pagar pelo estudo da equipe do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.
O estudo não saiu mais caro porque a USP fez o trabalho de forma voluntária devido ao alto grau de interesse acadêmico. Hoje, apenas três consultorias em arqueologia atuam na capital, mas seus trabalhos estão voltados mais para análise de áreas no interior: obras de linhas de transmissão, represas e rodovias.
"Se a regra fosse aprovada hoje, elas não teriam capacidade de assimilar a quantidade de trabalho", diz Pedro Paulo Funari, professor de arqueologia da Unicamp e da USP. Desde o final da década de 80 e início dos anos 90, quando começou a vigorar a legislação federal sobre o assunto, o trabalho das consultorias aumentou.
"Tenho atualmente pelo menos o dobro de estudos em andamento do que há dez anos", afirma Erika Gonzalez, que, além de professora da USP, é diretora da consultoria Documento Arqueologia.

Custo variável
O preço dos estudos, outra preocupação do mercado, é variável: depende da localização e da complexidade do sítio. A simples prospecção de um terreno urbano custa em média cerca de R$ 15 mil, mas, se for preciso escavação, sobe para no mínimo R$ 25 mil.
Depois de iniciado o estudo de campo, o tempo de realização também é incerto. Pode ser feito em apenas uma semana, graças à utilização de tecnologia de radares, em locais em que não forem encontrados sítios arqueológicos.
Se for localizado um sítio, é preciso realizar a escavação para resgatá-lo e, neste caso, os trabalhos podem demorar de um mês a três anos. Os prazos mais prolongados ocorrem em locais de alto valor arqueológico ou em terrenos de maior complexidade.
"No sítio do Capão, utilizamos o radar de penetração no solo, conhecido como GPR, e demoramos cerca de 30 dias no trabalho de campo", explica o arqueólogo Paulo Zanettini. O GPR realiza escavações virtuais a cada dois centímetros na área analisada e aponta locais que possuem material de provável interesse arqueológico.
Nesses pontos, é realizada uma escavação que utiliza instrumentos simples de engenharia. As ferramentas mais usadas são as pás. Em geral, a profundidade da escavação não ultrapassa 1,5 metro e por isso não há risco de danificar o subsolo.(ASo)


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