São Paulo, Segunda-feira, 30 de Agosto de 1999
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CÂMBIO
Para Alcindo Ferreira, ex-diretor do BC, eleições na Argentina não devem provocar mudanças
Câmbio está sob controle, diz consultor


GUSTAVO CHACRA
da Reportagem Local

O Banco Central tem condições de colocar a cotação da taxa de câmbio no patamar que bem entender. Por isso, não terá dificuldades de atingir a meta de R$ 1,75 por dólar até o final do ano acertada com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
É o que afirmou o consultor Alcindo Ferreira, que trabalhou no Banco Central durante 20 anos, tendo dirigido a área de câmbio da instituição entre 93 e 94.
Otimista, Ferreira, que, no início da década, chegou a trabalhar ao lado do atual presidente do Banco Central, Armínio Fraga, diz que o cenário político no Brasil não está ruim, mesmo com os altos índices de reprovação ao governo de FHC. "É algo sazonal, não há motivos para pânico."
As eleições de outubro na Argentina, para o consultor, não trarão mudanças no câmbio. "Estive recentemente em Buenos Aires, e lá todos dão como certa a vitória de Fernando de La Rua, que, apesar de pertencer à oposição, já prometeu não alterar a política monetária do país."
Segundo o ex-diretor do BC, no entanto, a desvalorização do real foi desastrosa, pois não beneficiou ninguém. "Nem as exportações aumentaram." Foi, na sua opinião, uma vitória dos desenvolvimentistas sobre os monetaristas. "A medida foi equivocada, pois não é função do BC produzir desenvolvimento. Quiseram privilegiar as exportações, mas isso não adianta."
Ao comentar o câmbio livre, Ferreira foi enfático: "Só quando o Brasil tiver um equilíbrio fiscal", disse o consultor, acrescentando que o governo está realizando as reformas dentro do prazo esperado. "A Inglaterra demorou oito anos para concluir a reforma previdenciária", ressaltou. Para o consultor, o Brasil é o país que, com um imenso mercado a ser explorado, tem mais chances de ficar rico.
A seguir, o debate entre Alcindo Ferreira e os participantes da palestra.

Pergunta - Qual a possibilidade de chegarmos a R$ 1,75 por dólar, como impõe o FMI?
Alcindo Ferreira -
O BC pode colocar a taxa de câmbio onde bem entender. O fluxo de dólares é absolutamente controlável no país. Nada impede que o BC fixe um limite.

Pergunta - O BC terá controle da situação de câmbio?
Ferreira -
Sim, no momento em que houver um número de consenso.

Pergunta - Qual é o custo de o BC controlar o câmbio?
Ferreira -
Se conseguirmos um equilíbrio fiscal, a moeda estrangeira será apenas mais um mecanismo de política monetária.

Pergunta - O câmbio está refém das metas de inflação?
Ferreira -
Com toda essa desvalorização, o efeito câmbio na inflação foi quase nulo.

Pergunta - Qual a sua avaliação sobre o cenário interno?
Ferreira -
Estou otimista. O presidente está firme. Só poderia cair se acontecessem eleições. A base política está aí. Não é como no governo Sarney. A impopularidade de FHC é sazonal.

Pergunta - Os mercados internacionais enxergam o país assim?
Ferreira -
Enxergam, mas pode haver uma indisposição com a CPMF. Isso atrapalharia.


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