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ANÁLISE
Empresa paga o preço da inovação
RONALDO LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Foi preciso um economista
de inclinação marxista, Joseph
Schumpeter, para conceituar o
fenômeno da "criação destrutiva", pelo qual de tempos em
tempos surgem empresas inovadoras que reúnem o capital e
as pessoas necessários para
mudar a forma como um determinado setor se organiza. E o
Google faz isso como ninguém.
O primeiro segmento reinventado foi o próprio setor de
buscas. Quem ainda se lembra
do AltaVista, do Lycos, do Hotbot, do Infoseek?
Com base em uma ideia inovadora sobre como melhorar as
buscas por conteúdo na rede (e
sem nenhuma campanha de
marketing), ficava claro que o
serviço oferecido pelo site era
superior aos concorrentes.
Outro segmento reinventado
foi o da publicidade on-line.
Os desajeitados banners deram lugar a um modelo sofisticado, simples (como qualquer
boa inovação) e bastante imitado, que descentralizou e personalizou a forma de oferecer
anúncios na rede.
Com isso, passou a gerar boa
parte dos US$ 23 bilhões de receita anual da empresa.
Em face disso tudo, a pergunta é: como competir com o Google? A resposta é complexa.
Vou mencionar só dois pontos.
O primeiro é que o Google
aposta em modelos abertos.
Em vez de trabalhar com padrões tecnológicos próprios,
ele usa standards públicos.
Isso é diferente de políticas
como a da Apple, que trabalha
essencialmente com padrões
próprios, que buscam exclusividade. Para entender melhor
isso, basta pensar na diferença
entre os celulares Nexus One
(Google) e iPhone (Apple).
O Nexus One funciona com
qualquer operadora, usa software livre e interage com qualquer outra plataforma.
Já o iPhone é desenhado para
funcionar essencialmente com
produtos da Apple (diga-se:
iTunes, iTunes Store, Safari e
assim por diante).
O segundo ponto diz respeito
ao custo da inovação.
O Google navega como ninguém em um oceano de incertezas legais. Como não há regras claras para a internet, como ocorre no Brasil e em muitos outros países, os conflitos
acabam tendo de ser resolvidos
pelo judiciário.
Isso gera custos enormes e
imprevisibilidade. O Google
tem capital para lidar com um
cenário turbulento como esse.
Ele pode pagar o custo da inovação. Mas, e outros empreendedores menores?
Com isso, a saraivada de processos que o Google vem sofrendo globalmente tem um
efeito colateral curioso: ela
afasta a concorrência.
Enquanto houver instabilidade das regras do jogo, continuará a existir um só Google.
RONALDO LEMOS é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas e
do Creative Commons Brasil
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