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São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2003

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Alemanha realiza maior operação

SILVIA BITTENCOURT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE HEIDELBERG

Um trabalho extenso e cheio de obstáculos. Assim definiu o investigador alemão Torsten Kobow, do Departamento da Polícia Criminal do Estado da Saxônia-Anhalt (centro do país), a procura pelos criminosos que divulgam na internet fotos e cenas pornográficas de jovens e crianças.
Kobow chefiou, na Saxônia-Anhalt, a Operação Marcy, que há duas semanas levou à apreensão na Alemanha de milhares de vídeos e disquetes e à busca em mais de 500 apartamentos e escritórios. Foi a maior operação já realizada no país.
Participaram centenas de investigadores dos departamentos federal e estaduais da Polícia Criminal da Alemanha, que passaram meses à frente de micros buscando fotos e filmes suspeitos.
Para um trabalho desse tipo, os investigadores contam com informações vindas de ONGs que lutam contra a pornografia infantil e dos próprios internautas.
Entre as ONGs que colaboram com o trabalho dos investigadores está a Innocence in Danger, com sede na França, que calcula haver hoje mais de 180 mil sites com conteúdo pedófilo e 4.500 salas de chat a respeito.
Todos os departamentos estaduais da Polícia Criminal da Alemanha têm um site de combate à pornografia infantil, que explica como agir no caso de recepção de material pedófilo. Eles recomendam que o internauta anote e passe à polícia todas as informações possíveis sobre a origem do material, mas sem abri-lo. Abrir e-mail com conteúdo pedófilo ou fazer investigação particular torna o internauta suspeito e punível.
Com sorte na busca, os policiais conseguem entrar nos fóruns e chats, pelos quais os pedófilos trocam fotos e filmes. Ao chegar a um site, os policiais colocam-no num sistema de busca, que lhes fornece o Internet Protocol (IP), o endereço numérico de cada computador ligado à rede. "Equivale à impressão digital do internauta", diz Kobow.
O IP leva, na maioria das vezes, a um provedor, que, na Alemanha, é obrigado a dar informações sobre os responsáveis pelo site e sobre cada usuário que clica nele.
Além disso, os provedores frequentemente apagam o IP poucos dias depois, o que faz uma determinada pista se perder no nada. Os promotores alemães estão, por isso, pedindo leis que obriguem os provedores a arquivar os IPs.
Ao identificar um suspeito, a polícia vai atrás dos dados encontrados no computador dele, como arquivos e e-mails de possíveis cúmplices, os apelidos e pseudônimos com os quais pedófilos navegam na rede. Esses nomes são repassados aos provedores, capazes de identificar em quais grupos e salas os suspeitos circulam.
Muitos pedófilos, porém, evitam trocar fotos e filmes em chats e fóruns. Usam e-mail ou grupos de chat (IRC) para trocar arquivos reservadamente e sem pistas.
Iniciada no ano passado, a Operação Marcy já identificou 530 alemães e 26 mil internautas em 166 países, suspeitos de promover pornografia infantil na rede. Entre eles estão 235 brasileiros, cuja identidade foi passada para a Polícia Federal do país.


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