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COMPUTAÇÃO AFETIVA
"Queremos computadores menos irritantes"
especial para a Folha
A computação afetiva pode permitir a criação de sistemas que
tornem as pessoas mais produtivas, acredita a engenheira eletrônica Rosalind Picard, fundadora e
diretora do Grupo de Pesquisa
em Computação Afetiva do Media Lab do MIT.
Em entrevista por e-mail, Picard, que é casada, tem um filho e
sete computadores em casa, fala
sobre as perspectivas de sua obra.
Folha - Por que a senhora decidiu começar a pesquisa em
computação afetiva?
Rosalind Picard - Eu descobri
que as emoções não eram o que
eu pensava: elas têm um papel
central na inteligência humana,
ajudando na tomada de decisões,
memória, atenção, motivação e
comunicação. Isso acontece mesmo quando imaginamos que não
estamos sendo guiados pela emoção. Sem emoções, as pessoas não
seriam tão inteligentes quanto
são. Os sistemas de inteligência
artificial sempre negligenciaram
as emoções, assim como os cientistas de computação, e talvez por
isso as pessoas se irritem tanto
com a informática. Eu pensei então em incluir algumas habilidades relacionadas à emoção nos
computadores, para diminuir a
frustração e aumentar a produtividade das pessoas.
Folha - Qual é o grande benefício da computação afetiva para a vida cotidiana?
Picard - Isso ainda está no futuro, mas a idéia é construir computadores muito menos irritantes e
que não intimidem as pessoas,
ajudando-as muito mais.
Folha - Qual é o maior perigo
da computação afetiva? Empresas e escolas não poderiam monitorar indevidamente as emoções das pessoas?
Picard - Eu tenho muita preocupação sobre privacidade e má utilização dessas tecnologias, e nossas pesquisas são sempre para
construir aparelhos que estejam
sob o controle do usuário. Mas o
maior perigo, que mesmo hoje já
observamos, é que os computadores filtram as emoções das pessoas. Sabemos o que é dito, mas
não como foi dito. Comunicamos
palavras sem a sua devida expressividade emocional. Há relatos de
autistas, que têm dificuldades em
entender informações emocionais em conversas presenciais,
que declararam adorar estar na
Internet porque lá todos têm dificuldade para comunicar suas
emoções. Em um certo sentido,
todos são autistas na Internet. Eu
temo que as pessoas percam suas
habilidades de comunicação
emocional com o uso de tecnologias que impossibilitam esse tipo
de comunicação.
Folha - Quais produtos podemos esperar num futuro próximo?
Picard -Estamos desenvolvendo aparelhos que dão às pessoas
mais formas de comunicar suas
emoções para os computadores e
também por meio deles. Mas somos um laboratório de pesquisa.
E não posso dizer quais dos nossos protótipos vão se transformar
em produtos.
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