São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 2001

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INVESTIMENTOS

Com a queda da taxa de juros, investidor terá de diversificar a carteira e alongar o prazo das aplicações

Juro em baixa favorece aplicação de risco

PAULA PAVON
DA REPORTAGEM LOCAL

Acabou-se o tempo de juros na lua e rentabilidade fácil. Com as sucessivas quedas das taxas de juros, sobraram duas opções: poupar ou consumir. Mas, atenção, porque quem ficar com a primeira alternativa terá de suar a camisa e aceitar correr mais risco para manter uma rentabilidade alta como a proporcionada pela renda fixa nos últimos anos.
O corte na taxa básica de juros da economia para 15,25% ao ano, na semana passada, além de baixar ainda mais o rendimento das aplicações, como fundos DI, poupança e CDBs de curto prazo, confirma a trajetória de queda dos juros esperada pelos analistas para este ano.
"O processo de taxa real (descontada a inflação) altíssima terminou", diz Hugo Penteado, economista-chefe e estrategista da ABN Amro Asset Management. Segundo ele, períodos de juros reais de 15% ou mais, como observados em 99, não voltam mais. A previsão dos analistas é que a taxa básica pode chegar a 13% até o final do ano, o que corresponde a um ganho real de 9%.
Paulo Caricatti, diretor de renda fixa da SSB Citi, afirma que, embora o juro brasileiro ainda esteja em patamar elevado para padrões internacionais, o investidor já deve começar a reavaliar as estratégias de investimento. Isso significa diversificar o portfólio com opções de mais risco e alongar os prazos das aplicações.
"Nesse processo de queda dos juros, o investidor fica mais vulnerável. Uma inflação sazonal maior pode levar a uma taxa real pequena ou até negativa, se ele estiver numa aplicação mais conservadora", diz Caricatti.
Mas, tenha cuidado, porque colocar um "pezinho" em opções de mais risco, como fundos de renda variável e derivativos, não pode ser uma decisão assumida do dia para a noite.
Especialistas aconselham os mais conservadores a começar por alternativas intermediárias, como os fundos que mesclam renda fixa com renda variável, a exemplo dos multicarteiras.
Jorge Luiz Ávila, diretor de fundos da CEF (Caixa Econômica Federal), afirma que a demanda dos investidores aliada à queda dos juros fez com que a instituição acelerasse o lançamento de um fundo multicarteira. "Com a perspectiva de crescimento da economia, o retorno das empresas deve aumentar, fazendo com que o ganho em ações cresça", diz.
Outros novos produtos já estão despontando na indústria de fundos como opções de investimento diante da queda dos juros. Tem alternativas para todos os tipos de investidor.
Há desde fundos que aplicam em títulos da dívida pública de mais longo prazo e que têm melhor rentabilidade, como são os fundos que seguem o IRF-M, até opções mais ousadas, como os fundos com papéis da dívida externa brasileira. Os lançamentos mais recentes, por exemplo, privilegiam as aplicações em euro.
"O investidor deve fazer a transição para investimentos de mais risco lentamente", diz Caricatti. "Só assim ele se familiarizará com as oscilações da cota."

A perder de vista
Para Carlo Moratelli, consultor da MCA Consultoria Financeira, o cuidado número um que o investidor deve ter ao sair de aplicações menos arriscadas para outras mais agressivas é não se esquecer de que o investimento deve ser feito por um prazo mínimo de seis meses.
"Investimento de maior risco pressupõe mais tempo de aplicação, o que é uma cultura muito diferente da do "overnight" (aplicações de um dia) na qual o brasileiro estava acostumado", afirma.
Para Gilberto Poso, diretor da Lloyds Asset Management, o investidor já vem se acostumando a um alongamento gradual de seus investimentos. "Uma mostra disso é o crescimento de produtos de previdência nos últimos anos."
Dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento) mostram que o número de fundos de previdência saltou de 65, em 99, para 136, em 2000.


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