São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2000

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Para especialistas, inventar é natural

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Há algo de errado em entrar em salas de bate-papo (com ou sem vídeo) com um nome diferente e agir como uma outra pessoa? Não, na opinião de especialistas, para quem isso pode inclusive ser um estímulo para a descoberta da dinâmica da personalidade.
Para Fabiana Maiorino, psicóloga que faz parte do Cimid (Centro de Investigação sobre Mídias Digitais), o que possibilita o exercício dessa liberdade nas salas de bate-papo é a ausência de um vigia -ou seja, a pessoa pode se liberar e se tornar quem quiser.
Segundo ela, não é a rede que provoca esse tipo de atitude: a Internet apenas potencializa um sentimento que já existe.
"A causa principal da necessidade de criação é a própria dinâmica social, que não dá visibilidade para essas pessoas. Na Internet, elas podem usar o anonimato para ter uma personalidade que os outros apreciam", afirma.
Na opinião da escritora Roberta Rizzo, a invenção em salas de bate-papo é uma forma natural de extravasar sentimentos. "E também há o fator fantasia", diz.
Para ela, apenas em casos extremos pode ser constatada uma fuga da realidade.
Ela acredita que as previsões sobre o videopapo -dizendo que ele não "pegaria"- não deram certo. "Você pode vestir um personagem, e aquilo pode ser um grande barato para você."
Rizzo passou dois anos estudando relacionamentos em salas de bate-papo. Depois, escreveu o livro "O Amor na Era da Internet", cuja versão eletrônica está em www.hotbook.com.br.
Já a psicóloga Rosely Sayão, colunista da Folha, acredita que as relações em salas de videopapo, como em um bate-papo convencional, podem servir como uma "ponte de relacionamento", possibilitando o contato entre grupos e pessoas que jamais se conheceriam na "vida real".
Mas ela não acredita que a utilização de salas de bate-papo somente para combinar encontros que saiam do virtual, com fins sexuais, seja tão natural. "É um tipo de comportamento que pouco difere da prostituição", afirma.
"Essa necessidade do prazer imediato demonstra uma característica infantil: o impulso é o que vale", conclui a psicóloga.


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