São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2008

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Mulheres se afastam das ciências da computação

Nos EUA e Canadá, presença feminina é de apenas 12% entre os diplomados em cursos de graduação em universidades que também oferecem doutorado

RANDALL STROSS
DO "NEW YORK TIMES"

Ellen Spertus, estudante de pós-graduação do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), perguntava-se por que o encontro sobre computação de que participara quando jovem tinha uma proporção de seis homens para cada mulher.
E por que apenas 20% dos estudantes de graduação eram do sexo feminino?
Em 1991, ela publicou um artigo de 124 páginas, "Why Are There So Few Female Computer Scientists?" (por que há tão poucas cientistas de computação?, em tradução livre), no qual catalogou preconceitos que desencorajam mulheres a buscar uma carreira na área.
Hoje, há até menos mulheres ingressando nesse campo.
Em geral, nas áreas técnicas, as mulheres chegaram à paridade: considerando os diplomados em todos os campos da ciência e da engenharia, a presença feminina foi de 51% em 2004/5, subindo de 39% em 1984/5, segundo a National Science Foundation.
Em contrapartida, em 2001/ 2, somente 28% de todos os diplomas de graduação em ciências da computação foram certificados às mulheres. Em 2004/5, o número caiu para apenas 22%.
Dados coletados pela Computer Research Association revelaram um número menor ainda de mulheres em universidades que desenvolvem pesquisa: 12% dos diplomas da área, nos Estados Unidos e no Canadá, concedidos em 2006/ 7, por instituições com cursos de Ph.D, número menor que os 19% registrados em 2001-2.
Em 1998, quando Spertus conseguiu o seu Ph.D em ciências da computação, as mulheres recebiam 14% das bolsas de doutorado na área. Atualmente, ela é professora-assistente no Mills College e cientista-pesquisadora do Google.
A sua história fortalece a hipótese de Jane Margolis, co-autora de "Unlocking the Club- house: Women in Computing" (destrancando o clube: mulheres na computação), segundo a qual o ambiente familiar influencia nas decisões profissionais.
Margolis afirma que "muitas das garotas que cursam ciências da computação vêm de famílias de cientistas da computação e engenheiros".
Há 25 anos, as ciências da computação, nas faculdades e universidades, atraíam mais mulheres jovens do que hoje em dia. De 1971 a 1983, o número de mulheres que ingressavam no primeiro ano da faculdade com a intenção de se formarem em ciências da computação aumentou oito vezes, de cerca de 0,5% para 4%.
Jonathan Kane, professor de matemática e ciências da computação na Universidade de Wisconsin-Whitewater, lembra-se dos meados da década de 1980, quando as mulheres representavam 40% dos estudantes com ênfase em gerenciamento de sistemas de computação, a segunda especialização mais procurada no campus.
Mas, logo depois, o número de estudantes com ênfase nessa área caiu aproximadamente 75%, o que refletia uma tendência nacional.
E o número de mulheres diminuiu ainda mais. Sua teoria é que as jovens do sexo feminino antes se sentiam à vontade para escolher essa especialização porque a subcultura masculina dos games de ação ainda não tinha surgido.
Para a escritora Justine Cassell, um problema é a figura do maníaco por computação -geek ou nerd. "As meninas ou jovens não querem ser essa pessoa", disse.
Já Spertus considera: "Se as mulheres não quiserem entrar na área de computação, tudo bem. O problema é se houver barreiras artificiais que as impeçam de fazer sua escolha."
Pelo menos, nós sabemos de uma coisa: é possível ter aproximadamente o mesmo número de homens e mulheres nos cursos de ciências da computação. Os cursos, 25 anos atrás, eram basicamente assim.


Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS


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