São Paulo, quarta, 15 de outubro de 1997.




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ANO 2000
No pior cenário, idosos deixam de receber aposentadoria, pacientes perdem consultas e avião não decola
Bug do milênio provoca problema social

da Reportagem Local

Coisas incríveis podem acontecer no dia-a-dia de cada um por obra de um computador despreparado para o ano 2000. Ficar sem luz é uma delas.
A máquina da Eletropaulo, por exemplo, programada para interromper o fornecimento de energia a partir de um certo número de contas em atraso, pode considerar o débito de um mês um século, cortar a luz e emitir uma multa.
Para evitar que isso aconteça, a empresa tem 30 funcionários trabalhando no ajuste e, se necessário, pode contratar serviços externos e até chamar técnicos aposentados, segundo Jamil Patrick Jr., superintendente de informática.
E se os computadores das empresas de processamento de dados dos governos estaduais não se ajustarem, o que acontece?
Em São Paulo, uma tragédia. Pacientes do Hospital das Clínicas não seriam atendidos, menores teriam registros de identidade com mais de cem anos e presos poderiam ser soltos antes do tempo, entre outras coisas.
No governo paulista, um golpe na receita. "Para calcular a dívida de um contribuinte do ICMS, a máquina toma a data de hoje e subtrai o ano em que começou. Se subtrair de 00, o resultado dá negativo e o Estado deixa de cobrar", explica René Lapyda, diretor de informática da Prodesp.
Para ele, o bug do milênio é um problema social com capacidade de causar danos irreparáveis.
Sincronismo
Na Volkswagen do Brasil, a preocupação é com o sincronismo. A montadora, ligada on line com bancos, revendedores, fornecedores, governo, matriz e subsidiárias espalhadas pelo mundo, teme que seus parceiros não estejam prontos na virada do século.
"Se entender 00 como 1900, o Renavam, que cadastra e emplaca os veículos, vai dizer que o carro não existe. Se o Renavam se ajusta e a GM, não, os dados ficam inconsistentes", avalia Carlos Roberto Boschetti, diretor de tecnologia.
Já a Petrobrás, de acordo com Osvaldo Siqueira, coordenador, faz acertos internos e se prepara para a interligação evitando o sincronismo -programas tradutores devem permitir a conversa entre sistemas com e sem ajuste.
Em outras duas empresas, o bug não é problema. Segundo Edgar Linguitte, da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo, o paulistano pode ficar tranquilo no trânsito.
O poderoso sistema que controla 1.514 semáforos inteligentes, implantado em 1995, "tem tecnologia de auto-resolução, cria variáveis, busca datas e trabalha com fuso horário", afirma Linguitte.
Controladora dos pousos e decolagens de aviões de toda parte, a toda hora, a Infraero já tem 90% de seus sistemas ajustados, graças ao processo de modernização iniciado há dois anos, segundo Wagner Mussato, assessor da presidência.
No Serpro, que processa dados do governo federal, a maior dificuldade é sensibilizar as pessoas, interna e externamente, para a complexidade da questão.
"Isso leva tempo", diz Ricardo Pupo Moreno, coordenador-geral do projeto 2000 do Serpro. "Sinto que tem gente que ainda não acordou. Quando acordar, pode ser muito tarde." (LUCIA REGGIANI)



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