São Paulo, quarta, 3 de dezembro de 1997.




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BILL GATES
Quando teremos uma sociedade sem papel?

Pergunta - Quanto tempo você prevê que vamos levar para virarmos uma sociedade sem papel? Joe Haney (haney1@earthlink.net). Perguntas semelhantes foram feitas por Knowles Howard (Knowles@ncsbst01ca.ntc.nokia.com) e Nathan Bell (nabell@ozemail.com.au). Resposta - O papel não vai desaparecer por completo, mas, nos próximos anos, o uso do papel vai diminuir radicalmente, tanto no escritório quanto em casa.
Os primeiros documentos que vão sair do formato papel serão os curtos ou bem estruturados. Você vai usar o computador para pagar contas e preencher formulários. Quem vai lamentar a redução na papelada? Eu não.
Muitos documentos mais longos vão passar para a tela do computador quando a tecnologia melhorar a ponto de tornar a tela tão fácil e agradável de usar quanto o papel.
Ainda estamos a alguns anos de distância das telas leves, que vão oferecer resolução comparável à da impressão de alta qualidade, mas esse dia vai chegar.
A indústria de viagens já nos dá uma idéia de como a sociedade está se afastando de pelo menos alguns tipos de papelada.
Antigamente, os hotéis e as locadoras de carros enviavam ao consumidor uma confirmação impressa de cada reserva, e alguns ainda o fazem.
Cada vez mais, porém, o agente digita as informações em um computador e passa um número de confirmação pelo telefone.
Se você usa a Internet, muitas vezes pode fazer reservas diretamente e receber seu número de confirmação on line.
Seja qual for a maneira pela qual você fizer sua reserva, provavelmente vai escrever ou imprimir seu número de confirmação em um papel.
Se o fizer, é o único papel envolvido na história. Alguns viajantes guardam seus números de confirmação em computadores do tamanho de carteiras, eliminado o papel completamente.
Ao chegar, você informa seu número ao agente do hotel ou da locadora de veículos, e ele chama na tela as informações relativas a sua reserva. Em muitos hotéis, você também pode fazer o check-out sem usar papel.
Você tem a opção de verificar as despesas que compõem sua conta em qualquer momento, na tela do televisor de seu quarto.
Na manhã em que vai embora, a conta impressa pode ser colocada debaixo de sua porta ou lhe ser entregue na recepção.
Se você sair sem fazer o check-out formal, a conta impressa é enviada por correio. Será apenas uma questão de tempo até você ter a opção de receber a conta por e-mail.
A maioria das companhias aéreas americanas já oferece "viagens sem bilhete", nas quais você recebe um número de confirmação em lugar de um bilhete.
Você pode receber uma cópia de seu itinerário por correio, fax ou e-mail, mas esse pedaço de papel não é necessário para subir no avião.
Às vezes, é possível digitar seu número de confirmação em um terminal no aeroporto e receber seu cartão de embarque sem precisar esperar em uma fila para falar com uma pessoa.
Os outdoors tradicionalmente têm sido feitos de papel impresso, e a maioria ainda o é. Mas quem passa por lugares como a Times Square, em Nova York, ou o bairro Shinjuku, em Tóquio, vê outdoors eletrônicos, com imagens e mensagens coloridas que mudam constantemente.
Os estádios também usam placares eletrônicos. Placas de sinalização eletrônicas também estão começando a aparecer nas rodovias maiores.
Conheço um viajante frequente que guarda uma foto de seus filhos na tela do computador, em lugar de ter a mesma foto em papel, dentro da carteira. A foto fica no painel de seu computador, de modo que ele a vê toda vez que liga o computador em suas viagens. A foto nunca envelhece ou perde a cor.
Fotos digitais são uma idéia cuja hora já chegou.
À medida que a armazenagem eletrônica se torna menor e mais barata, veremos pessoas guardando fotos de família de todo tipo no computador, em vez de no papel.
As fotos mais importantes ainda serão emolduradas ou guardadas em álbuns, mas milhares de outras imagens serão armazenadas em artefatos eletrônicos menores do que uma máquina fotográfica.
É claro que nunca vamos eliminar o papel por completo.
Mas não resta dúvida de que estamos a caminho de uma sociedade em que o papel terá um papel muito menor.
Pergunta - Nos 12 anos que se passaram desde que me tornei funcionário dos Correios dos EUA, vi a indústria dos computadores crescer explosivamente. Com a chegada da Internet e do e-mail, quais são as perspectivas do correio comum? Jerry Wagner (wags@mc.net).
Resposta
- Boa parte do que os sistemas postais do mundo todo entregam hoje é informação apresentada no papel. À medida que as sociedades se afastam do papel, essa parte do trabalho dos correios vai diminuir.
Bilhetes escritos à mão ainda serão entregues pelo correio, e sua raridade lhes revestirá de mais significado. Mas, com o tempo, não haverá muitos outros tipos de papel sendo transportados fisicamente de um lugar a outro.
A maioria dos catálogos será eletrônica -eles poderão ser vistos em um PC ou em um televisor. O e-mail já está substituindo muita correspondência em papel.
Na verdade, em países como os EUA, aposto que hoje já são enviadas mais mensagens pessoais por via eletrônica do que pelo correio tradicional.
O Serviço Postal dos EUA começou a anunciar para os bancos as vantagens de incluírem mensagens de marketing nos extratos impressos que enviam por correio a seus correntistas.
"Esse não é um simples extrato de conta bancária", diz um dos anúncios. "É um espaço de mídia que vale milhões de dólares."
É claro que os bancos estão gastando milhões de dólares para enviar esses extratos impressos.
Suponho que a campanha dos Correios vise incentivar os bancos a continuar gastando esse dinheiro, em lugar de adotarem soluções eletrônicas baratas. É uma briga que os Correios vão acabar perdendo.
A perspectiva positiva para os Correios dos países industrializados está no ramo de entrega de pacotes, que vai crescer vertiginosamente, à medida que cada vez mais consumidores começam a fazer suas compras eletronicamente. É aí que reside o futuro dos sistemas de entrega postal.
As agências dos Correios espalhadas pelas cidades do mundo muitas vezes oferecem mais do que apenas serviços de entrega.
Em muitos países, por exemplo, elas oferecem telefones públicos com discagem interurbana.
Atualmente, um número cada vez maior de governos está transformando as agências dos Correios em locais onde a população tem acesso a vários serviços do governo.
As agências dos correios da Irlanda são equipadas com PCs e aceitam pagamentos de contas de água e luz, vendem bilhetes de loteria, emitem passaportes, fazem o licenciamento de veículos e o pagamento de benefícios, entre eles seguro-desemprego, aposentadoria e pensões alimentícias.
O sistema computadorizado também aceita depósitos, saques, pagamento de juros e transferências eletrônicas de dinheiro.
Como o papel, as agências do correio vão continuar conosco por muito tempo -mas seu papel vai mudar.


Bill Gates, presidente da Microsoft, maior produtora mundial de software para computadores pessoais, alterna artigos e respostas a cartas dos leitores. Será dada preferência a cartas com assuntos de interesse geral. Cartas não publicadas não terão resposta. Tradução de Clara Allain.
Cartas para Bill Gates, datilografadas em inglês, devem ser enviadas à Folha, caderno Informática -al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01202-900, São Paulo, SP- ou pelo fax (011) 223-1644.
E-mailaskbill@microsoft.com


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