São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2000


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CENÁRIO
Analistas revêem projeções para 2000 e esperam mais volatilidade nos mercados; proteja suas aplicações

Na turbulência, fundo DI é porto seguro

Eduardo Marques/Folha Imagem
Johni Lucas da Silva, que está preocupado com suas economias


SANDRA BALBI
EDITORA DO FOLHAINVEST

Pronto: a reunião do Fed, o banco central dos EUA, passou, os juros subiram 0,5 ponto percentual - como o mercado já esperava- e agora os investidores podem descer da gangorra e respirar aliviados. Certo? Errado.
Respire fundo, pois nesta quarta-feira haverá reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) e será a vez de mais uma decisão - já esperada- de manutenção dos juros internos. Em junho, haverá outra reunião do Fed e assim você, investidor, continuará vivendo de solavanco em solavanco, de expectativa em expectativa. Até quando?
As opiniões de economistas e analistas do mercado financeiro divergem. Alguns acreditam em melhoria do quadro no segundo semestre, outros esperam tempos piores. Mas a maioria concorda que o tom do cenário deixou de ser róseo, como o que se apregoava no início do ano, quando se previam ganhos de 30%, em dólar, na Bolsa e juros declinantes, de 16% ao ano.
Os próximos meses, dizem alguns analistas, estarão numa tonalidade entre cinza e menos cinza. Por isso instituições financeiras e empresas de consultoria estão revendo suas projeções para 2000 (leia quadro abaixo).
"Daqui até o final do ano, prepare-se. A volatilidade vai continuar alta, até maior do que a atual. A Bolsa pode cair mais, os juros no mercado futuro já estão batendo nos 20% ao ano e isso vai pressionar o câmbio", diz Walter Mundell, presidente da LAM (Lloyds Asset Management).
O economista Luis Paulo Rosenberg, da Rosenberg & Associados, acredita que até o final do ano haverá um ajuste no câmbio. "A taxa de câmbio real do Brasil está valorizada em relação às moedas de países como Argentina ou Alemanha", diz (veja gráfico). "Isso deverá ser corrigido pelo mercado até o final do ano."
Mundell recomenda que a decisão de investimento, neste momento, privilegie a preservação do capital e não a rentabilidade. "As pessoas devem começar a se preparar para viver tempos mais difíceis até o final deste governo. A renda fixa pós-fixada (fundos DI) é o melhor abrigo", diz Mundell. "O investidor também deve buscar alguma proteção cambial." Aplicar em Bolsa, na opinião dele, nem pensar. "Mesmo que as ações estejam baratas, não vale a pena correr o risco, pois o cenário internacional é desfavorável ao Brasil", diz.
Segundo ele, há um movimento mundial de aumento dos juros, o que torna os países dependentes de recursos externos, como o Brasil, muito vulneráveis. Isso tem feito a Bolsa chacoalhar e a curva de juros decolar, ao sabor das flutuações do mercado americano.
"A história recente do país recriou a vulnerabilidade externa, com o aumento do déficit do balanço de pagamentos, que é o resultado das contas externas do país", diz Antônio Corrêa de Lacerda, vice-presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).
No início do Plano Real, esse déficit era de cerca de US$ 1,5 bilhão, hoje está em torno de US$ 24 bilhões. Para atrair recursos de fora e financiar esse rombo, segundo Lacerda, o governo tem de manter os juros altos.

Contramão
Para o diretor da Schroder Investment Management, Walter Mendes, "os fundamentos da economia estão bons", e a volatilidade deverá diminuir no segundo semestre. Ele acredita em valorização de 20%, em dólar, da Bovespa neste ano. "Aos primeiros sinais de que a política do Fed está dando certo, o mercado reagirá."
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo considera parcial tal análise. "Ao falar em "bons fundamentos", os analistas estão olhando apenas o ajuste feito nas contas do governo", diz Belluzzo. Segundo ele, a comunidade financeira internacional se deu conta de que o problema brasileiro está no balanço de pagamentos. "Resolver a questão fiscal não é suficiente para promover o crescimento."
Apesar das projeções de aumento de 3,5% a 4% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas num país) neste ano, ele não acredita que isso se repita nos próximos anos. "Para manter esse crescimento, é preciso investir em aumento da produção e da exportação", diz.
Para Ricardo Carneiro, professor do Instituto de Economia da Unicamp, um dos nós que negam os "bons fundamentos" da economia é o resultado da balança comercial. "A única forma de o país depender menos dos humores do mercado externo é ter uma inserção exportadora melhor. No entanto a composição da nossa pauta de exportações e sua destinação não ajudam." O maior peso da pauta é de commodities, cuja demanda cresce pouco e derruba os preços. Além disso, nos últimos anos, o eixo das exportações se deslocou dos países ricos para os pobres, reduzindo as vendas.


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