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LUZ TOTAL
Conheça o sistema X3, apresentado como revolução na fotografia digital por oferecer qualidade igual à dos filmes
Tecnologia promete perfeição nas cores
ERIC LEVIN
DA "DISCOVER"
Carver Mead, 68, costumava dizer a seus alunos no Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia): "É fácil ter uma idéia complicada. O difícil, muito difícil, é ter
uma idéia simples".
Mead é genial porque já teve
muitas idéias simples ao longo
dos últimos 40 anos. Mais de 50
delas já foram patenteadas, e muitas o envolveram na fundação de
pelo menos 20 empresas, entre
elas a Intel. Sem os transistores especiais que ele inventou, não teríamos telefones celulares, redes
de fibra óptica e comunicações via
satélite. "Ninguém ignora Carver
Mead", disse certa vez Bill Gates.
Mead é vidrado em eletricidade
desde a sua infância em Big Creek,
Califórnia. Seu pai trabalhava numa hidroelétrica que fornecia
energia para Los Angeles, o que
permitia a Mead acompanhar a
instalação de cada novo gerador.
Agora, uma das idéias mais simples de Mead -uma máquina fotográfica digital deveria enxergar
cores da mesma maneira que o
olho humano- está prestes a
mudar tudo na fotografia.
Sua primeira encarnação prática é um sensor (conhecido como
X3) que produz imagens tão boas
quanto as que podem ser obtidas
com filme, ou ainda melhores.
Isso faria do X3 o avanço mais
importante dos últimos 70 anos
no campo da fotografia, mas as
implicações de longo prazo são
ainda maiores. Dentro de um ou
dois anos, você vai poder levar em
suas férias uma câmera verdadeiramente híbrida. Ela será capaz de
registrar imagens paradas em alta
resolução e captar cenas em movimento com qualidade que ultrapassa amplamente a obtida pelas
câmeras híbridas atuais.
A longo prazo, a tecnologia X3
poderá fazer com que até mesmo
um vídeo gravado por um telefone celular tenha resolução suficiente para ser exibido num televisor de tela grande.
Isso permitiria produzir ótimas
cenas de viagem para mandar para a família, em casa, aperfeiçoar
sistemas para evitar colisões entre
automóveis ou, ainda, melhorar a
visão de robôs.
O X3 é o mais recente e mais
inovador produto da Foveon, empresa do Vale do Silício (Califórnia, EUA) que Mead fundou em
1997. O nome da empresa é derivado de "fovea centralis", a parte
da retina humana em que a visão
é mais aguçada e onde se localiza
a maioria das percepções de cor.
A Foveon adotou como missão
outra idéia radicalmente simples
que Mead adora: "Use toda a luz".
Tecnologia
Mas as máquinas fotográficas já
não utilizam toda a luz que entra
na lente? As câmeras que usam filmes, sim, mas as câmeras digitais,
com raras exceções, não. Nas palavras de Mead, "elas jogam fora
dois terços da luz". A frase só faz
sentido se você compreende como funciona um sensor de imagens típico. Basicamente, é um retângulo de silício sobre o qual são
dispostos, formando uma grade,
milhões de pixels (pontos) microscópicos, sensíveis à luz.
Os pixels não têm sensibilidade
para cores. Assim, é preciso que
um "tabuleiro de damas" de minúsculos filtros vermelhos, verdes
ou azuis seja soldado à superfície
do sensor, para que cada pixel
deixe passar uma das três cores
primárias da luz. Ao fazê-lo, ele
bloqueia a passagem das outras
duas cores.
Ao comparar a leitura de uma
só cor de cada pixel com as de
seus vizinhos, o software pode derivar os valores das duas cores que
faltam no local. Isso requer cerca
de cem cálculos por pixel.
O processo é conhecido como
interpolação, mas Mead cunhou
um nome menos caridoso para
ele. "É um embuste", diz.
"Eles [os circuitos da câmera]
recorrem à adivinhação para saber o que jogaram fora. Terminam com muitos dados nas mãos, mas dois terços deles são inventados. Nós terminamos com o mesmo volume de dados, só que os
nossos são reais."
Isso acontece porque o X3 faz o
que, até agora, apenas o filme era
capaz de fazer: medir as três cores
primárias da luz em cada ponto
da imagem, em uma só exposição, em um só plano de imagem.
Essa tarefa pode parecer simples, mas é considerada por especialistas o maior desafio técnico
do registro digital de imagens.
"Os engenheiros vêm tentando
resolver esse problema desde os
primórdios da fotografia digital",
diz Alexis Gerard, publisher da
"The Future Image Report".
Phil Askey, cujo site
(dpreview.com) constitui leitura
obrigatória no setor, diz que o X3
talvez seja o primeiro sensor a
realmente superar o filme.
Câmeras
A única câmera que contém um
sensor X3 hoje é a Sigma SD9, que
custa US$ 1.900, sem contar a lente.
Evidentemente, não será fácil
para a Foveon penetrar num mercado fortemente comprometido
com a tecnologia já existente.
Mas até o final do ano, mais ou
menos, deverá ser possível encontrar câmeras amadoras com o
sensor X3 feitas por outras empresas. Elas terão sensores com
pouco menos da metade do número de pixels que o chip da Sigma e custarão cerca de US$ 500.
Tradução de Clara Allain
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