|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESTHER DYSON
Logotipos virtuais enfeitam e-mail
Agora que a era do ponto.com chegou ao fim, não está fácil vender qualquer coisa a anunciantes ou a investidores. Como consequência, os empresários digitais
procuram coisas pelas quais os internautas concordem em pagar
on-line. O problema é que a
maior parte do conteúdo e dos
serviços on-line pode ser copiada
-legalmente ou não- sem muitos problemas. Com isso, torna-se
difícil ganhar dinheiro.
Mas o criativo empreendedor
Steve Bowbrick, de Londres, teve
uma idéia diferente. Três anos
atrás, quando não estava tão difícil conseguir dinheiro, Bowbrick
levantou cerca de US$ 10 milhões
(mais outros US$ 2 milhões no
ano passado) para lançar a
Another.com. Há um ano, mais
ou menos, ele afirmou ter 22% de
todos os adolescentes britânicos
que navegam pela rede -ou seja,
cerca de 900 mil jovens- como
usuários registrados.
Do gratuito ao pago
Entretanto o serviço que ele
oferecia era gratuito, e os investidores não se dispuseram a lhe dar
ainda mais dinheiro. Assim, em fevereiro passado, apesar de seus
receios, Bowbrick começou a cobrar de seus usuários.
Os resultados vêm sendo encorajadores. Cerca de 20 mil usuários (ou seja, 10% de seus clientes ativos) já fizeram suas assinaturas, pagando cerca de US$ 20 por
ano. Ainda significa apenas US$ 400 mil por ano, mas é um começo. E Bowbrick está trabalhando para conseguir o que falta.
Mas o que é que a Another.com
vende, afinal? Não são livros. Não
é música. São nomes. Não nomes
de domínio caros, mas simples
nomes de endereços de e-mail.
O que há em um nome?
A idéia é simples. Os usuários
assinam o serviço da Another.
com por cerca de US$ 2 mensais
(ou US$ 20 por ano). Por essa taxa, eles ganham o direito a um
endereço de e-mail com a
Another.com (por exemplo: fulano@another.com), mais 19 outros
selecionados entre 15 mil nomes
de domínio, como @misspiggy.
co.uk (Miss Piggy, personagem de
""Muppet Babies"), @internationalmanofmystery.co.uk (do título
original de ""Austin Powers, um
Agente Nada Discreto"), snow
ball.co.uk (bola de neve) ou @daftasabrush.co.uk (louco varrido).
Bowbrick dirige o serviço aos jovens modernos -os ""digitalmente in". Dê uma olhada nas aulas
de antropologia digital e nas teorias comerciais que compõem os
textos do site:
""Os endereços de e-mail são as
camisetas modernas. Durante décadas, os jovens vestiram camisetas que comunicassem sua personalidade, os grupos aos quais
eram filiados, seu caráter indefinidamente bacana. Em 2001, os
mesmos jovens tiram da Another.
com endereços de e-mail que os
distingam.
Eles não querem ser vistos em
público como uma identidade de
e-mail padronizada e chata, com
uma série de números em frente
ao símbolo @ ou com o nome de
marca de uma empresa qualquer
em seu endereço".
A referência às camisetas não é
aleatória. Afinal o endereço de e-mail é o que você ""veste" quando
está no ciberespaço.
Estatísticas
Bowbrick está repleto de estatísticas interessantes tiradas de
seus clientes. Ele diz que 45% dos
usuários têm entre 15 e 24 anos, e
50%, mais de 18.
O usuário gratuito médio tem
16 anos e seis identidades; o usuário pagante médio tem 22 anos e
também utiliza cerca de seis identidades, embora esse número comece a diminuir à medida que a
idade avança.
De um modo geral, as meninas
e as mulheres tendem a ter mais
identidades. ""Elas captam melhor
o conceito", diz Bowbrick.
""Já os homens, quando chegam
aos 25 anos, já sabem exatamente
quem são."
Chamariz
Mas o plano do empresário
não se limita a vender nomes. Como antigo editor de uma revista
de informática, ele compreende o
modelo comercial das assinaturas
e quer que os usuários sempre renovem as suas.
Além do serviço principal, que
vai funcionar como chamariz, a
empresa, que tem dez funcionários, está começando a obter receita de serviços secundários, como o encaminhamento de mensagens (para que você possa acessar suas mensagens eletrônicas
sem entrar no site da Another.
com), espaço extra para armazenagem de e-mails, páginas pessoais (weblogs) e uma série de outros serviços.
Ele não quer apenas que a
Another.com forneça os nomes
que seus clientes vão usar no ciberespaço -quer que o site os ajude
a anunciar sua presença global
no mundo virtual -como assinantes, é claro.
O ciclo de vida na net
""Somos uma plataforma de
gerenciamento de assinaturas.
Quando possui uma plataforma
de assinaturas, você pode vender
qualquer coisa por meio dela",
diz Bowbrick. ""Estamos tentando
construir o conceito de tempo na
internet, um ciclo de vida.
Nossos clientes já têm um conceito bastante bom da passagem
do tempo; era a indústria que não
o tinha."
Ele acrescenta que o modo de
pensar da indústria reflete ""o caráter extra-real do mundo ponto.
com, um mundo feito de espelhos". Esses outros sites -como os
da Yahoo!, da Microsoft Network
e da Lycos- ainda precisam
criar modelos comerciais que funcionem no mundo real.
""Eles criaram grandes sites, ricos em conteúdo, mas destituídos
de qualquer noção do ciclo de vida dos consumidores -a assinatura, a renovação dela, o atrito e
a reativação", diz. ""Agora, até
mesmo os maiores sites estão tendo de acrescentar a seus produtos
esses conceitos comerciais básicos.
O negócio muito simples de receber uma quantia em dinheiro
uma vez por mês ou por ano era
estranho aos sites movidos por
anúncios."
Idéia inteligente
A idéia de Bowbrick é inteligente. E ficou claro que ele conseguiu chamar a atenção de seu
mercado-alvo. Agora, porém, ele
terá de executar o conceito suficientemente bem para conseguir
sobreviver -que dirá para fazer
sucesso.
O número de clientes pagantes
que tem ainda é pequeno. Mas,
felizmente para ele, com o fim da
expansão das ponto.com e a escassez de dinheiro atual, é pouco
provável que enfrente concorrência de outros serviços gratuitos.
""O clima todo mudou. Quando
fizemos aquela transição, nós
realmente nos destacamos", explica Bowbrick. ""Agora a Yahoo!
e a Hotmail também estão cobrando taxas."
Bowbrick afirma que seu modelo comercial tornará a empresa
rentável quando alcançar o dobro de seu volume atual. ""Nossa
base de custos é uma fração do
que era na época do boom", explica. Se ele conseguir alcançar esse
volume e apresentar lucro -e
continuar a lucrar-, então terá
de fato conquistado o direito de
afirmar que a Another.com é
mais do que apenas mais uma
empresa pontocom.
Esther Dyson edita o boletim tecnológico ""Release 1.0" e é autora do best-seller "Release 2.0". É presidente da EDventure Holdings.
Tradução de Clara Allain.
edyson@edventure.com
Texto Anterior: PDA com celular estimula vendas Próximo Texto: Panorâmica - Leitura: Livro facilita acesso ao mundo da informação Índice
|