São Paulo, segunda, 12 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Otávio Dias de Oliveira/Folha Imagem
Aumento na venda de bilhetes não compensa a queda no preço das passagens aéreas


AVIAÇÃO
Aumento na venda de bilhetes em rota nacional, em 25%, não traz lucro, porque preço das passagens cai 35%
Empresas aéreas devem ter prejuízo em 98

SILVANA QUAGLIO
da Reportagem Local

Há mais gente viajando de avião no Brasil, a partir deste ano, mas isso não se traduziu em lucros para as empresas de transporte aéreo. Ao contrário, as maiores companhias de aviação do país devem fechar o ano com prejuízo.
As empresas já não vinham bem. E, neste ano, com a liberalização das tarifas aéreas, começaram a enfrentar a concorrência de verdade. O problema, segundo o brigadeiro Mauro Gandra, é que enquanto o movimento de passageiros aumentou mais de 25%, até agosto, nas rotas nacionais, os preços caíram em média 35%.
Gandra é o presidente do Sindicato das Empresas Aeroviárias e ex-ministro da Aeronáutica.
Ele concorda com a avaliação de analistas do mercado financeiro, que não vêem motivo para melhorar até dezembro.
"O segundo semestre, que sempre é melhor para as empresas, era a esperança. Mas, agora, nada é animador", afirmou Gandra.
Segundo ele, a chamada guerra das tarifas não pode ser apontada como a culpada por qualquer dificuldade que o setor atravesse.
As empresas fizeram um investimento, reduzindo os preços. Mais de 250 mil passageiros se tornaram usuários de aviões e não querem mais voltar para o seguimento rodoviário, diz Gandra.
"As empresas vivem um grande dilema, pois terão de reduzir o número de vôos que estão dando prejuízo", afirmou Gandra.

Balanços negativos
A TAM foi a única entre as quatro maiores que registrou lucro no primeiro semestre deste ano, de acordo com balanço publicado pela empresa: US$ 7,36 milhões.
A Varig e a Vasp tiveram prejuízo de US$ 170,11 milhões e US$ 36,22 milhões, respectivamente.
Projetando o resultado semestral para o restante do ano, pode-se concluir que é grande a chance de as empresas verem seus lucros reduzidos.
Na TAM, a indicação é que o lucro cairá pela metade com relação ao desempenho do ano passado (lucro de US$ 31,86 milhões).
"Para as empresas, 98 não foi um bom ano", afirmou Mário Alberto Coelho, diretor da Austin Asis -empresa especializada na análise de balanços.
Mais do que problemas com a receita, o custo do endividamento é que aumenta as dificuldades.
Além disso, os balanços têm sido vistos com certa reserva pelo mercado. Exemplos: a inclusão de valor relativo a ganho judicial, ainda não pago, como receita pela Transbrasil, no balanço do ano passado, ou de juros abaixo dos de mercado em dívidas da Varig.
A Transbrasil ainda não publicou o balanço do primeiro semestre. Os números estão passando por uma auditagem e serão publicados no fim do mês, disse o assessor de imprensa, Jorge Honório.
O balanço publicado em março acusou um prejuízo de US$ 51 milhões. Segundo Honório, a empresa deverá zerar tudo o que deve à União (cerca de R$ 600 milhões, de acordo com a Transbrasil) ao término da negociação iniciada há cerca de três meses.
Ainda restariam R$ 400 milhões a receber -isso tudo por conta de decisão judicial que deu ganho à Transbrasil no valor de R$ 1,2 bilhão. A empresa sabe que não conseguirá receber tudo, mas, zerando os débitos com a União, seu balanço deverá ficar em melhor forma, dizem especialistas.
Segundo o brigadeiro Gandra, as empresas ainda poderão sofrer mais com o ajuste fiscal pretendido pelo governo. A Varig tem quase metade do seu movimento no turismo externo, a Transbrasil, 24% (incluindo vôos fretados).



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.