JOSÉ ANTONIO RAMALHO
especial para a Folha

Ao entrar em um supermercado de informática nos EUA, um casal de 70 anos saía da loja com dois carrinhos abarrotados de caixas.
Observando mais atentamente, o senhor carregava um microcomputador Pentium II de última geração e uma impressora. No carrinho da senhora, o monitor dividia o espaço com um scanner. Havia ainda livros para iniciantes.
A imagem do casal me fez lembrar de nossa realidade aqui no Brasil, tão diferente.
Quantas vezes não encontro pessoas na faixa dos 40 anos dizendo ter medo de um micro?

Pessoas atadas ao passado
Avessas a novidades, elas preferem ficar atadas ao passado e criam barreiras para qualquer novidade tecnológica que aparecer. Que pena. Acho que apenas atividades que demandam alto preparo e resistência física poderiam criar limitação aos idosos.
Meu Deus! Enquanto estamos vivos, temos de usufruir o que a vida nos traz de bom. Naquele mesmo dia em que vi o casal saindo todo contente com seu novo brinquedo -ou quem sabe se eles não estavam começando ali um projeto de um novo negócio-, assisti a dois programas na TV que me deixaram convicto de que a idade não é limitação para o homem.
Um dos programas mostrava um jornalista veterano da TV americana, com 76 anos e em plena atividade, exibindo uma reportagem em que ele fazia uma comparação entre um jovem de 24 anos, um adulto de 44 anos e ele próprio após testes sobre memorização e outras atividades intelectuais.
A reportagem mostrou o impacto da idade nos tecidos do cérebro, provando que a capacidade de memorização entre o mais novo e o mais velho diminuiu 10% ou 15%.
Provou também que quanto mais usarmos o cérebro, melhor ele ficará na idade mais avançada.
Em outro canal, vi um noticiário em que o tema era a discriminação relacionada à idade. Havia inclusive um telefone para denúncias.
Uma pesquisa realizada pela empresa SeniorNet (www.seniornet.com) mostrou que mais de 13 milhões de americanos com mais de 50 anos usam regularmente a Internet. O estudo mostrou que 70% dos idosos que possuem um computador surfam na rede (16,5% dos internautas, nos EUA).
Outro número: 40% de todos os adultos com mais de 50 anos têm um micro em casa, contra 29%, em 1995. De todos os idosos que acessam a rede, 72% usam e-mail, 59% pesquisam sites e 53% acessam noticiários.
Todos esses fatos me levam à conclusão de que nossos idosos, hoje despreocupados com maiores responsabilidades, têm todo o potencial e principalmente tempo para se dedicar ao aprendizado de uma nova tecnologia, que pode lhes trazer muito prazer e permitir que descubram novos mundos e naveguem em novos mares.
Uma nova geração de empregos vai ser criada com a Internet. Surfadores profissionais, ou seja, pessoas que terão como finalidade fazer pesquisas e análises de sites, buscando informações específicas para suas organizações ou clientes criam uma das profissões que mais vão ao encontro dos usuários idosos. Sim, vovôs surfistas, nas ondas da Internet, sem medo de levar um tombo, pois, como dizem, os velhos e as crianças são parecidos.
Por que não usar a naturalidade do lado criança e não se deixar levar pelo medo de errar? Errou? Faça de novo, não é necessário provar nada para ninguém.