São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2001

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CIÊNCIA

Programas associam notas, timbres, ritmos e instrumentos musicais específicos a sequências de genes e proteínas

Genes tornam-se música no computador

CATHERINE GREENMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"

Se você fosse uma música, que música seria? Agora, graças ao oferecimento de dados sobre o DNA humano na internet e a programas que convertem textos de sequências de DNA em música, você pode descobrir.
Os programas usam regras diferentes para fazer as conversões, mas todos usam a sequência de nucleotídeos do DNA ou a sequência de aminoácidos que compõe uma proteína -ou ambas- para determinar timbre, ritmo e instrumentação.
Ou seja, traduzem sequências de DNA em música de maneira parecida com a que células as transformam em aminoácidos para criar uma proteína.
Cada proteína -há cerca de 100 mil no corpo- é feita de uma cadeia de aminoácidos. Há 20 tipos de aminoácido, e a cadeia pode variar em tamanho, de dezenas a milhares de aminoácidos.
Então o que leva cientistas da computação, desenvolvedores e compositores a gastar horas codificando montes de sequências de DNA em programas musicais?
Para muitos, curiosidade. "Eu me perguntava qual seria o som de uma proteína", disse Mary Anne Clark, professora de biologia da Texas Wesleyan University.
"Assim que escutei, fiquei realmente intrigada, porque os padrões eram muito interessantes."
Clark disse que a calmodulina, uma proteína que se prende ao cálcio e regula funções celulares, interessou-a por causa de suas repetições. "A repetição dá a ela uma bela estrutura musical", diz.
Outros dedicam-se à tarefa por acreditar que ouvir o código na forma musical dará às pessoas comuns um melhor entendimento do funcionamento das proteínas.
A cientista molecular Linda Long, por exemplo, está preparando para o centro de ciência inglês Explore-at-Bristol a exposição Escute Seu Corpo, na qual visitantes poderão escutar proteínas traduzidas para músicas.
Ross King, cientista da computação da University of Wales, e o músico escocês Colin Angus desenvolveram em 1996 um programa chamado Protein Music, que atribui notas musicais para os quatro nucleotídeos presentes em sequências de DNA humano.
Para os agudos, as bases nitrogenadas -citosina, adenina, guanina e timina (C, A, G e T)- foram associadas às notas dó, lá, sol e mi (C, A, G e E). Para os graves, King atribuiu notas musicais aos aminoácidos. "Os 20 aminoácidos têm propriedades diferentes -uns são oleosos, outros grandes ou pequenos, outros têm cargas positivas-, então as representamos musicalmente."
Em 2000, King e o estudante Andreas Karwath reescreveram o Protein Music em Java, para que ele pudesse funcionar em qualquer PC com Windows e placa de som. O soft está em www.aber.ac.uk/phiwww/pm. Já o SoftStep -criado por John Dunn, que possui uma empresa de software- permite que o compositor mapeie os quatro nucleotídeos e os 20 tipos de aminoácido em uma pauta de música.
O compositor pode associar timbres, ritmos e instrumentos para os vários aminoácidos. O programa completo está disponível em www.algoart.com por US$ 169, e uma versão básica pode ser baixada gratuitamente.
Sequências de DNA podem ser encontradas em sites como o do National Institutes of Health (www.nih.gov) e o do Swiss Protein Bank (www.expasy.ch/sprot/sprot-top.html).

DNA e música clássica
Frequentemente fala-se de como sequências de DNA se parecem com música clássica. "Música tem começo, meio e fim, e assim são os genes", diz Ross King.
Qual é a sonoridade do DNA humano? "Como em uma peça de Bach, há um motivo e, então, as variações", afirma Dunn. "Você o escuta tocado de diferentes maneiras, em que ele é cortado, tocado para frente e tocado para trás.
Brent Hugh, um professor-assistente de piano na Missouri Western State College que escreveu seu próprio software e lançou um CD chamado "Music from the Human Genome", disse: "A abertura de um cromossomo 23 realmente despertou meu interesse. Tinha um ritmo interessante, era quase como uma fuga".
Todd Barton, professor de música eletrônica da Southern Oregon University que usou o Soft- Step para desenvolver seu próprio método de transformar as sequências em músicas, disse que agora percebe o que pode ser revelado ao escutar padrões de DNA. "Os ritmos são assimétricos, mas muito atraentes. Você realmente pode sentir o momento em que há semelhanças e diferenças", afirma.


Tradução de Marcelo Grimberg


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