São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2006

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Homens atuam como mulheres

DA ASSOCIATED PRESS

Durante o dia, Freeman Williams trabalha como recepcionista em um pequeno consultório de dentistas na cidade de Houston, nos EUA. Mas, durante a madrugada, ele perambula por ruas violentas e enfrenta malfeitores no jogo de videogame City of Heroes, assumindo a identidade de seu alter ego on-line: a super-heroína Robotrixie.
"Eu entro na personagem alterando minha voz o tanto quanto permite meu timbre masculino", diz Williams, 48, que conversa com outros jogadores usando o recurso de bate-papo do game. "Isso se transformou na minha catarse, na minha escapatória do mundo do trabalho."

Confusões
Às vezes, diz ele, sua opção de se apresentar com voz feminina provoca alguma confusão entre seus companheiros de fantasia on-line -alguns dos quais chegou a conhecer pessoalmente.
"Uma das pessoas com quem me encontrei on-line era uma mãe de Indiana que ficou bastante intrigada com o fato de eu ser, na verdade, um cara, e de eu estar, na época, jogando com uma personagem feminina", afirmou. "Tive de contar a ela que, na verdade, eu era um cara grande e peludo."
Apesar de a idéia de ultrapassar a barreira que divide os sexos não ser original, o vasto mundo dos games on-line, como os de City of Heroes e de World of WarCraft, se transformou na maneira mais recente de as pessoas esquecerem sua vida real e virarem outro alguém - ou mesmo outra coisa. Esses são, afinal de contas, jogos de interpretação de papéis (RPG, na sigla em inglês).

Criação de personagem
Para muitas pessoas, metade da graça pode estar no processo inicial de criação de uma personagem, quando se determinam as habilidades e o visual básicos de sua identidade digital.
Entre as perguntas centrais que precisam ser respondidas estão: "Eu quero ser um curandeiro ou alguém que fere os outros? Eu prefiro os orcs de pele verde ou os elfos de orelhas pontudas?" E, claro, "Eu quero ser homem ou mulher?".
Por uma série de motivos, Williams não é o único homem que prefere encarnar personagens femininas, revelou Kathryn Wright, uma psicóloga de Raleigh (Carolina do Norte) que realiza consultas para o site WomenGames.com.
Em uma pesquisa informal realizada por Wright com 64 homens, mais da metade deles disse escolher uma personagem feminina no jogo para ter vantagens nas disputas on-line.

Estímulo visual
Enquanto um quarto dos entrevistados afirmou jogar como mulher porque isso lhes acrescentava experiência nos RPGs, outros ofereceram uma explicação mais simples: estímulo visual.
"Eles preferem uma personagem com a aparência da Lara Croft a uma personagem com a aparência do Rambo", afirmou Wright. Erica Poole, 31, secretária em Austin, diz ter elaborado alguns métodos para descobrir os homens disfarçados de mulher nos jogos on-line.
"O fato de eles estarem vestidos com pouca roupa é uma dica importante", afirmou. "E, geralmente, quanto maiores os seios de uma personagem, maior a possibilidade de se tratar de um homem disfarçado."
Cerca de 38% dos consumidores de games dos EUA são mulheres, de acordo com a Associação de Software de Entretenimento. "A maior parte das jogadoras querem, pelo menos, ter a opção de jogar como personagens femininas", disse a professora especialistas em telecomunicações da Universidade de Ohio, Mia Consalvo.
Para as jogadoras, diz ela, tudo se resume às opções disponíveis e à capacidade de evoluir no game. Os homens, por outro lado, apresentam explicações mais óbvias ao escolher sua imagem digital, chamada avatar.
"Os caras querem ter a aparência de uma personagem atraente. E alguns deles juram que conseguem coisas de graça. Outros jogadores apenas gostam de experimentar com todas as diferentes permutações e opções do game."


Tradução de RODRIGO CAMPOS CASTRO


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