São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 2001

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CÂMBIO

Analistas dizem que cotação da moeda americana deve terminar o ano em torno de R$ 2,00, com ganhos de 6%

Menos volátil, dólar é descartado como bom investimento

PAULO HENRIQUE DE SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você não tem dívida em dólar nem pretende viajar ao exterior, risque a moeda americana da lista de alternativas de investimento para 2001. Pelo menos é o que recomenda a grande maioria dos especialistas em investimentos.
Sul América Investimentos, banco JP Morgan, corretora Hedging-Griffo, Lloyds e banco Prosper concordam que a cotação do dólar deva fechar o ano em torno de R$ 2,00. Isso se a economia mundial não apresentar nenhum sobressalto, como uma recessão forte nos Estados Unidos ou problemas mais sérios na Argentina.
"Não vejo espaço para ganhar dinheiro com dólar", diz o economista-chefe da Sul América Investimentos, Luiz Carlos Costa.
A economista-chefe da LAM (Lloyds Asset Management ), Gina Baccelli, comenta que a perspectiva do dólar para este ano, como investimento, é exatamente a oposta daquela do ano passado.
O cenário é diferente. Baccelli lista pelo menos dois fatores que influenciaram o câmbio no Brasil, em 2000: a alta dos juros nos Estados Unidos e a baixa das Bolsas americanas. Isso afetou os mercados emergentes, como o Brasil. O resultado foi um dólar forte, principalmente no segundo semestre.
"Passamos o ano inteiro recomendando a compra de dólar", lembra Baccelli.
Já neste ano, ela calcula que o investimento em dólar renderá menos do que o CDI (Certificado de Depósito Interbancário). "Não seria aplicação para o ano inteiro", avalia Baccelli.
Para ela, o dólar só passa a ser atrativo do ponto de vista de investimento se cair a R$ 1,90.
O gestor de fundos de investimentos do banco Prosper Cláudio Freitas considera a atual cotação do dólar, em torno de R$ 1,95, como o piso para este ano.
A economista da LAM lembra que, no ano passado, alguns investimentos em dólar renderam próximo a 20%. Um levantamento feito pelo LabFin/ USP (Laboratório de Finanças da USP) demonstra que a média de rendimento dos dez melhores fundos cambiais do ano passado foi de 19,45%. Já a média dos 56 fundos dessa categoria foi de 15,72%.
O sócio e assessor de investimentos da corretora Hedging-Griffo, Marco Aurélio Abrahão, avalia que, com a queda dos juros básicos, o dólar até poderia ser vantajoso este ano. Mas o melhor mesmo, na avaliação dele, vai ser o comportamento da Bolsa. "Aconselho a quem está fora botar um pé em renda variável."

Dinheiro de fora
As análises de que o dólar deverá chegar ao final do ano cotado por volta de R$ 2,00 são todas baseadas em um cenário positivo: economia americana desacelerada, mas não propriamente em recessão, e Argentina com situação econômica sob controle.
Os analistas também contam com a entrada de dólares. Luiz Costa, da Sul América, lembra que as estimativas são de que os investimentos diretos no país devam ficar entre R$ 28 e R$ 30 bilhões, suficientes para financiar o déficit em conta corrente (resultado de todas as transações do país).
A entrada de dólares manteria mais ou menos estável a cotação da moeda americana. O dinheiro viria da privatização de empresas, como a Cesp Paraná, de energia elétrica, e de empresas que vão disputar as licitações de telefonia celular das bandas C, D e E.
Freitas, do Prosper, considera "suspeita" a versão de que vai haver uma entrada maior de dólares. "O mercado de dólar não está refletindo isso."

Intervenção
A incógnita deste ano vai ser até que ponto o governo vai influenciar na cotação da moeda americana. O Tesouro Nacional tem anunciado que poderá comprar até US$ 3 bilhões para pagar juros da dívida externa.
"Isso não é normal, o mercado está achando que o BC (Banco Central) está desconfortável com a atual cotação e quer o dólar mais caro", comenta Freitas.
Mas por que interessaria ao governo um dólar mais valorizado? É que ele precisa fechar as contas no final do ano. A desvalorização do real favorece as exportações e leva a um melhor resultado da balança comercial - que é só uma das contas do balanço de pagamentos.
"Essa história de o Tesouro comprar dólares não foi digerida pelo mercado. Ao contrário do que diz o governo, isso não é comum, não", diz Freitas. Ele lembra que a última vez em que o Tesouro comprou dólares foi após a desvalorização cambial, no início de 1999, para recompor as reservas cambiais.
Na avaliação de Freitas, o governo concluiu, ao longo do ano passado, que a parte da desvalorização que é repassada à inflação é muito baixa. "Assim, o governo resolve uma série de problemas, como o déficit de 4% em conta corrente."


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