São Paulo, Segunda-feira, 10 de Julho de 2000
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PLANEJAMENTO FINANCEIRO
Mulheres contribuem com a renda familiar controlam gastos e influem nas aplicações
O seu, o meu, o nosso dinheiro

Rogério Albuquerque/Folha Imagem
Renata e Ricardo Alves de Lima dividem as despesas de casa, mas mantêm contas bancárias separadas


PAULA DE SANTIS
DA REPORTAGEM LOCAL


"Ela escolhe até o cartão de crédito que devo usar." É assim mesmo, há 12 anos. A farmacêutica Denise Polato de Lima, 38, administra seu salário e o do marido, o físico Juscelino Ramos de Lima, 44. É ela quem paga as despesas da casa e dos três filhos, cuida dos investimentos, não deixa as contas chegarem ao vermelho e puxa o freio quando o marido gasta demais. "Ele nem vê o dinheiro."
A participação das mulheres nas finanças do lar -com salário e palpites sobre o que fazer com as eventuais sobras- ganha peso a cada dia. É quase consenso a idéia de que elas sempre nortearam a política de gastos da casa. Mas poucos homens confessavam a interferência.
Hoje, além de decidir quanto se gasta na feira, a mulher dá a palavra final na compra de um imóvel, troca de carro sem consultar o marido e escolhe suas aplicações financeiras. A novidade -que poucos maridos admitem- são as mulheres que mandam nos dois salários.
De cada dez famílias atendidas pela Forex Centro Brasileiro de Orientação de Finanças Pessoais, oito têm suas receitas gerenciadas pelas mulheres, quer trabalhem fora, quer não. A experiência do economista-chefe e diretor da Forex, Marcos Silvestre, mostra que quando os dois trabalham, o homem ainda tem a maior renda. "Essa diferença não supera 20%."
A pequena vantagem é suficiente para justificar o fato de o homem ainda arcar com a maior parte das despesas comuns, um resquício do machismo. "O marido fica tranquilo porque ainda é o provedor, e a mulher, aliviada porque não se casou com um banana", explica Silvestre.
O administrador de empresas Ricardo Alves de Lima, 54, ganha 50% mais que a esposa, a publicitária Renata Alves de Lima, 36. Ele arca com 70% das despesas -contas fixas, gastos com lazer e a compra de imóveis. Renata fica com os 30% restantes, mas desconfia da soma.
"Na prática, pago por uma série de coisas que não aparecem. Não há por que cobrar tudo dele", diz. Aí entram a feira, a padaria, o uniforme das filhas, os presentes e miudezas. "Há um grande empenho dela em dividir as despesas", diz Lima.
O casal prefere manter contas e aplicações separadas. "Conta conjunta atrapalha, é preciso ter a cabeça muito parecida", diz Lima. Renata pede opinião ao marido sobre onde investir. Ele não.
"Os investimentos em compra de carro, imóvel de lazer e para aposentadoria costumam ser feitos em conjunto quando a mulher ganha menos ou o mesmo que o marido", diz Silvestre. "Quando a mulher ganha mais, o homem fica acanhado em dar palpite."
Mas sempre que a mulher começa a administrar o salário do marido, como no caso de Denise e Juscelino, os homens não disfarçam sua inquietação. Depois acostumam. Para Denise, tomar conta de tudo é muita responsabilidade. "Preferiria dividir. Mas ele foi deixando e virou hábito", conta. Juscelino passou cinco anos trabalhando em São Paulo e só voltava para casa, em Juiz de Fora (MG), nos fins de semana. "Passei a decidir quase tudo sozinha."
Na hora de investir, não é diferente. Juscelino traz a idéia e cabe a Denise liberar ou não a verba. Antes ela consulta uma série de planilhas no computador, que substituiu o livro de capa laranja, usado para o orçamento no início do casamento, há 15 anos.



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