São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 2002

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Computador retoca e limpa imagens

DA "TECHNOLOGY REVIEW"

Como Hollywood gira em torno dos astros de cinema, o maior destaque do filme "Náufrago", lançado em 2000, foi a variação de peso do protagonista Tom Hanks. Mas a verdadeira magia por trás do filme só foi revelada muito tempo depois: boa parte da ilha em que o personagem fica preso fora criada por computadores.
Não é segredo que os efeitos especiais de filmes como "Parque dos Dinossauros" e "Guerra nas Estrelas: Episódio II" se devem à tecnologia digital. Mas os computadores também estão tomando outra etapa da realização de filmes: a pós-produção, que envolve edição, ajuste de cores e retoques na imagem. "Nós chamamos essas coisas de efeitos invisíveis", afirma George Joblove, vice-presidente de tecnologia da Sony Pictures. "São detalhes que o espectador não deve perceber."
Atualmente, quase todos os laboratórios fotográficos de Hollywood oferecem serviços digitais. A empresa Technicolor, que em 1916 inventou o primeiro processo fotoquímico bicolor, hoje desenvolve scanners para digitalização de filmes. A Kodak, que fornece 80% do filme usado nos Estados Unidos, criou a empresa Cinesite, especializada em edição e efeitos por computador.

Adoção
Para entender a influência da tecnologia digital no cinema, convém dividir o processo de elaboração de um filme em captação, pós-produção e exibição.
Embora o diretor George Lucas tenha decidido fazer "Guerra nas Estrelas: Episódio II" usando câmeras digitais, a maioria dos filmes ainda é registrada analogicamente. O hardware digital está melhorando muito, sobretudo com o advento das câmeras 24p, que registram 24 imagens por segundo, como as máquinas analógicas tradicionais. Mas a resolução e o contraste das câmeras digitais ainda não se comparam à qualidade do filme fotográfico.
"O filme comum armazena mais informações do que o olho humano pode ver. O sistema digital nem chega perto disso", afirma Brad Reinke, da Cinesite.
Na ponta da exibição, a tecnologia digital ainda não é difundida: dos 35 mil cinemas presentes nos Estados Unidos, apenas cem já adotam projeção digital. Esse sistema exibe os filmes por meio de DVDs de alta resolução ou por transmissão via satélite.
A projeção digital não está sujeita a variações de velocidade e não danifica o filme. Mas, como não representa um avanço tão impactante quanto o cinema falado ou colorido, as salas de exibição relutam em comprar os equipamentos necessários, que custam pelo menos US$ 100 mil e eventualmente têm de ser atualizados. Por outro lado, um projetor analógico, que dura em média 20 anos, custa US$ 30 mil.
Na pós-produção, a tecnologia digital está em via de se tornar o padrão. Atualmente, a edição cinematográfica já é quase exclusivamente feita por computador.

Tecnologia
No centro de operações da Cinesite, que tem o tamanho de um hangar, as virtudes -e as limitações- da pós-produção digital ficam bastante evidentes.
O processo começa na sala de escaneamento, onde os filmes são digitalizados por um feixe de raios laser. Como os pontos que formam uma imagem digital tendem a uma certa imprecisão, filmes escaneados na resolução padrão (2.048x1.556 pontos) podem parecer sutilmente desfocados.
Isso pode ser contornado usando uma resolução maior (4.100x 3.000), mas o arquivo gerado é tão grande que a digitalização de um filme nesse formato leva 12 dias.
Como a diferença é quase imperceptível num cinema comum, o formato de 4.100 pontos só é usado em salas do tipo Imax, que possuem telas gigantes.
Depois de digitalizado, o filme pode seguir três caminhos: passar pela área de efeitos especiais, ir ao setor de masterização digital, que acerta as cores da imagem e faz conversões para DVD, ou chegar ao departamento de restauração.
Os técnicos em efeitos especiais recebem boa parte da atenção quando um filme é lançado. Mas os profissionais de masterização provavelmente contribuem mais para a aparência de uma obra.

Restauração digital
Do ponto de vista tecnológico, os maiores feitos acontecem no setor de restauração digital, que remove riscos e manchas de filmes danificados. A empresa usa o programa Bitzer, que corrige automaticamente defeitos de imagem, mas o processo tem de ser concluído manualmente.
"Às vezes é tedioso", afirma Corinne Pooler, da Cinesite. Usando o software Moviepaint, os profissionais de restauração corrigem quadro a quadro os trechos danificados. Atenção é fundamental.
Ao apagar as câmeras usadas numa cena de pára-quedismo com 3.000 quadros (125 segundos), um profissional eliminou o que lhe pareciam ser pontinhos pretos sem relevância. Um colega viu o resultado e proclamou: "Você apagou os pára-quedas!".



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