São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2010

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reportagem de capa

Especialista recomenda transparência

AVALIAÇÃO >> Para "biógrafo" do Google, empresa deveria ficar mais aberta à medida que cresce de tamanho e importância

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O atual momento do Google, cheio de críticas e ataques, lembra uma fase de outro gigante da tecnologia, a Microsoft dos anos 1990.
Especialistas ouvidos pela Folha apontam algumas semelhanças entre o Google e a empresa fundada por Bill Gates, na época em que ela era acusada de monopólio e condenada por práticas comerciais ilegais.
John Battelle, autor do livro que conta sobre o crescimento do Google -"A Busca - Como o Google e Seus Competidores Reinventaram os Negócios e Estão Transformando Nossas Vidas"-, diz que, entre os obstáculos enfrentados pela Microsoft que agora desafiam o gigante das buscas, estão o domínio do mercado, sua própria cultura corporativa e a perda de empregados vitais para empresas emergentes e "queridinhas" dos investidores, como Twitter e Facebook.
Porém Richard L. Brandt, que conta a história dos fundadores da empresa no livro "Inside Larry & Sergey's Brain", faz a ressalva: "O Google não é mau como as pessoas pensam".
Um grande trunfo do Google para não se tornar uma nova Microsoft é ter a possibilidade de olhar para o passado e aprender o que fazer ou não.
Para Battelle, a companhia deve evitar a arrogância e decisões que visem apenas o curto prazo.
Já Brandt diz que o Google aprendeu com a Microsoft a fazer lobby de maneira mais inteligente, para não sofrer restrições de governos. "O Google aprendeu a não supor que algo está dentro da lei ou supor que as pessoas vão concordar com o que ele faz", completa ele.
Os dois afirmam que os ataques e críticas sofridos pela companhia californiana não são justificados. Battelle diz: "Algumas reclamações fazem perfeito sentido, mas, no geral, eu acho que a companhia sempre tenta fazer a coisa certa".
Confira abaixo os melhores momentos das entrevistas com os dois. (BRUNO ROMANI)

 

FOLHA - O Google é a "nova Microsoft"? Quais os paralelos e as diferenças entre as duas empresas?
JOHN BATTELLE -
Eu diria que o Google tem muito dos mesmos desafios que a Microsoft tinha nos anos 1990, e se encontra em uma posição parecida: domínio do mercado, cultura de uma grande corporação, perda de funcionários vitais para empresas emergentes e queridinhos dos investidores, como Twitter e Facebook.
RICHARD L. BRANDT - Existe muita gente que parece acreditar que o Google é a nova Microsoft. Eu vejo muitos paralelos, mas digo que o Google não é tão mau como as pessoas pensam.

FOLHA - Os ataques e críticas contra o Google são justificados?
BATTELLE -
O Google é uma companhia muito poderosa cujas ações impactam milhões de pessoas e empresas. Um bom número deles tem reclamações que fazem sentido perfeitamente. Porém, no geral, eu acho que a companhia tenta sempre fazer a "coisa certa". Mas, por vezes, ela vai falhar.
BRANDT - Não são. Eu conheci e entrevistei as pessoas do Google, e eles estão sempre tentando fazer a coisa certa. Eles não estão tentando tirar os lucros das editoras, ou tentando invadir as nossas privacidades, ou tentando dominar nossas vidas.

FOLHA - Quais são as coisas que o Google deve evitar para não ganhar o status de nova Microsoft? O que o Google aprendeu com a Microsoft?
BATTELLE -
Evitar arrogância e decisões "míopes", que visam o curto prazo.
BRANDT - O Google aprendeu que precisa fazer lobby de maneira mais esperta para não sofrer restrições de governos; aprendeu que não deve supor que algo está dentro da lei ou supor que as pessoas vão concordar com o que ele faz. Porém o Google ainda tem um grande problema: Larry e Sergey [fundadores da empresa] não gostam de falar com a imprensa. E, ficando por trás das câmeras, as pessoas nunca vão aprender a confiar neles.

FOLHA - Quais são os benefícios para as pessoas por ter o Google sob constante ataque? E quais são os benefícios que uma companhia feito o Google traz às pessoas?
BATTELLE -
O Google fez um bem imensurável ao mundo. Porém, conforme o seu poder aumenta, ele terá que se tornar mais transparente.
BRANDT - O benefício de ter o Google sempre em xeque é que isso ajuda a manter a companhia honesta. Se o poder corrompe, então isso ajudará a mantê-lo incorrompido. Mas é uma pena que muitos dos ataques são errôneos e geralmente instigados pela concorrência.
Já o público ganha muito por ter uma companhia como o Google. Antes do Google, as ferramentas de busca eram desonestas; antes programas de computador eram caros; antes os celulares eram fechados; antes não podíamos ler livros fora de catálogo; antes era caro fazer uma ligação internacional. O Google não é o único fazendo isso, mas é o líder e faz mais que a maioria.


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