|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CIÊNCIA
Programas associam notas, timbres, ritmos e instrumentos musicais específicos a sequências de genes e proteínas
Genes tornam-se música no computador
CATHERINE GREENMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"
Se você fosse uma música, que
música seria? Agora, graças ao
oferecimento de dados sobre o
DNA humano na internet e a programas que convertem textos de
sequências de DNA em música,
você pode descobrir.
Os programas usam regras diferentes para fazer as conversões,
mas todos usam a sequência de
nucleotídeos do DNA ou a sequência de aminoácidos que
compõe uma proteína -ou ambas- para determinar timbre,
ritmo e instrumentação.
Ou seja, traduzem sequências
de DNA em música de maneira
parecida com a que células as
transformam em aminoácidos
para criar uma proteína.
Cada proteína -há cerca de 100
mil no corpo- é feita de uma cadeia de aminoácidos. Há 20 tipos
de aminoácido, e a cadeia pode
variar em tamanho, de dezenas a
milhares de aminoácidos.
Então o que leva cientistas da
computação, desenvolvedores e
compositores a gastar horas codificando montes de sequências de
DNA em programas musicais?
Para muitos, curiosidade. "Eu
me perguntava qual seria o som
de uma proteína", disse Mary Anne Clark, professora de biologia
da Texas Wesleyan University.
"Assim que escutei, fiquei realmente intrigada, porque os padrões eram muito interessantes."
Clark disse que a calmodulina,
uma proteína que se prende ao
cálcio e regula funções celulares,
interessou-a por causa de suas repetições. "A repetição dá a ela
uma bela estrutura musical", diz.
Outros dedicam-se à tarefa por
acreditar que ouvir o código na
forma musical dará às pessoas comuns um melhor entendimento
do funcionamento das proteínas.
A cientista molecular Linda
Long, por exemplo, está preparando para o centro de ciência inglês Explore-at-Bristol a exposição Escute Seu Corpo, na qual visitantes poderão escutar proteínas traduzidas para músicas.
Ross King, cientista da computação da University of Wales, e o
músico escocês Colin Angus desenvolveram em 1996 um programa chamado Protein Music, que
atribui notas musicais para os
quatro nucleotídeos presentes em
sequências de DNA humano.
Para os agudos, as bases nitrogenadas -citosina, adenina, guanina e timina (C, A, G e T)- foram associadas às notas dó, lá, sol
e mi (C, A, G e E). Para os graves,
King atribuiu notas musicais aos
aminoácidos. "Os 20 aminoácidos têm propriedades diferentes
-uns são oleosos, outros grandes ou pequenos, outros têm cargas positivas-, então as representamos musicalmente."
Em 2000, King e o estudante
Andreas Karwath reescreveram o
Protein Music em Java, para que
ele pudesse funcionar em qualquer PC com Windows e placa de
som. O soft está em www.aber.ac.uk/phiwww/pm. Já o SoftStep -criado por John Dunn, que
possui uma empresa de software- permite que o compositor
mapeie os quatro nucleotídeos e
os 20 tipos de aminoácido em
uma pauta de música.
O compositor pode associar
timbres, ritmos e instrumentos
para os vários aminoácidos. O
programa completo está disponível em www.algoart.com por US$
169, e uma versão básica pode ser
baixada gratuitamente.
Sequências de DNA podem ser
encontradas em sites como o do
National Institutes of Health
(www.nih.gov) e o do Swiss Protein Bank (www.expasy.ch/sprot/sprot-top.html).
DNA e música clássica
Frequentemente fala-se de como sequências de DNA se parecem com música clássica. "Música tem começo, meio e fim, e assim são os genes", diz Ross King.
Qual é a sonoridade do DNA
humano? "Como em uma peça de
Bach, há um motivo e, então, as
variações", afirma Dunn. "Você o
escuta tocado de diferentes maneiras, em que ele é cortado, tocado para frente e tocado para trás.
Brent Hugh, um professor-assistente de piano na Missouri
Western State College que escreveu seu próprio software e lançou
um CD chamado "Music from the
Human Genome", disse: "A abertura de um cromossomo 23 realmente despertou meu interesse.
Tinha um ritmo interessante, era
quase como uma fuga".
Todd Barton, professor de música eletrônica da Southern Oregon University que usou o Soft-
Step para desenvolver seu próprio
método de transformar as sequências em músicas, disse que
agora percebe o que pode ser revelado ao escutar padrões de
DNA. "Os ritmos são assimétricos, mas muito atraentes. Você
realmente pode sentir o momento em que há semelhanças e diferenças", afirma.
Tradução de Marcelo Grimberg
Texto Anterior: Hugo Próximo Texto: Espetáculo faz sons interativos Índice
|