São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 2000

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MEDICINA DE PONTA
Pesquisa do MIT desenvolve sistema para acompanhar saúde, marcar consulta e indicar tratamento
"Anjo da guarda" será testado na Internet

ALISON MOTLUK
DA "NEW SCIENTIST"

Você faz um exame e seu médico diz que sua pressão está boa. Você pergunta o que quer dizer "boa", ele sorri e diz para que não se preocupe. Suas queixas são consideradas "normais", e você não se preocupa em diferenciar bilirunina de biorritmo.
Aí você chega aos 40, muda-se para uma nova cidade e desenvolve uma doença no fígado. O novo médico pergunta sobre seus antecedentes. Você percebe que, na prática, não sabe nada sobre eles.
É aí que entra Peter Szolovits, cientista da computação no MIT. Szolovits está criando um companheiro eletrônico pessoal que administraria sua ficha médica do berço ao túmulo. Ela pertenceria a você, não ao seu médico.
Mas unificar fichas e colocá-las nas mãos dos pacientes é só o começo da idéia de Szolovits. O que ele quer é um sistema inteligente que não só armazene informação, mas a reúna ativamente, interprete-a e alerte o paciente quanto a possíveis perigos e para as mais recentes pesquisas médicas. Não só isso: o sistema aprenderia ainda a conhecer suas preferências, ajudaria a marcar consultas e ofereceria conselhos amistosos. Por isso é adequado que Szolovits o tenha batizado de "anjo da guarda".
Fantasioso? Talvez não. Ainda neste ano, os "anjos da guarda" de Szolovits serão ativados para cem recém-nascidos em Boston. Como supostamente fazem os anjos, eles vão ficar flutuando invisíveis. Na prática, são contas em um computador seguro.
Os pais que matricularem seus filhos receberão um envelope com um endereço na Internet, um nome de usuário e uma senha para verificar a ficha médica de seus filhos.
Os "anjos" os acompanharão desde seu nascimento, registrando todos os eventos médicos pelos quais passarem. Com o tempo, os "anjos da guarda" vão comentar o desenvolvimento das crianças, oferecer dicas úteis, enviar alertas de vírus ou drogas e explicar problemas médicos.
Szolovits reconhece que as questões que eles querem responder nesse primeiro estudo são básicas. As pessoas conseguirão entender como usar o sistema? Os pediatras cooperarão?
Minutos depois de seu nascimento, uma amostra do sangue de um bebê é normalmente retirada para exames de doenças como sífilis e fenilcetonúria.
Os resultados são reportados ao Estado e, em caso de anomalia, ao pediatra. "Mas não a você", diz Szolovits. Para os cem bebês envolvidos na primeira pesquisa, o programa receberá a informação e oferecerá dicas sobre como interpretá-la.
Também registrará detalhes do nascimento -duração do parto, cirurgia, aparência do bebê e traços genéticos relevantes.
À medida que cada bebê se desenvolve, o sistema acompanha seu progresso. Visitas ao pediatra acontecem na segunda e sexta semana de vida. O peso e altura do bebê são medidos, e ele recebe vacinas contra doenças comuns. O "anjo da guarda" anotará tudo.
Parte da informação terá de ser inserida manualmente em um computador, mas todos os dados de laboratório serão transmitidos automaticamente.
As pessoas terão acesso aos dados com um PC, um notebook, um palmtop ou qualquer aparelho que surgir. Os dados serão mantidos em um servidor de acesso público seguro. "Se você codifica bem os dados", diz Szolovits, "o melhor local de armazenagem é um sistema público".


Tradução de Paulo Migliacci.

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