São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2000


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COMPUTAÇÃO AFETIVA

"Queremos computadores menos irritantes"

especial para a Folha

A computação afetiva pode permitir a criação de sistemas que tornem as pessoas mais produtivas, acredita a engenheira eletrônica Rosalind Picard, fundadora e diretora do Grupo de Pesquisa em Computação Afetiva do Media Lab do MIT.
Em entrevista por e-mail, Picard, que é casada, tem um filho e sete computadores em casa, fala sobre as perspectivas de sua obra.

Folha - Por que a senhora decidiu começar a pesquisa em computação afetiva?
Rosalind Picard -
Eu descobri que as emoções não eram o que eu pensava: elas têm um papel central na inteligência humana, ajudando na tomada de decisões, memória, atenção, motivação e comunicação. Isso acontece mesmo quando imaginamos que não estamos sendo guiados pela emoção. Sem emoções, as pessoas não seriam tão inteligentes quanto são. Os sistemas de inteligência artificial sempre negligenciaram as emoções, assim como os cientistas de computação, e talvez por isso as pessoas se irritem tanto com a informática. Eu pensei então em incluir algumas habilidades relacionadas à emoção nos computadores, para diminuir a frustração e aumentar a produtividade das pessoas.

Folha - Qual é o grande benefício da computação afetiva para a vida cotidiana?
Picard -
Isso ainda está no futuro, mas a idéia é construir computadores muito menos irritantes e que não intimidem as pessoas, ajudando-as muito mais.

Folha - Qual é o maior perigo da computação afetiva? Empresas e escolas não poderiam monitorar indevidamente as emoções das pessoas?
Picard -
Eu tenho muita preocupação sobre privacidade e má utilização dessas tecnologias, e nossas pesquisas são sempre para construir aparelhos que estejam sob o controle do usuário. Mas o maior perigo, que mesmo hoje já observamos, é que os computadores filtram as emoções das pessoas. Sabemos o que é dito, mas não como foi dito. Comunicamos palavras sem a sua devida expressividade emocional. Há relatos de autistas, que têm dificuldades em entender informações emocionais em conversas presenciais, que declararam adorar estar na Internet porque lá todos têm dificuldade para comunicar suas emoções. Em um certo sentido, todos são autistas na Internet. Eu temo que as pessoas percam suas habilidades de comunicação emocional com o uso de tecnologias que impossibilitam esse tipo de comunicação.

Folha - Quais produtos podemos esperar num futuro próximo?
Picard -
Estamos desenvolvendo aparelhos que dão às pessoas mais formas de comunicar suas emoções para os computadores e também por meio deles. Mas somos um laboratório de pesquisa. E não posso dizer quais dos nossos protótipos vão se transformar em produtos.


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