São Paulo, Segunda-feira, 18 de Outubro de 1999
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INFLAÇÃO
Comece a monitorar os índices de inflação para evitar perdas nos rendimentos das suas aplicações
Veja de onde virá a pressão nos preços

da Reportagem Local

Nos próximos meses, quem tiver dinheiro aplicado no mercado financeiro deverá prestar muita atenção aos índices que medem a inflação na ponta do varejo.
Segundo analistas, as medidas para reduzir os juros ao consumidor, e a queda de 6% para 1,5% do IOF, anunciadas na quinta-feira pelo governo, vão estimular as vendas no varejo e podem abrir uma brecha para que parte da inflação acumulada no atacado deságüe nas prateleiras. E a inflação pode corroer suas aplicações.
Desde janeiro, quando houve a desvalorização cambial, os preços começaram a subir no atacado. Até o final de setembro, o IPA-DI (Índice de Preços no Atacado-Disponibilidade Interna) já acumulava alta de 21,17%.
Esses aumentos ainda não apareceram na maioria dos preços que você paga no balcão. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado), o referencial do governo para fixar a "meta inflacionária", acumula alta de apenas 6,01% naquele período.
"Essa defasagem é indício de inflação reprimida. Os aumentos de preço ainda não foram repassados ao varejo, pois a queda da demanda inviabilizou isso", diz Roberto Padovani, sócio da consultoria Tendências, que tem como pares Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, e Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda. Padovani afirma que a redução dos juros ao consumidor e a recuperação do crédito, com a injeção de R$ 9,6 bilhões na economia, devido ao fim do compulsório para depósitos a prazo, vão recuperar a renda do consumidor, estimular o consumo e o crescimento econômico.
"Taxas maiores de crescimento vão permitir o repasse dos aumentos ocorridos no atacado para os preços finais, o que pressionará a inflação no próximo ano", diz Padovani. Segundo ele, a Tendências já projeta inflação de 8% para o ano 2000. A "meta inflacionária" do governo é de 6% a 8%.

Alimentos
Que a pressão inflacionária existe, a maioria dos economistas e analistas ouvidos pela Folha concorda. Como e quando ela vai começar a aparecer na vida real, entretanto, é um ponto de divergência entre eles e de preocupação para o investidor.
O aposentado Heitor Lacerda, 77, está preocupado com a possibilidade do velho e conhecido dragão torrar parte dos R$ 70 mil que ele tem aplicados em um fundo de renda fixa. "Qual é a melhor aplicação neste momento?"
"Os fundos de renda fixa DI protegem da variação dos juros, o que também reflete a variação da inflação", diz Welber Reis, analista da UAM (Unibanco Asset Management). "Ele pode aplicar 20% do capital em fundos de ações, que seguem o Ibovespa e podem render mais no longo prazo."
Luis Stuhlberger, diretor da Hedging-Griffo Asset Management, diz não acreditar que as medidas de redução dos custos dos financiamentos ao consumidor tenham, no próximo ano, um forte impacto na inflação. "O que está segurando a inflação são os preços dos alimentos", diz.
A concentração do setor de supermercados deu ao varejo poder de fogo para brecar repasses de preços da indústria. Uma análise do IPC da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da USP, e da cesta básica do Procon/ Dieese, feita pela Hedging-Griffo, mostra que os alimentos subiram até setembro apenas 1,6% e 0,4%, respectivamente (veja quadros ao lado). O peso dos alimentos na cesta básica é de 58% e no IPC da Fipe, de 31%. (SANDRA BALBI)





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