São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em Hong Kong, jovem viciado em internet tenta modificar conduta

DA FRANCE PRESSE

Anthony Chan deixa transparecer sinais implícitos de seu vício: sua pele é pálida e coberta de manchas, senta-se timidamente encurvado, esforçando-se para enxergar com sua visão arruinada e tem problemas para se comunicar com os amigos e a família.
Com apenas 16 anos de idade, ele é emocionalmente frágil, fisicamente doente e seu futuro está comprometido pelo vício que o domina. Sua droga é a internet e, quando conectada, faz com que o solitário estudante se sinta no topo do mundo.
"O computador é meu amigo, é a minha vida, minha vida social", diz Chan, mexendo-se em sua cadeira e olhando com os olhos entrecerrados na claridade do escritório profusamente iluminado onde ele é entrevistado.

Milhões on-line
No mundo futurístico brilhante de néon de Hong Kong, o computador é o rei e a internet, seu reino. Cerca de 90% da população possui ou tem acesso a um computador e estima-se que todos os dias 3,5 milhões de pessoas do território, de uma população de 6,8 milhões, conectem-se à rede. Por toda a Ásia, o número de pessoas conectadas à internet atinge centenas de milhões.
Segundo pesquisa realizada pela Universidade Politécnica de Hong Kong, mais de um terço dos 1.002 pais pesquisados em Hong Kong disse que seus filhos estão virtualmente viciados.
Nos EUA, onde os pesquisadores estão se esforçando para investigar o fenômeno, um estudo realizado pela psicóloga especialista em internet Kimberly Young sugere que um em cada dez usuários passe períodos anormais de tempo conectado à rede.
E, a julgar pelo aumento repentino dos casos relatados por organizações de saúde, parece ser uma tendência que está crescendo rapidamente nas regiões mais desenvolvidas da Ásia.
"Não é surpreendente que eles fiquem viciados", diz Wendy Fung, uma assistente social da Sociedade de Bem-Estar Familiar de Hong Kong (Hong Kong Family Welfare Society), que se aproximou de Anthony Chan devido ao seu problema e o está ajudando a lutar contra o seu vício.
Louis Leung, um professor de jornalismo e comunicação da Universidade Chinesa, diz que, para os jovens de Hong Kong, muitos dos quais não sabem o que querem da vida, a internet freqüentemente é irresistível.
"Você pode ser outra pessoa no ciberespaço. Há muitos limites na vida real, há a etiqueta a seguir. Mas, quando você está na internet, você pode ser livre."
Segundo a assistente social Fung, muitas famílias não compreendem a atração que a internet exerce e seus riscos subjacentes. "Para os pais que não estão familiarizados com computadores, é difícil aconselhar seus filhos sobre o seu uso", diz ela.
A expressão "vício por internet" vem sendo usada para descrever o uso problemático, excessivo ou desajustado da rede e resume a situação na qual Chan se encontra.
Em seu livro "Caught in the Net" (Apanhado na Rede), a psicóloga Young, dos Estados Unidos, disse que um viciado em internet é alguém que ficaria on-line por prazer, em média, 38 horas ou mais por semana e escreveu que "viciados em internet podem ser pessoas que estão deprimidas, sozinhas, com medo de sair e envolvidas em conflitos familiares".
Judith Ng, outra assistente social da Sociedade de Bem-Estar Familiar de Hong Kong, ministrou um breve curso para jovens viciados, incluindo Anthony Chan, mas diz que isso não basta. "Aconselhamento ajuda e também a abstinência forçada", diz ela.
Seus cursos tentam despertar a autoconfiança e as habilidades sociais de comunicação e de liderança por meio de tarefas especialmente planejadas e que exigem interação humana.
O curso parece ter algum efeito sobre Chan, que diz ter começado a diminuir o número de horas que passa na internet e que está tentando melhorar as relações com a família. Ele também tentou cultivar outro passatempo, usando o que aprendeu on-line para escrever seus próprios livros. "Isso exige tempo, energia e cooperação da família para dar resultado, mas o vício pode ser curado", diz Fung. "Vimos casos de sucesso, o que nos motiva a prosseguir."


Tradução de Angela Caracik


Texto Anterior: Site dá dicas para romper
Próximo Texto: Diversão: Festas e modelos nuas dão o tom em jogo baseado no mundo da "Playboy"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.